Repórter
Publicado em 8 de setembro de 2025 às 06h10.
Grandes nomes do Vale do Silício gastaram mais de R$ 27 bilhões (cerca de US$ 5 bilhões na cotação atual) nas duas últimas décadas para viver até os 150 anos (ou mais). Segundo uma análise do Wall Street Journal, nomes como Peter Thiel, Sam Altman e Marc Andreessen se destacam pelos grandes gastos e investimentos em startups que buscam esticar a longevidade humana.
Thiel, cofundador do PayPal e da Palantir Technologies, foi um dos primeiros a investir nesse campo.
Desde 2006, ele já apoiou quase uma dúzia de companhias, que juntas captaram mais de US$ 700 milhões, segundo o WSJ. Entre os aportes, destacam-se US$ 7 milhões destinados à Methuselah Foundation, dedicada à engenharia de tecidos, além de sua participação na própria Unity Biotechnology. Thiel também é conhecido por suas práticas pessoais de antienvelhecimento, que incluem dieta paleolítica, uso de metformina e até adesão ao programa de criopreservação da Alcor Foundation.
Já Altman, CEO da OpenAI, dona do ChatGPT, apostou US$ 180 milhões na startup Retro Biosciences, que tem como objetivo o desenvolvimento de um remédio para "para rejuvenescer e reprogramar células envelhecidas".
Segundo pesquisa da Longevity.Technology, apenas em 2024, tecnologias de biomarcadores arrecadaram US$ 2,65 bilhões, sendo os EUA responsáveis por 84% dos negócios da área. E o setor atrai bilionários não apenas pelo retorno financeiro, mas por motivações pessoais. Vinod Khosla, cofundador da Sun Microsystems e fundador da Khosla Ventures, por exemplo, já declarou que deseja que pessoas de 70 anos tenham a vitalidade de um indivíduo de 40.
Entre outros protagonistas dessa corrida está Jeff Bezos, fundador da Amazon. O bilionário fez apostas altas na Altos Labs, empresa dedicada à reprogramação celular. A companhia busca reverter danos ligados ao envelhecimento e já contratou cientistas renomados em todo o mundo. Bezos também apoia a Unity Biotechnology, voltada ao combate das chamadas células senescentes, associadas a doenças relacionadas à idade.
Os fundadores da Google também querem viver mais tempo. Larry Page lançou, em 2013, a Calico Labs, com US$ 1,5 bilhão em financiamento, em parceria com a AbbVie, enquanto Sergey Brin direcionou cerca de US$ 2 bilhões a pesquisas neurológicas, incluindo US$ 1,75 bilhão para estudos sobre Parkinson, por meio de sua fundação ASAP.
Larry Ellison, da Oracle, soma mais de US$ 370 milhões doados à área, sendo que 80% dos recursos de sua Ellison Medical Foundation foram destinados à pesquisa em envelhecimento até 2013. Aos 80 anos, Ellison segue rotina intensa de exercícios e dieta restrita, práticas que o aproximam da comunidade de biohackers.
Já Brian Armstrong, CEO da Coinbase, criou a NewLimit em 2021, focada em reprogramação epigenética. A empresa levantou US$ 170 milhões em rodadas recentes, sendo US$ 130 milhões em Série B. Parte dos recursos saiu do próprio bolso de Armstrong, que investiu inicialmente US$ 110 milhões.
Jeff Bezos, fundador da Amazon (Andrew Harrer/Bloomberg/Getty Images)
Outros nomes também se destacam. Vinod Khosla, por meio da Khosla Ventures, mantém investimentos em empresas como Rejuvenation Technologies e Loyal, voltada ao aumento da longevidade em cães.
Mark Zuckerberg e Priscilla Chan financiam pesquisas por meio do Chan Zuckerberg Biohub, que busca desenvolver diagnósticos avançados e novas terapias até o fim do século.
Joe Lonsdale, com o fundo 8VC, e Eric Schmidt, ex-CEO da Google, também apoiam a NewLimit. Já Naveen Jain criou a Viome Life Sciences após investir US$ 30 milhões em pesquisas sobre microbioma intestinal, apostando em soluções de nutrição personalizada.
Bryan Johnson, da Blueprint (Wikimedia Commons)
Bryan Johnson é um dos nomes mais famosos na busca por uma vida mais longa.
Johnson, de 47 anos, iniciou o programa anti-envelhecimento Projeto Blueprint em 2021, com o objetivo de reverter o envelhecimento. Segundo o empresário, esse programa custa cerca de US$ 2 milhões por ano. Durante um período, ele até se submeteu a transfusões de sangue de seu filho, acreditando que isso poderia ajudar a retardar seu envelhecimento. No entanto, ele interrompeu o experimento após seis meses, afirmando que não percebeu "nenhum benefício detectado".
A Blueprint, empresa fundada por Johnson, comercializa uma série de produtos de bem-estar, incluindo uma bebida de US$ 55 chamada "longevity mix" e uma alternativa ao café chamada "Super Shrooms", que custa US$ 42.
Em março deste ano, Johnson anunciou de maneira inusitada em uma postagem no X (antigo Twitter) que estava criando sua própria religião, chamada "Don't Die" (Não Morra).
A religião leva o nome do slogan que Johnson usou para promover seu documentário na Netflix, produtos e eventos relacionados à longevidade. Em seu post, Johnson refletiu sobre como, em um experimento de pensamento, imaginou estar no futuro, no século 25, onde as pessoas diriam que a humanidade se salvou e se fundiu com a inteligência artificial (IA) sob o lema "Don't Die".
Mas agora Johnson parece estar vendo os desafios que envolvem gerenciar uma empresa de longevidade enquanto prega uma filosofia de vida em torno do mesmo tema. Ele afirmou que começou a Blueprint porque seus amigos estavam pedindo os suplementos de saúde que ele consumia. "Foi algo que evoluiu de forma que eu estava tentando ajudar as pessoas. O problema agora é que as pessoas veem o negócio e me dão menos credibilidade no lado filosófico", explicou ele à Wired.
O dilema parece claro para o empresário. "Eu não vou fazer essa troca. Não vale a pena para mim. Então, sim, eu não quero isso", concluiu Johnson.
Companhias como a Retro Biosciences fazem parte de um portfólio de mais de 200 startups e organizações não governamentais (ONGs) que têm cerca de mil investidores, de acordo com o WSJ. Juntas, as empresas levantaram mais de US$ 12,5 bilhões nos últimos 25 anos. E nem todo esse valor foi investido por CEOs das big techs.
Famosos como Kevin Hart e Matt Damon já investiram na Function Health, empresa focada em exames laboratoriais e sugestões de estilo de vida.