Repórter de Negócios
Publicado em 25 de março de 2025 às 16h17.
Última atualização em 25 de março de 2025 às 17h55.
Milhões de trabalhadores com carteira assinada correram para simular empréstimos nos últimos dias. O motivo: a chegada do consignado privado, uma nova modalidade de crédito para quem é trabalhador com carteira assinada.
Desde a última sexta-feira, o aplicativo mais baixado no país — tanto na Apple Store quanto no Google Play — é de uma fintech nascida no interior do Rio Grande do Sul.
O Agibank foi um dos primeiros a operar na nova modalidade de crédito. E em menos de uma semana, já realizou mais de 10 milhões de simulações, o equivalente a 25% do total de simulações feitas no mercado desde o lançamento do novo modelo.
O momento marca uma virada para o Agibank. Até aqui, a fintech era conhecida por atuar majoritariamente com crédito consignado INSS, voltado a aposentados e servidores. Agora, quer repetir a fórmula com os 47 milhões de trabalhadores com carteira assinada.
“Estávamos com a plataforma pronta e já tínhamos todas as conexões com o Dataprev. Fizemos adaptações rápidas e conseguimos escalar”, afirma Glauber Corrêa, CEO do Agibank.
A meta é clara: ser o principal originador da nova linha de crédito. E, ao que tudo indica, o Agibank já largou na frente. Em volume, é a instituição mais ativa na modalidade até agora, ao lado da Parati. Entre os grandes bancos, só a Caixa Econômica aparece nos dados do J.P. Morgan sobre o início da operação.
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O crédito consignado privado permite que trabalhadores do setor privado com carteira assinada tomem empréstimos com desconto em folha. Na teoria, isso reduz o risco para as instituições financeiras — e, por consequência, os juros. Na prática, o desenho do sistema ainda tem lacunas, o que exige cautela de quem opera em larga escala, e o que pode justificar a falta de grandes bancos na jogada.
“Estamos numa primeira fase. Ainda falta clareza sobre a estrutura de garantias, como o rastreamento de verbas rescisórias e o débito em caso de mudança de emprego. Isso impacta diretamente na precificação”, diz Corrêa.
Por enquanto, as ofertas do Agibank estão concentradas em clientes com maior nível de informação. Para esse grupo, a taxa chega a 1,99% ao mês. A maioria das propostas, no entanto, gira entre 2% e 2,99% ao mês — ainda abaixo da média do mercado, segundo o executivo.
A vantagem competitiva do Agibank está na infraestrutura digital.
O banco já operava com um motor de ofertas capaz de cruzar dados e personalizar propostas. Com o novo modelo, ajustou processos, integrou sistemas e aumentou a capacidade de atendimento.
“Nosso app chegou a ter dezenas de milhares de downloads por minuto. Se o motor de ofertas antes trabalhava com centenas de requisições, agora precisa responder a dezenas de milhares. Não dava para simplesmente virar a chave”, afirma.
Para dar conta, o Agibank combinou sua atuação digital com canais físicos. Hoje, parte relevante da conversão de crédito acontece presencialmente, mesmo após o cliente simular pelo aplicativo.
“Nosso modelo híbrido ajuda a maximizar valor. Muitos simulam no digital, mas concluem em uma de nossas lojas ou numa conversa direta com o cliente”, diz Corrêa.
O crédito consignado privado é mais uma peça na estratégia de crescimento do Agibank. A fintech tem avançado cerca de 50% ao ano, segundo Corrêa, e vê na nova modalidade uma alavanca relevante para manter esse ritmo.
“Não damos guidance, mas os resultados estão alinhados com nosso planejamento. Com a abertura geral da modalidade, a expectativa é que esse canal se consolide como pilar do nosso negócio”, afirma.
Apesar do volume, o CEO reconhece que ainda há muito a ser refinado. O principal gargalo, segundo ele, está na alta quantidade de simulações com baixa conversão. Isso acontece porque, na primeira fase, só estão aptos os trabalhadores com carteira assinada sem dívidas ou sem dívidas com garantia — como crédito pessoal e cheque especial. O jogo deve mudar em 25 de abril, quando esses clientes também entrarão na jogada.
“Tem cliente simulando de madrugada. São centenas de milhares de simulações fora do horário comercial. Mas boa parte não está elegível ainda. Com o tempo, isso vai melhorar, porque o programa será aberto a mais perfis”, afirma Corrêa.
Outro desafio será garantir estabilidade para manter a escalabilidade. Com 10 milhões de simulações feitas e o app liderando os rankings de download, o Agibank aposta que o crédito consignado privado será um divisor de águas — para o mercado e para a própria empresa.