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Incertezas sobre tarifas dos EUA afetam consumo dos ricos e impactam vendas da Lamborghini, diz CEO

Apesar da cautela entre vários clientes, Stephan Winkelmann afirma que a fabricante italiana aposta na quantidade de pedidos pendentes, modelos exclusivos e conquista do público feminino

Stephan Winkelmann, CEO da fabricante italiana de automóveis Lamborghin ( Matt Jelonek/Getty Images)

Stephan Winkelmann, CEO da fabricante italiana de automóveis Lamborghin ( Matt Jelonek/Getty Images)

Mateus Omena
Mateus Omena

Repórter

Publicado em 26 de agosto de 2025 às 18h30.

Última atualização em 26 de agosto de 2025 às 19h13.

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A incerteza sobre as tarifas de importação adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem provocado preocupações até mesmo entre os ricos, afetando não apenas as empresas como também os hábitos de consumo. E esse cenário de cautela impactou as operações da fabricante italiana de automóveis Lamborghini.

Recentemente, a Casa Branca anunciou um acordo com a União Europeia para uma tarifa de 15%, mas essa taxa ainda não foi implementada para os carros. A Lamborghini e outras fabricantes europeias continuam pagando uma tarifa de 27,5% sobre as exportações para os Estados Unidos. Com o preço de uma Lamborghini a partir de US$ 400 mil, muitos consumidores preferem esperar por uma definição mais clara das tarifas antes de realizar a compra de um modelo, explicou Stephan Winkelmann, CEO da marca, em entrevista à CNBC.

"Alguns estão adiando a compra para ter certeza de que esse será o valor definitivo", afirmou o executivo. "Outros estão satisfeitos, ou teremos negociações."

Independentemente de onde as tarifas possam chegar, Winkelmann reconheceu que elas afetarão os negócios da empresa. Ele ressaltou que, devido ao valor simbólico do Made in Italy, os carros da Lamborghini não podem ser produzidos nos EUA. Além disso, até os clientes mais ricos são sensíveis a aumentos de preços.

"Os milionários ou bilionários não chegaram a essa posição à toa, eles sabem o que estão fazendo", afirmou. "Para nós, o livre comércio é a abordagem correta. Todos sabem que é isso que queremos. No entanto, temos de lidar com a realidade e a complexidade do mercado. Estamos preparados para enfrentar os desafios que surgirem."

Segura dos efeitos das tarifas

Por enquanto, a Lamborghini está relativamente protegida de uma queda abrupta na demanda, pois tem uma quantidade considerável de pedidos pendentes. Os carros entregues atualmente foram encomendados há um ou dois anos. Recentemente, a empresa informou às concessionárias sobre um aumento nos preços: 7% para os modelos Temerario e Urus, e 10% para o Revuelto.

Sob a propriedade do Grupo Audi, da Volkswagen, a Lamborghini tem experimentado uma boa fase, impulsionada pelo lançamento de novos modelos. Em 2024, a marca registrou uma receita recorde de mais de € 3 bilhões (US$ 3,5 bilhões) e entregou 10.867 veículos. Desde 2023, a Lamborghini lançou três modelos híbridos plug-in: o Temerario de 8 cilindros, substituto do Huracán; o Revuelto de 12 cilindros, que substitui o Aventador; e o Urus SE, um SUV híbrido.

A Lamborghini também anunciou planos para um quarto modelo: um grand touring totalmente elétrico, com estreia prevista para 2028. No entanto, devido à desaceleração na demanda por veículos elétricos, Winkelmann afirmou que a empresa está reconsiderando o lançamento e pode optar por um modelo híbrido, com decisão prevista até o final deste ano.

"Há uma estagnação na aceitação de carros elétricos, não apenas no mercado de supercarros de luxo, mas também no mercado em geral", disse. "Essa tendência pode ser adiada, e teremos de decidir o que fazer. Para um carro como a Lamborghini, o importante não é ser o primeiro a lançar uma nova tecnologia, mas sim estar presente quando ela for amplamente aceita e oferecer a melhor tecnologia nesse momento."

Novas apostas e novos compradores

Na última semana, durante a Semana do Carro de Monterey, a Lamborghini revelou o Fenomeno, um supercarro de produção limitada. Com 1.080 cavalos de potência e aceleração de 0 a 100 km/h em 2,4 segundos, é o modelo mais rápido e potente da marca até hoje, equipado com um motor V-12 de 6,5 litros e três motores elétricos. Apenas 29 unidades do Fenomeno serão fabricadas, parte da estratégia da Lamborghini de lançar versões super-raras e de alto desempenho para um público seleto.

Outro fator positivo para a marca é o aumento da riqueza global, que tem se tornado mais jovem e diversificada. De acordo com um levantamento da Oxfam, quatro novos bilionários surgiram a cada semana em 2024. O número de bilionários passou de 2.565 em 2023 para 2.769 em 2024.

Segundo a CNBC, os proprietários de Lamborghini, em média, têm cinco carros na garagem, e aqueles com os modelos mais caros têm, em média, dez carros. A idade média dos compradores da marca é agora inferior a 45 anos, sendo ainda mais baixa na Ásia, com menos de 30 anos.

"Temos muitos clientes jovens em diversos países. Estamos vendo a segunda geração de ricos, mas também temos uma base de clientes jovem composta por empreendedores que conquistaram sua fortuna", esclareceu Winkelmann.

Apesar desse fenômeno, a produção da Lamborghini permanece limitada. Embora os Estados Unidos ainda sejam o maior mercado da marca, o CEO destacou que a Lamborghini gerencia cuidadosamente a distribuição em diferentes países para garantir que a exclusividade da marca seja mantida.

"Nosso objetivo é garantir que a marca não fique restrita a um único mercado e sempre manter uma perspectiva global sobre onde estamos vendendo nossos carros", afirmou.

As mulheres também estão se tornando um público cada vez mais relevante para a Lamborghini. O modelo Urus atraiu mais compradoras para a marca, e a Lamborghini está promovendo eventos exclusivos para mulheres, como encontros de motoristas intitulados "She Drives a Lambo".

"Tradicionalmente, nossa marca sempre foi muito voltada para o público masculino, com design e desempenho atrativos para os homens", pontuou Winkelmann. "Mas, com o Urus, temos visto um aumento significativo no número de mulheres entrando na marca e confiando nela."

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