Zhang Fan, VP global de Pesquisa e Desenvolvimento da GAC: "Estamos na fase de transição dos protótipos para a linha de produção dos carros voadores. As primeiras entregas estão previstas para o final de 2026 ou início de 2027" (GAC/Divulgação)
Repórter
Publicado em 31 de março de 2025 às 08h01.
Última atualização em 31 de março de 2025 às 13h35.
A montadora chinesa GAC está intensificando seus investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) para consolidar sua presença global e expandir sua atuação - inclusive no Brasil, com portfólio de carros elétricos, híbridos e à combustão. Em entrevista exclusiva à EXAME, Zhang Fan, vice-presidente de Pesquisa e Desenvolvimento da GAC, revelou que a empresa já investiu 50 bilhões de yuans (aproximadamente 25 bilhões de reais) em inovação, com mais de 19.000 pedidos de patentes, desde a criação do centro de pesquisa em 2006, na China. No Brasil, a companhia irá destinar R$ 120 milhões para iniciativas de pesquisa e desenvolvimento, buscando fortalecer a inovação local.
“O Brasil tem um grande potencial pelo tamanho do seu mercado e pela diversidade de consumidores, e queremos contribuir com inovação e tecnologia de ponta”, afirma Zhang Fan.
Com uma sede robusta de P&D em Guangzhou, na China, e quatro estúdios satélites pelo mundo, a GAC já está posicionada estrategicamente para avançar nos mercados globais. Os centros de design estão localizados em Los Angeles (Estados Unidos), e Milão (Itália), enquanto as unidades de pesquisa tecnológica ficam em Xiamen e Xangai, (China). Anteriormente, a empresa possuía centros de pesquisa no Vale do Silício e em Detroid (Estados Unidos), mas a instabilidade nas relações comerciais entre China e Estados Unidos, especialmente durante o governo de Donald Trump, levou ao encerramento dessas operações.
Agora, o Brasil desponta como um dos mercados mais promissores para a empresa. "Definitivamente queremos entrar no mercado brasileiro este ano. Ainda não podemos revelar detalhes, mas estamos preparando novidades", disse Zhang Fan.
A GAC já estabeleceu em 2024 parcerias com universidades brasileiras para aproveitar o talento local e adaptar suas tecnologias às necessidades do país.
Inicialmente, a GAC operava como uma joint venture, produzindo veículos em parceria com grandes marcas, como Honda e Toyota, para o mercado chinês. No entanto, Zhang Fan conta que em vez de se manter dependente dessas colaborações, a empresa decidiu investir em pesquisa e desenvolvimento (P&D) para criar seus próprios produtos e sua própria marca global.
Entre os projetos inovadores e recentes da GAC está o desenvolvimento de carros voadores. A companhia já lançou dois protótipos: o primeiro, apresentado em 2023, foi um modelo de uma turbina capaz de voar por 30 minutos com alcance de 30 km. O segundo, nomeado Airjet, comporta até três passageiros e tem autonomia de 260 a 300 km.
"Estamos na fase de transição dos protótipos para a linha de produção. As primeiras entregas estão previstas para o final de 2026 ou início de 2027", afirma o executivo.Uma das metas da montadora é atingir a neutralidade de carbono até 2050 – algo que está alinhado às metas ambientais da China. Para isso, Zhang Fan afirma que a GAC investe na produção de veículos elétricos e híbridos, o que pode reduzir as emissões de poluentes. A marca de carros elétricos, AION, por exemplo, já tem se destacado no mercado da China, sendo utilizada inclusive por serviços de mobilidade urbana, como táxis e aplicativos de transporte.
"Nosso desafio agora é levar essa tecnologia para outros mercados e ajudar os governos locais a impulsionarem a eletrificação", afirma Zhang Fan.
Apesar do carro elétrico ser uma promessa das grandes potências mundiais para diminuir o impacto no meio ambiente, há um grande desafio quando o assunto é a eletrificação de veículos no mundo: a recarga rápida das baterias. Para se destacar neste mercado, a GAC anunciou recentemente que seu novo modelo HYPTEC HT contará com tecnologia avançada de carregamento, permitindo que o veículo ganhe 300 km de autonomia em apenas 5 minutos.
"Nosso objetivo é fazer com que os carros elétricos sejam recarregados mais rápido do que um carro a combustão abastecendo em um posto de gasolina", conta Zhang Fan.
No entanto, ele reforça que a infraestrutura de carregamento precisa evoluir em diversos mercados para que essa tecnologia seja amplamente adotada aos clientes.
“Os países precisam investir e modernizar suas redes elétricas, expandir a infraestrutura de recarga e criar políticas para facilitar a adoção de veículos elétricos ultrarrápidos. Sem isso, mesmo com a tecnologia disponível nos carros, o carregamento em tempo recorde não será viável para os consumidores”, afirma o executivo que lidera o setor de P&D da GAC na China.
Sede do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da GAC, em Guangzhou, na China (GAC/Divulgação)
Mesmo sem os EUA como mercado-chave, Zhang Fan reforça que a GAC segue otimista com sua expansão global. Ele vê Brasil, América Latina e outros países emergentes como grandes oportunidades para a empresa crescer, especialmente com a demanda crescente por veículos elétricos.
“Nosso plano para os Estados Unidos não funcionou, mas ainda temos muitas oportunidades no resto do mundo”, afirma. “"Nosso foco é desenvolver tecnologias avançadas, mas sem envolver componentes sensíveis a restrições políticas. O verdadeiro desafio está em encontrar o equilíbrio certo entre custo, tecnologia e demanda local", afirma.
Para Zhang Fan, a indústria automotiva está mudando rapidamente, mas especialmente na China.
“A eletrificação, por exemplo, não está desenvolvida tão rápida como na China, mas eu vejo isso como uma tendência. Não podemos só ficar como estávamos antes, desenvolvendo custos por meio do petróleo. Acredito que as jovens gerações estão aprimorando a nova tecnologia para apoiar um amanhã mais verde”, afirma.
A GAC Motor, quinta maior montadora chinesa, no final do ano passado anunciou que irá expandir suas operações para o Brasil com um investimento de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 6 bilhões) ao longo de cinco anos. A empresa pretende construir uma fábrica no país em 2025 e lançar inicialmente veículos elétricos, seguidos por modelos híbridos. A meta é vender 80 mil unidades até 2030 e transformar o Brasil em sua base para a América Latina.
Sob a liderança de Alex Zhou, CEO da operação brasileira, a montadora já instalou seu escritório no Morumbi, em São Paulo, e iniciou parcerias estratégicas. Um dos principais focos é a pesquisa e desenvolvimento, com um aporte de R$ 120 milhões em colaboração com as universidades UFSC, Unicamp e UFSM. Os projetos incluem a adaptação de motores flex, inteligência artificial para veículos e tecnologias para carros voadores.
A GAC também busca uma presença forte no setor de mobilidade urbana no Brasil e negocia parcerias com a 99.
Para o CEO da GAC Motor no Brasil, a estratégia no Brasil é clara. “Somos uma empresa estatal e faz parte da nossa cultura ter uma estratégia de longo prazo. Queremos fincas as nossas raízes no Brasil”.