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Ganhar dinheiro escovando o dente? Ela criou um app que paga para você cuidar da saúde

Em troca de um cliente mais saudável, a Fully oferece cashback, vouchers e até a opção de depositar o valor recebido num fundo de previdência

Aura Rebelo, CEO da Fully: "Todo mundo precisa de um terceiro lugar. Queremos ajudar as pessoas a encontrar esse espaço"

Aura Rebelo, CEO da Fully: "Todo mundo precisa de um terceiro lugar. Queremos ajudar as pessoas a encontrar esse espaço"

Laura Pancini
Laura Pancini

Repórter

Publicado em 23 de setembro de 2025 às 05h33.

Acidentes, doentes e até morte. O setor de seguros está marcado de temas desconfortáveis de abordar com o cliente. Por isso, a seguradora Prudential decidiu criar um caminho alternativo: falar de cuidado, hábitos saudáveis e futuro com a Fully, plataforma de bem-estar que recompensa usuários por pequenas ações do dia a dia.

Por trás da ideia de ganhar dinheiro ao caminhar, escovar os dentes ou definir metas financeiras, está um esforço da seguradora em reforçar vínculos com seus clientes fora dos momentos de crise.

A Fully já tem 85 mil usuários no Brasil e na Argentina, com expansão prevista para o Equador. Ela já distribuiu R$ 22 milhões em moedas digitais convertidas em dinheiro ou descontos em marcas como Nike, Uber e Madero.

Como começou?

Criada em 2024, a Fully surgiu como uma iniciativa da Prudential International, após anos de estudo sobre como atrair, reter e engajar clientes de seguros em mercados emergentes. "Percebemos que falávamos com o cliente só uma vez por ano — e normalmente era para dizer que o seguro tinha ficado mais caro", diz Aura Rebelo, CEO da Fully.

Com passagens por empresas como Coca-ColaTelefônica, Rebelo liderou projetos importantes dentro da própria Prudential, como o redesenho do seguro de doenças graves e a decisão de manter o pagamento de indenizações durante a pandemia de covid-19, mesmo quando legalmente não seria obrigatório.

"Pagamos US$ 160 milhões em sinistros na pandemia. Isso ajudou a mudar a percepção do mercado inteiro", diz. Por esses e outros motivos, Rebelo foi a escolha da Prudential para desenvolver e tocar o projeto da Fully.

A Fully funciona como uma empresa independente, mas com DNA da seguradora. Já recebeu R$ 200 milhões em investimentos da Prudential e opera com estrutura própria e modelo de receita via assinatura.

Como funciona a plataforma?

A proposta da Fully é unir bem-estar físico, mental e financeiro em uma única plataforma. A tecnologia usa sensores do celular e relógios inteligentes para monitorar dados como passos, frequência cardíaca e qualidade do sono. Usuários recebem metas personalizadas — como andar 5 mil passos por dia ou completar trilhas de meditação — e, ao cumprir essas tarefas, acumulam moedas.

Cada semana de metas cumpridas libera até 450 moedas, o equivalente a R$ 15. O valor pode ser usado de duas formas: convertido em vouchers ou depositado diretamente na conta (via cashback).

Na frente financeira, o app também permite que o usuário defina metas de longo prazo, como fazer uma viagem, pagar um curso ou poupar para aposentadoria. Em alguns casos, as recompensas podem ser depositadas direto em fundos de previdência, criando um incentivo para a formação de reserva futura.

Qual o modelo de negócios?

A Fully não é um app para o público final. Funciona no modelo B2B2C, firmando contratos com empresas que oferecem o serviço a seus clientes ou colaboradores. Os clientes pagam uma mensalidade por usuário — entre US$ 1,50 e US$ 3,00, dependendo do pacote — e, em troca, recebem acesso ao ecossistema da Fully.

Entre os parceiros estão seguradoras, empresas de utilidades, fundos de pensão e até uma associação de nutricionistas. A startup também criou uma dinâmica de trocas entre parceiros: quem fornece um serviço pode oferecê-lo dentro da plataforma de outro parceiro, criando um efeito de rede.

"O app melhora o NPS das empresas, reduz taxa de cancelamento de seguros e cria valor percebido constante para o cliente final", afirma Rebelo. Um dos cases mais relevantes é o da própria Prudential do Brasil, onde clientes que usam o app cancelam menos e têm avaliação mais alta da seguradora.

O que vem por aí?

Além dos planos de expansão para outros países da América Latina, a Fully quer explorar novas verticais. Entre elas, entretenimento e comunidade são as mais citadas.

“Todo mundo precisa de um terceiro lugar. Pode ser a igreja, o grupo de corrida, ou o Flamengo no Maracanã. Queremos ajudar as pessoas a encontrar esse espaço”, diz a executiva.

Com metas agressivas — chegar a 1 milhão de usuários até 2030 e representar 5% da receita de mercados emergentes da Prudential no longo prazo —, a startup ainda está em fase de estruturação comercial. Mas mostra que, na disputa pela atenção e fidelização de clientes, o bem-estar pode ser mais eficaz que o medo.

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