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Farmacêutica Regeneron compra ativos da 23andMe por US$ 256 milhões após colapso de empresa genética

O valor representa uma queda de mais de 95% em relação à avaliação de mercado da empresa em seu pico

23andMe: empresa nunca conseguiu gerar lucro e enfrentou crise por vazamento de dados (23andMe/Divulgação)

23andMe: empresa nunca conseguiu gerar lucro e enfrentou crise por vazamento de dados (23andMe/Divulgação)

Laura Pancini
Laura Pancini

Repórter

Publicado em 19 de maio de 2025 às 11h35.

O auge foi uma caixinha com tubo de saliva que prometia revelar segredos genéticos e ancestrais. A queda, um leilão de falência em busca de comprador. A 23andMe, que chegou a valer US$ 6 bilhões, foi vendida por US$ 256 milhões à Regeneron Pharmaceuticals, marcando o fim de uma era para uma das startups mais conhecidas do setor de saúde pessoal.

Fundada pela bioquímica Anne Wojcicki, a empresa ficou famosa por oferecer testes genéticos diretos ao consumidor, permitindo identificar predisposição a doenças, ancestralidade e traços hereditários com uma simples amostra de saliva. Mas nunca conseguiu gerar lucro, e enfrentou uma sucessão de crises financeiras, vazamentos de dados e cortes drásticos de equipe.

A 23andMe nunca atuou no Brasil. Por aqui, as marcas MeuDNA e Genera são as mais conhecidas.

O que a Regeneron levou?

O pacote inclui os serviços de genoma pessoal da 23andMe, suas divisões Total Health e de pesquisa, além de um banco com milhões de amostras genéticas de clientes. A aquisição não contempla a Lemonaid Health, vertical de telemedicina que segue operando separadamente.

A transação ainda depende de aprovações judiciais e regulatórias, com conclusão prevista para o terceiro trimestre de 2025. Avaliada em US$ 63 bilhões, a farmacêutica americana Regeneron foi uma das pioneiras no desenvolvimento de um tratamento contra a covid-19.

Como a 23andMe desmoronou?

A 23andMe abriu capital em 2021 por meio de uma SPAC e nunca deu lucro. Tentou diversificar, apostando no desenvolvimento de medicamentos baseados em dados genéticos, mas abandonou o projeto no ano passado. Em 2023, um vazamento expôs informações de 6,9 milhões de clientes e resultou em um acordo judicial de US$ 30 milhões.

No fim de 2024, a situação se agravou: duas tentativas de recompra das ações pela fundadora fracassaram, e 40% dos funcionários foram demitidos. Em março de 2025, veio o pedido formal de falência nos EUA. Documentos enviados à SEC revelaram dívidas de US$ 2,3 bilhões e apenas US$ 126 milhões em caixa.

Anne Wojcicki deixou o comando no mesmo mês. Quem assumiu interinamente foi Joe Selsavage, então diretor financeiro.

O que vem agora?

A Regeneron vê a aquisição como uma forma de expandir suas iniciativas em medicina personalizada, com base no mapeamento genético. “Queremos usar esses dados para melhorar o tratamento e a prevenção de doenças”, disse George Yancopoulos, diretor científico da empresa, em comunicado oficial.

A empresa afirma que pretende manter a operação voltada ao consumidor, respeitando as políticas de privacidade da 23andMe. Um ombudsman independente, nomeado pelo tribunal, deve acompanhar a nova fase para garantir a proteção dos dados genéticos dos usuários.

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