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Filha de mecânico, ela fez do amor por carros uma empresa milionária que vai crescer 75% em 2025

Fundadora da Fox Custom, Roberta Pirolla também prepara cursos para ampliar a presença feminina no setor

Roberta Pirolla Garcia, fundadora da Fox Custom: “Encontrei algo que amo e quero que outras mulheres também tenham essa chance”

Roberta Pirolla Garcia, fundadora da Fox Custom: “Encontrei algo que amo e quero que outras mulheres também tenham essa chance”

Caroline Marino
Caroline Marino

Jornalista especializada em carreira, RH e negócios

Publicado em 20 de agosto de 2025 às 14h00.

O mercado nacional de estética automotiva movimenta mais de R$ 4 bilhões por ano e cresce acima de dois dígitos mesmo em períodos de desaceleração econômica, segundo a Associação Brasileira de Estética Automotiva (Abrafest). Impulsionado pela valorização do carro como bem de consumo personalizado, o setor vem ganhando força e abrindo espaço para novos negócios. No entanto, é predominantemente masculino: menos de 8% dos negócios são liderados por mulheres.

Mudar esse cenário é um dos propósitos da paulistana Roberta Pirolla Garcia, fundadora da Fox Custom, especializada em envelopamento, polimento técnico e detalhamento de veículos, que começou sozinha em 2015. Atualmente, tem fila de espera, recebe clientes de outros estados e está finalizando uma série de cursos voltados a mulheres que desejam ingressar no segmento. Apesar de não abrir o faturamento, a empresa já está na casa dos milhões e projeta crescer 75% em 2025. “Não entrei nessa área para competir com os homens e, sim, para fazer diferente – e esse ‘diferente’ virou meu posicionamento.”

De um hobby a uma companhia que atravessa fronteiras

Embora tenha crescido próxima ao universo dos carros – o pai era mecânico e a oficina fez parte da sua infância –, a paixão pela área surgiu anos depois, quase por acaso. Em 2015, Roberta passou a frequentar eventos automotivos acompanhando o então namorado, piloto de drift. Foi nos bastidores das competições e movida pela vontade de ter um automóvel diferente, fora dos padrões tradicionais, que descobriu a cultura de personalização. “Via somente homens fazendo o serviço e pensei: eu também consigo e quero fazer diferente.”

Determinada, mergulhou em pesquisas, fez cursos online de envelopamento e decidiu aplicar o que aprendeu em seu Civic hatch. “Fiz todo o processo: carroceria amarela, capô em fibra de carbono e pintura em duas cores para participar do Civic Nation, maior encontro de Hondas da América Latina. O carro fez muito sucesso lá”, lembra.

Na época, ela cursava Educação Física e trabalhava na administração da empresa de tecidos da família do namorado. A personalização de veículos era apenas um hobby, realizado nos períodos de folga, em um espaço improvisado. Com o tempo, a atividade começou a atrair clientes e passou a atender pilotos e proprietários em oficinas.

Atenção ao detalhes como marca

O início, porém, veio acompanhado de preconceito e desconfiança. Ouviu comentários como “essa menina não sabe o que está fazendo” e chegou a receber valores abaixo do mercado. Mesmo assim, decidiu seguir em frente, confiante de que havia encontrado uma oportunidade. A resposta veio com os resultados: características como agilidade, atenção aos detalhes e rigor no acabamento fizeram Roberta ser procurada para refazer serviços de outros profissionais. “Fui descobrindo o meu valor.”.

O diferencial da Fox Custom está justamente em atributos muitas vezes subestimados no setor: sensibilidade, cuidado estético e precisão. “O detalhamento exige paciência, técnica e percepção visual que nem sempre são desenvolvidas em serviços mais brutos. Já ouvi de profissionais que determinados pedidos eram ‘impossíveis’, mas exigiam apenas dedicação e método”, diz.

A virada de chave

Durante anos, Roberta dividiu o tempo entre trabalhos terceirizados e atendimentos próprios. A mudança veio em 2022, com a entrada da sócia Pamela Cardenuto, empresária especializada em marketing, expansão internacional e vendas. “Trabalhava muito para os outros e ficava apenas com uma pequena parte do valor. Ela me fez enxergar que ao inverter a ordem, eu teria mais lucro e controle”, conta.

A mudança permitiu estruturar processos, formar equipe, equilibrar as finanças e planejar a expansão. Para se ter ideia do potencial desse mercado, no Brasil, o custo para envelopar ou trocar a cor de um carro dificilmente fica abaixo de R$ 30 mil. Com técnicas mais avançadas, como o PPF – camada protetora invisível que ajuda a manter a pintura do veículo em perfeitas condições, preservando sua aparência e preço de revenda –, os valores podem variar entre R$ 60 mil e R$ 70 mil ou até ultrapassar R$ 100 mil, dependendo do modelo e da complexidade do serviço.

Com a empresa organizada, a paulistana se concentra no trabalho técnico e no aperfeiçoamento constante. “O estudo é a base do crescimento pessoal e profissional, o que permite expandir a operação”, diz. No currículo, já acumula formações em companhias americanas como Xpel, Ceramic Pro e Lukfilm, e mantém uma rotina intensa de capacitação. Em 2024, passou um período nos Estados Unidos para aprender técnicas adaptadas a diferentes climas e materiais. A agenda também incluiu experiências na Europa e no Japão. “Cada lugar tem condições e insumos diferentes. Quero reunir esse conhecimento para ensinar”, explica.

Oportunidades para mulheres

O plano agora é lançar, em fevereiro de 2026, um curso voltado especialmente para mulheres interessadas em ingressar na estética automotiva. Roberta acredita que a expansão do segmento é uma oportunidade concreta de ampliar a presença feminina. “É um setor extremamente promissor, mas ainda muito masculinizado. Isso abre espaço para quem chega com um olhar diferente, mais sensível e orientado ao cliente”, afirma.

Com os cursos, que serão em vídeo, a ideia é mostrar que é possível começar pequeno, até na garagem de casa, sem muito investimento nem a necessidade de uma graduação de quatro anos. “Foi assim que iniciei e quero ajudar outras mulheres a conquistar independência financeira.”

Empreender, para ela, exige mais do que técnica: é preciso humildade para aprender sempre, resiliência para lidar com as pressões diárias e perseverança para não desistir diante das barreiras – especialmente em um ambiente ainda marcado pelo preconceito de gênero. A empreendedora lembra que já recusou trabalhos para não precisar provar repetidas vezes sua competência e reforça a importância de ouvir o cliente, oferecer soluções personalizadas e manter o respeito mesmo nos momentos mais desafiadores. “Encontrei algo que amo e quero que outras mulheres também tenham essa chance”, finaliza.

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