Daniella Castro, fundadora e CTO da Huna: empresa não precisa realizar novos exames no paciente para obter os resultados
Repórter
Publicado em 10 de maio de 2025 às 08h10.
Última atualização em 10 de maio de 2025 às 11h05.
Numa consulta rotineira ao médico, uma mulher pode ter a vida transformada ao fazer um simples exame de sangue. O sistema de saúde, já saturado de diagnósticos tardios, ganha uma nova esperança com a chegada da startup Huna. Fundada em 2021 por Daniella Castro, Marco Kohara e Vinicius Ribeiro, a empresa integra dados como o do hemograma para identificar padrões de risco ocultos, que indicam a presença de câncer de mama.
“A ideia surgiu da minha experiência no laboratório de Inteligência Artificial da UFMG, onde já trabalhava com dados de saúde. Percebi que exames como glicose e colesterol, quando analisados em conjunto, podem revelar padrões importantes. Isso é o que aplicamos na nossa tecnologia, mas no caso do câncer,” explica Daniella, PhD em IA e CTO da empresa.
Hoje, a Huna analisa testes feitos até um ano antes, mas a ideia é que, num futuro ideal, a tecnologia da Huna se integre diretamente ao processo de triagem de saúde pública e privada, utilizando exames como o hemograma para detectar sinais precoces de câncer e, consequentemente, facilitando a identificação de pacientes com risco.
“O custo do câncer é impagável se diagnosticado tardiamente. Quando conseguimos identificar os casos com antecedência, o tratamento fica mais barato e a sobrevida do paciente aumenta”, diz Ribeiro, CEO da Huna e com mais de 15 anos de experiência com iniciativas de impacto, sendo 8 deles ligados à IA.
A startup, que começou com US$ 850 mil em 2022, recentemente levantou uma extensão de US$ 1,5 milhão em sua rodada de investimentos pré-seed, liderada pela Kortex Ventures. Entre os investidores estão Big_Bets, Niu Ventures e New Ventures Capital, especializada em investimentos de impacto.
Além dos fundos, a Huna atraiu médicos e empreendedores, incluindo Bebeto Nogueira, “olheiro” da Andreessen Horowitz (a16z) no Brasil, que se tornou um investidor-anjo. A gestora já investiu em empresas como Airbnb, Foursquare, Stripe, Instagram, Facebook, Rappi e as brasileiras Loft e NG.Cash.
A proposta da Huna é simples: usar IA para encontrar assinaturas biológicas no sangue que indiquem risco de câncer de mama. A startup complementa, e não substitui, exames como a mamografia. “A triagem inteligente é nossa principal ferramenta. Ao invés de testar todos aleatoriamente, nossa tecnologia organiza a fila de exames e prioriza os casos com maior risco”, explica Ribeiro.
Vale ressaltar que a Huna não precisa realizar novos exames no paciente para obter os resultados. Ela usa o hemograma mais recente e aplica sua tecnologia sobre esses dados, tornando o processo mais barato e simples do que os métodos convencionais de diagnóstico precoce.
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Em maio de 2024, Daniella Castro, Vinicius Ribeiro e outros doze pesquisadores publicaram os primeiros resultados da Huna na prestigiada revista científica Nature. A equipe analisou hemogramas de quase 400 mil mulheres e identificou 2.861 casos (0,72%) com risco de câncer de mama e outros 979 casos altamente suspeitos.
Desde então, novos testes feitos mostram que, entre 500 mil pacientes, a Huna identificou entre duas a três vezes mais casos de câncer de mama do que o método tradicional, que encontra 1 caso a cada mil. "Nossa tecnologia está ajudando a identificar o câncer em sua fase inicial, o que é crucial para o sucesso do tratamento", explica Castro.
Outro destaque é a base de dados robusta da Huna, com mais de 5 milhões de pacientes representados nos dados que a empresa usa para treinar seus algoritmos. Isso permite aprimorar os modelos e, em breve, expandir a capacidade de detectar outros tipos de câncer, como colo de útero, próstata e colorretal. “A grande vantagem do sangue é que ele é acessível e de fácil obtenção”, diz Ribeiro.
A Huna quer ser uma "one-stop-shop" para a detecção precoce de câncer, transformando exames simples em ferramentas de triagem inteligente. "Queremos ser um provedor de inteligência para o sistema de saúde, não apenas oferecer um software", explica Vinicius Ribeiro. "Nosso foco é integrar nossa tecnologia em diferentes etapas da triagem, desde operadoras de saúde até prefeituras com recursos limitados".
Além dos testes realizados com grandes operadoras de saúde, como as cooperativas Unimed, a Huna também se destaca pelo impacto no setor público. Recentemente, a empresa realizou um piloto com a Secretaria de Saúde de um grande município no Nordeste, analisando os dados de 100 mil pacientes.
"A resposta foi impressionante. Conseguimos identificar de forma eficiente os pacientes com maior risco e ajudar a priorizar quem deve ser examinado com mais urgência. Essa integração com o sistema público é uma das partes mais gratificantes do nosso trabalho", conclui Ribeiro.