A equipe da TIM levará cerca de 8 dias para chegar à Antártida e só poderá entrar na região no período do verão (entre janeiro e março) (TIM Brasil /Divulgação)
Repórter
Publicado em 26 de novembro de 2025 às 14h00.
Última atualização em 26 de novembro de 2025 às 14h44.
Imagina transmitir em tempo real o vídeo de uma baleia cruzando as águas geladas da Antártida? Ou fazer uma videochamada com sua família depois de semanas isolado entre geleiras? Essa é a virada tecnológica que a TIM Brasil aposta ao levar o 5G para o continente mais frio da Terra - uma das regiões mais estratégicas para entender as mudanças climáticas que moldam o planeta.
A operadora prepara para fevereiro de 2026 a ativação da rede de quinta geração na Estação Antártida Comandante Ferraz. O projeto, inédito para uma empresa brasileira, combina inovação tecnológica, apoio à ciência, fortalecimento da soberania nacional e até a produção de uma série documental.
“A TIM Brasil já cobre mil cidades com 5G e somos a operadora que conecta mais municípios no país. Não podia ser outra empresa a levar essa tecnologia para a Antártida”, afirma Marco di Costanzo, VP de Desenvolvimento de Tecnologia da TIM Brasil.
Costanzo, que trabalha há 17 anos na companhia, afirma que a iniciativa de levar o 5G para a região mais fria do planeta une inovação tecnológica, inovação científica, soberania nacional e até um aspecto cultural, com o documentário que estão produzindo. “Não tem jeito, ciência e tecnologia andam juntas,” afirma.
A missão prevista para fevereiro de 2026 será a primeira a ativar o 5G na estação. E isso exige equipamentos adaptados a ventos de mais de 100 km/h, temperaturas negativas e risco de congelamento de componentes. (TIM Brasil /Divulgação)
A TIM Brasil já está presente na Antártida desde 2022, quando herdou a cobertura móvel da estação após a aquisição dos ativos da Oi. Desde então, três missões técnicas prepararam o terreno para que o 5G pudesse finalmente chegar.
Na primeira missão, em 2023, o engenheiro Daniel Stertz, gerente sênior de engenharia e integrante da equipe técnica da TIM, pisou no continente gelado pela primeira vez para mapear a base e melhorar a rede 3G e 4G local.
“Da porta de casa até a estação foram oito dias de viagem”, lembra. “Voos com a FAB, travessia pelo Chile e quatro dias de navegação pelo Estreito de Drake, que é um dos lugares mais perigosos do mundo. Atravessamos ondas de até oito metros.”
Na segunda missão, em 2024, a empresa instalou a frequência de 700 MHz, mais adequada para grandes distâncias e ambientes internos.
Na terceira, neste ano, ativou uma conectividade de satélite LEO (baixa órbita), complementar ao sistema GEO (geoestacionário). Hoje, a estação opera com os dois sistemas em redundância — algo raro globalmente.
“Era pré-requisito saber que o satélite de baixa órbita funcionava bem antes de levar o 5G”, conta Stertz. “Existem etapas que precisam ser feitas em degraus. A vontade de colocar 5G lá existe faz tempo, mas foi preciso garantir cada passo.”
A quarta missão da TIM Brasil será a primeira a ativar o 5G na estação, e isso exige equipamentos adaptados a ventos de mais de 100 km/h, temperaturas negativas e risco de congelamento de componentes.
“Ao contrário do Brasil, lá a preocupação não é o equipamento superaquecer, mas congelar”, diz Costanzo. “Por isso, o 5G ficará dentro de containers aquecidos. É um ambiente de stress térmico e mecânico muito forte.”
É uma logística desafiadora que acontece apenas durante o período de “verão” da região polar (entre janeiro e março), conta Costanzo.
“É um projeto que não existe margem para erro. Não dá para esquecer nem um parafuso. Se faltar algo, não existe a opção de voltar no dia seguinte,” afirma o VP de Desenvolvimento de Tecnologia da TIM Brasil. “Tudo precisa ser preparado com meses de antecedência, nesta quarta fase, foi cerca de um ano de planejamento.”
