Greta Paz, fundadora da Eyxo: “Empreender é uma montanha-russa: em uma semana tudo dá certo e parece possível conquistar o mundo; na outra, a dúvida é se estamos no caminho certo”
Jornalista especializada em carreira, RH e negócios
Publicado em 24 de outubro de 2025 às 11h00.
O balé foi a primeira grande escola da gaúcha Greta Paz. Durante mais de dez anos, treinou seis vezes por semana e, aos 12, começou a participar de competições pelo Brasil. A rotina intensa a privou de muitos lazeres, mas trouxe disciplina, coragem e determinação. Também ensinou a lidar com frustrações, já que nunca foi solista nem a primeira bailarina, e recebeu mais não do que sim. “A dança tem muitos dos ingredientes que me tornaram a empreendedora que sou hoje. Aprendi que obstáculos e negativas fazem parte do caminho, mas é possível avançar”, afirma.
Tendo como base esse repertório e o exemplo da família que sempre empreendeu, fundou a primeira empresa aos 21 anos. Um tempo depois, divergências societárias a fizeram deixar o negócio e partir para outra empreitada, que deu origem a Eyxo, agência independente de conteúdo que constrói estratégias para marcas. Fundada em 2018, atua em todo o Brasil e mantém operações no México, Argentina, Colômbia, Egito e Austrália, com colaboradores dessas nacionalidades. Entre os clientes estão 99, Zé Delivery e Stone. A perspectiva é alcançar R$ 40 milhões de faturamento em 2025 – valor referente apenas a serviços de comunicação, sem considerar o volume de mídia.
Formada em Jornalismo, iniciou a carreira em televisão, com passagens por SBT e Fox. A ideia era ter algo próprio mais tarde, depois de adquirir bagagem profissional e experiência. A veia empreendedora bateu mais forte e ao enxergar uma necessidade do mercado, criou uma produtora voltada a estratégias empresariais para YouTube – algo pouco falado na época. “Sair da sociedade foi difícil, sofrido. Abri mão de algo que estava dando certo, não de uma companhia que precisou fechar”, conta. Ela ressalta que a decisão foi motivada por desalinhamento de visões. “Tínhamos olhares muito diferentes em relação ao futuro. Preferi recomeçar.”
Com os aprendizados do negócio anterior, entendeu a importância de alinhar valores e formalizar acordos claros entre sócios desde o início. Assim, a Eyxo nasceu mais estruturada, com um propósito definido, rede de contatos fortalecida e processos de governança já estabelecidos. “O planejamento começou com uma pergunta: o que desejo entregar ao mundo? Empreender, para mim, não é apenas gerar resultado, mas contribuir com outras frentes”, afirma Greta. A agência conquistou em menos de um ano a certificação global B, reconhecimento concedido a organizações que atendem a padrões de desempenho social e ambiental.
Entre as iniciativas está o olhar atento à diversidade, que é vista como uma causa. Entre os 170 funcionários, a maior parte da liderança é composta por mulheres, 46% dos funcionários são LGBTQIAP+ e cerca de 30% se autodeclaram pretos. Há também um programa de letramento sobre impacto positivo, com uma prova chamada BEnem, que levou as pessoas com as notas mais altas ao Encontro B, pré-COP30, que aconteceu em setembro na Amazônia. Em 2023, durante as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul, a empresa liberou funcionários para atuar como voluntários por um mês.
Para estruturar uma sociedade sólida, a empreendedora buscou desde o início profissionais alinhados em valores, objetivos e ritmo de dedicação. A confiança, a admiração mútua e a complementaridade de competências também foram pontos importantes. Para evitar surpresas no caminho, foi firmado um acordo detalhado entre os sócios, definindo papéis, percentuais e formas de tomada de decisão em momentos de crise. Com essa base consolidada, ela também contou com mentores ao longo da trajetória, principalmente em áreas como finanças e jurídico, e mantém até hoje uma rede de conselheiros próximos.
Um impulso significativo veio durante a pandemia. Apesar de todas as dificuldades e medos da época, a agência – que era colocada na “caixinha” de um negócio regional, como explica Greta –, começou a atravessar fronteiras. “Quando todos foram ‘para uma tela de computador’, conseguimos furar a bolha local e conquistamos grandes clientes”, conta. Quando a situação se normalizou, a operação chegou a São Paulo e expandiu para a América Latina. Recentemente avançou para mercados como Egito e Austrália.
O crescimento, no entanto, trouxe algumas dores: a dificuldade de acompanhar individualmente cada colaborador, os dilemas culturais da internacionalização e o desafio de adaptar a comunicação interna a diferentes idiomas. A trajetória, reforça, nunca é linear. “Empreender é uma montanha-russa: em uma semana tudo dá certo e parece possível conquistar o mundo; na outra, a dúvida é se estamos no caminho certo.”
Quando decidiu empreender, mergulhou em estudos e leituras, adotando fórmulas corporativas para o sucesso da linha “trabalhe enquanto eles dormem”. Havia duas razões para isso: a ausência de conteúdos sobre empreendedorismo na faculdade de jornalismo e, sobretudo, a sensação de que, como mulher, precisava sempre provar mais, como se nunca estivesse realmente pronta. A síndrome da impostora a levou a trabalhar além da conta em busca de merecimento. O resultado foram dois episódios de burnout.
Desses aprendizados nasceu uma mudança de postura. Hoje, faz questão de estabelecer limites claros entre vida pessoal e profissional. Criou disciplina de horário e incentiva o time a fazer o mesmo. “Paro de trabalhar às 18h e quero que o time também encerre o expediente nesse horário. Reforço que a vida no trabalho é muito legal, que amo o que faço, mas a vida fora do trabalho é incrível.”
Sobre conselhos, é cautelosa, pois cada um tem sua jornada, repertório e contexto. Ainda assim, destaca dois pontos: construir bases sólidas desde o início porque ‘consertar’ depois é muito mais difícil, e a importância de se atentar às referências que consome. “Analise se o discurso está te fazendo bem, não se compare e cuide de quem são suas inspirações.”