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Ex-Nasdaq, startup de IA brasileira compra empresa do Grupo Boticário

Aquisição marca novo movimento da Semantix após saída da bolsa americana e reforça plano de expansão no setor de IA com foco no mercado brasileiro

Leonardo Santos, da Semantix: "A chegada da GAVB é um marco importante na nossa jornada de crescimento e foco no core business" (Semantix/Divulgação)

Leonardo Santos, da Semantix: "A chegada da GAVB é um marco importante na nossa jornada de crescimento e foco no core business" (Semantix/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 13 de novembro de 2025 às 09h49.

Leonardo Santos passou a última década tentando convencer empresas brasileiras de que dados e inteligência artificial poderiam transformar seus negócios.

Agora, depois de abrir e fechar capital na Nasdaq, ele aposta numa nova fase para a Semantix, a deep tech que fundou em 2010: consolidar o mercado de IA nacional, de olho em setores críticos como saúde, finanças e telecomunicações.

O novo passo nesse caminho acaba de ser dado com a compra da GAVB, empresa de tecnologia especializada em dados e inteligência artificial, até então controlada pelo Grupo Boticário.

A aquisição é o mais recente movimento de retorno definitivo da Semantix ao Brasil, e o início de uma estratégia de crescimento via aquisições — algo que Leonardo já vinha sinalizando desde que recomprou as ações da empresa no mercado americano, em 2024.

"A chegada da GAVB é um marco importante na nossa jornada de crescimento e foco no core business", afirma o CEO. "A combinação de competências amplia nossas ofertas de soluções e reforça nossa capacidade de gerar impacto nos negócios."

O plano é claro: transformar a Semantix em uma potência de IA 100% brasileira, mirando 1 bilhão de reais em receita até 2030. Para isso, a empresa precisa multiplicar por mais de oito vezes sua receita projetada para 2025, estimada em 120 milhões de reais.

Como um brasileiro criou a primeira deep tech da América Latina

Leonardo Santos fundou a empresa após uma imersão no Vale do Silício em 2008, onde viu de perto como Facebook e Airbnb estavam criando novas arquiteturas de dados.

Voltou ao Brasil com a convicção de que grandes empresas nacionais precisariam, em breve, da mesma estrutura — e decidiu construir isso localmente.

“Voltei em 2009 com esse espírito. A gente começa a Semantix com o objetivo de ajudar grandes empresas brasileiras a processar dados. Foi ali que começou o big data no Brasil”, afirma.

Nos primeiros anos, a empresa desenvolveu soluções baseadas em plataformas open source, até criar sua própria propriedade intelectual. A estratégia atraiu investidores como o Bradesco, que embarcou na tese desde o início.

A expansão veio com aquisições: empresas de algoritmos de varejo, dados de saúde e integração de sistemas.

“A gente entendeu que 70% dos problemas em IA estão na engenharia de dados. Então fomos para a base: como integrar, limpar e governar esses dados”, afirma Santos. A tese era simples — sem dado limpo, não há IA que funcione.

Em 2020, com a digitalização acelerada pela pandemia, a empresa triplicou de tamanho e passou a ser cortejada por fundos e compradores estratégicos. Decidiu então abrir capital via SPAC, uma alternativa mais rápida para acessar a Nasdaq. Em 2022, a Semantix estreava com valuation de 1 bilhão de dólares. O timing parecia certo. Mas a janela não durou.

“Manter uma empresa pública custa entre 25 e 30 milhões de reais por ano. Num cenário geopolítico instável, com inflação e capital escasso, isso deixou de fazer sentido. Era hora de voltar”, diz o executivo.

Enquanto ficou na Nasdaq, as ações sofreram uma desvalorização de cerca de 87% do valor.

A nova fase da Semantix e o foco total no Brasil

A decisão de sair da Nasdaq foi acompanhada por um processo de reestruturação interna.

Santos reassumiu o comando executivo, reorganizou as áreas e retomou o que chama de “modo fundador”.

“Crescer a qualquer custo não faz mais sentido. A gente precisa ser caixa-positivo, com propósito e eficiência”, diz.

A empresa agora está listada apenas no balcão americano e opera com capital fechado no Brasil.

O foco é atuar com grandes contas, oferecendo uma plataforma completa — da engenharia de dados até a IA aplicada — para setores que exigem governança, segurança e compliance.

Entre os produtos está a Lloro, uma IA treinada em português e pensada para empresas reguladas. “Não estamos aqui para fazer mágica com dado público. A gente atende empresas que precisam de eficiência real”, afirma Santos.

Por que a compra da GAVB importa

A aquisição da GAVB representa mais do que um movimento de expansão técnica.

A empresa traz para a Semantix uma equipe altamente especializada e atuação em projetos complexos de dados e IA — além de complementaridade em carteira de clientes e presença regional, especialmente no Sul do país.

A GAVB era uma empresa controlada pelo Grupo Boticário, com histórico de entregas em soluções de alto valor agregado.

Sua integração à Semantix amplia a capacidade de entrega e suporte local, além de reforçar a tese de que a inteligência artificial no Brasil precisa estar conectada a quem entende da infraestrutura dos dados.

Segundo Santos, esse é só o começo.

“A gente vai continuar com uma pipeline ativa de potenciais alvos, especialmente para complementar tecnologia, adquirir talento ou entrar em novos mercados verticais”, diz.

Os planos de crescimento até 2030

Com a aquisição da GAVB, a Semantix acelera a construção de um ecossistema proprietário de dados e IA. O plano inclui novos M&As, expansão em verticais como saúde, finanças e telecom — e entrada em mercados menos explorados, como agro e varejo.

A expectativa da empresa é terminar 2025 com 120 milhões de reais em receita, mantendo ritmo de crescimento de dois dígitos. O grande objetivo, no entanto, é escalar esse número para 1 bilhão de reais até o fim da década. “O pior passou. Agora vamos ter um ciclo de capital mais barato e mais interesse em empresas que geram valor real”, diz o fundador.

Santos também atua na formulação do PL da IA no Brasil, como presidente da ABRIA, e vê o avanço regulatório como parte da disputa estratégica. “IA é soberania nacional. O Brasil precisa construir seus próprios modelos e sua própria inteligência. A gente está ajudando a escrever essa história.”

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