O avanço do 5G na região polar tem um objetivo: estudar a região e os impactos das mudanças climáticas (TIM Brasil/Divulgação)
O avanço do 5G na região polar tem um objetivo: estudar a região e os impactos das mudanças climáticas. A Antártida é um laboratório natural para pesquisas sobre microplásticos, correntes oceânicas, radiação, biodiversidade e os avanços das geleiras.
“O 5G muda completamente o nível de conectividade e acelera pesquisas sobre impactos ambientais”, diz Costanzo. “Permite coletar dados de dezenas de sensores e trocar informações em tempo real com pesquisadores no mundo todo.”
A estação brasileira recebeu só em 2025 mais de 180 pesquisadores de 29 projetos selecionados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Com o 5G, será possível transmitir volumes maiores de dados, integrar redes globais de pesquisa e avançar na análise de fenômenos climáticos críticos.
Além da ciência, o 5G também deve transformar a rotina de quem vive ali — militares e pesquisadores que passam mais de um ano na base.
“As pessoas ficam meses longe da família, num ambiente isolado e extremo”, conta Costanzo. “O 5G vai permitir videochamada com os filhos, entretenimento, telemedicina e até acionar resgates em caso de emergência.”
O engenheiro Stertz reforça a experiência comunitária da base. “Quando chega lá, vira uma vida comunitária. Todo mundo ajuda em tudo: cozinha, limpa, conserta. Não existe luxo, existe cooperação”, afirma.
Marco di Costanzo, VP de Desenvolvimento de Tecnologia da TIM Brasil: “Nosso propósito é democratizar o acesso ao 5G e habilitar uma sociedade digital" (TIM Brasil/Divulgação)
A missão de fevereiro também levará uma equipe audiovisual para gravar uma série documental sobre a rotina na estação, ainda sem nome definitivo, com previsão de estreia até outubro.
Para oficializar o compromisso com esse marco tecnológico, a TIM Brasil participa de uma cerimônia realizada na Embaixada da Itália, em Brasília, nesta quarta-feira, 26, para a assinatura de um Memorando de Entendimento (MoU) para implementação do 5G. Ente os presentes estavam Alberto Griselli, CEO da TIM Brasil, Alessandro Cortese, Embaixador da Itália, e autoridades do governo brasileiro, como Luciana Santos, Ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Margareth Menezes, Ministra da Cultura, e Frederico de Siqueira Filho, Ministro das Comunicações, José Múcio, Ministro da Defesa, e Carlos Baigorri, presidente da Anatel.
“Conectar a Antártida com o 5G é abrir novas possibilidades para a ciência. A conectividade encurta distâncias e fortalece as relações profissionais e humanas. Agora a nova tecnologia pode potencializar esse avanço. Em um momento em que debates globais, como os da COP30, reforçam a urgência climática e ambiental, usar a tecnologia para apoiar as pesquisas na Antártida torna-se essencial”, afirma Alberto Griselli, CEO da TIM.
O avanço no Brasil também segue como prioridade para a TIM, afirma Costanzo. “Nosso propósito é democratizar o acesso ao 5G e habilitar uma sociedade digital. A Antártida é um projeto emblemático, mas seguimos avançando também no Brasil para impulsionar crescimento econômico e desenvolvimento humano.”
A TIM Brasil fechou o terceiro trimestre de 2025 com lucro líquido de R$ 1,2 bilhão, um avanço de 50% em relação ao mesmo período de 2024. No mesmo trimestre, a operadora alcançou um marco histórico ao se tornar a primeira do país a conectar 1.000 cidades com sua rede 5G.
A receita líquida de serviços somou R$ 6,5 bilhões, crescimento de 4,8% na comparação anual. O principal motor foi a receita de serviços móveis, que subiu 5,2%, chegando a R$ 6,2 bilhões, impulsionada especialmente pelo pós-pago.