Negócios

Fim do inverno? Por que as startups brasileiras receberam R$ 300 milhões em 10 dias

Aportes, fusões e a chegada de fundos internacionais sinalizam um cenário (um pouco mais) otimista para o segundo semestre de 2025

Cofrinho: até agora, apenas 32% do total investido no Brasil em 2024 foi alcançado (Montagem EXAME/Canva)

Cofrinho: até agora, apenas 32% do total investido no Brasil em 2024 foi alcançado (Montagem EXAME/Canva)

Laura Pancini
Laura Pancini

Repórter

Publicado em 18 de setembro de 2025 às 13h45.

Tudo sobreStartups
Saiba mais

Desde a última terça-feira, 9, mais de R$ 247 milhões de reais foram investidos em startups brasileiras de todos os setores e tamanhos.

É um valor pequeno comparado ao que se observa lá fora — só a americana FigureAI, de robôs humanoides, acaba de levantar US$ 1 bilhão —, mas que pode indicar que o cenário de venture capital está pelo menos um grau mais quente.

Somente nos últimos dez dias, a EXAME noticiou:

  1. Kamino, de gestão financeira, captou R$ 54 milhões;
  2. Wehandle captou R$ 36 milhões para automatizar a gestão e contratação de terceiros;
  3. Focada em IA na saúde, a Sofya recebeu investimento da gigante do setor MV;
  4. Indicium, startup de dados de Florianópolis, recebe investimento da gigante global Databricks;
  5. De gestão financeira para operadoras de saúde, a Arvo captou R$ 106 milhões numa rodada Série A com Kaszek e Base10;
  6. CUB recebeu US$ 5,5 milhões da Alexia e da Upload Ventures para facilitar e adiantar os pagamentos no setor imobiliário;
  7. Startup de educação que digitalizou a 'agendinha' escolar, a Layers captou R$ 21 milhões;
  8. Por último, um M&A das frutas e verduras: as startups Arado e Frexco concluíram a fusão e agora miram receita de R$ 100 milhões.

Embora esses números possam gerar otimismo, é preciso observar o contexto mais amplo. A disparada dos juros nos últimos anos fez com que startups brasileiras enfrentassem o que ficou conhecido como o "inverno das startups". Foram US$ 9,7 bilhões investidos na América Latina em 2021, um recorde para a região. Depois, só queda (e muita neve): US$ 4 bilhões em 2021, US$ 1,9 bilhões em 2023 e, um respiro, US$ 2,2 bilhões em 2024.

Se, por um lado, o volume de investimento no primeiro semestre de 2025 continua aquém dos níveis de 2024 — até agora, apenas 32% do total investido no Brasil em 2024 foi alcançado, cerca de US$ 727 milhões —, por outro, já existem sinais de que o capital está se movimentando de maneira mais seletiva e estratégica.

Chegou a primavera?

Vinícius Furlan, do Scale Up Venture, fundo da Endeavor, aponta que, embora a competição esteja mais acirrada entre os fundos que ainda têm capital para investir, o ecossistema de venture capital está longe de uma recuperação total.

"Entre julho e setembro realizamos oito novos investimentos, e a média é de 3,5. Isso nos dá a indicação de que devemos fechar o ano com um volume de investimentos 30% superior à média histórica, mas ainda assim, estamos longe de um cenário totalmente estabilizado", diz Furlan.

Além disso, investidores estrangeiros, ainda que de forma tímida, também começam a retomar suas atividades no Brasil. A instituição japonesa Credit Saison anunciou a chegada do fundo Onigiri Capital nesta segunda-feira, 15, com a ambição de ser a "ponte" entre América Latina e Ásia. A gestora nasce com US$ 50 milhões (R$ 270 milhões) para investir em startups de blockchain voltadas ao setor financeiro — e tem um recorte claro: projetos que desenvolvam soluções reais em pagamentos, stablecoins, ativos tokenizados e finanças descentralizadas, as chamadas DeFi.

Histórias como essa são a representação de uma tendência clara: fintechs brasileiras são as queridinhas dentro e fora do País. Entre julho e setembro, foram US$ 65,3 milhões investidos dentre 25 rodadas. Logo atrás, ficaram as startups de tecnologia para o agro (US$ 51,7 milhões) e para o varejo (US$ 50,8 milhões).

Dentre elas, o nichado parece funcionar. Das oito startups aportadas citadas anteriormente, ao menos cinco tem alguma ferramenta de gestão financeira específica ao setor que se dedicam. Um dos maiores aportes de 2025, a Arvo, por exemplo, atende operadoras de planos de saúde e ajuda elas a cortar custos com inteligência artificial.

"Toda vez que chega uma tecnologia como a IA, é um momento interessante [para o mercado]. Estão sendo criadas empresas duradouras, excelentes e que atingem patamares nunca pensados", diz Fernando Gadotti, fundador da Tako, que utiliza IA para descomplicar a folha de pagamentos para o RH, e da DogHero, marketplace vendido para a Petlove em 2020.

"Para essas empresas construindo IA, tem dinheiro, tem investimento e tem interesse", resume o executivo. Ao mesmo tempo, quem bota o dinheiro na mesa está mais criterioso do que nunca: buscam líderes maduros e negócios com uma trajetória clara de tração.

"No processo da CUB, percebemos um nível de diligência bastante superior a processos que vivemos no passado. A IA reforça a disposição deste tipo de capital em tomar risco", diz Leonardo Gasparin, CEO da fintech que acaba de receber US$ 5,5 milhões para aprimorar a plataforma que digitaliza o 'vai e vem' do dinheiro no setor imobiliário. Anteriormente, ele abriu a 1m2 (como um Airbnb para a venda e compra de terrenos) e a Neemu (buscador para e-commerces comprado pela Linx, de gestão para o varejo, em 2015).

O VC voltou?

Apesar de alguns sinais positivos, o volume de investimentos em venture capital no Brasil ainda não são relevantes o suficiente para indicar uma mudança. Por aqui, fatores como a alta taxa de juros, a proposta de aumento do IOF e as tarifas impostas pelos Estados Unidos tendem a reduzir ainda mais o fluxo de investimento no segundo semestre.

A verdade é que, embora o mercado esteja se movimentando, o aquecimento que alguns enxergam pode ser apenas o reflexo de uma recuperação gradual. No geral, a síntese é a mesma: o mercado ainda preza por cautela.

Acompanhe tudo sobre:StartupsFundos de investimentoVenture capitalInteligência artificial

Mais de Negócios

Império da paçoca: como uma família do interior do RS vende R$ 418 milhões por ano com doces

Aos 12 anos, ela criou um negócio com o apoio dos pais – e projeta faturar R$ 11 milhões em 2025

Fortuna de Elon Musk aumenta em US$ 40 bi com disparada de ações da Tesla

EXAME recebe multifranqueados para workshop com especialista americana em franquias