Pedro Silva Costa (supervisor de agricultura familiar da Agropalma), José Maria Pompeu Leão (produtor rural e líder comunitário), Raquel Costa (analista de projetos da Earthworm Foundation Brasil) e Marcus Vinicius Braga (analista de sustentabilidade da Agropalma) (Agropalma/Divulgação)
EXAME Solutions
Publicado em 27 de outubro de 2025 às 17h32.
Última atualização em 27 de outubro de 2025 às 17h32.
Há mais de 40 anos, a Agropalma, empresa brasileira referência mundial na produção sustentável de óleo de palma, mantém uma extensa fazenda em Tailândia (PA), a cerca de 200 quilômetros de Belém – uma das regiões mais carentes da Amazônia paraense.
Ao redor da propriedade, estão dezenas de vilas, que incluem assentamentos, núcleos rurais e comunidades tradicionais. Em comum, todas compartilham um histórico de vulnerabilidade: acesso limitado à renda, à infraestrutura básica e a oportunidades de capacitação.
Segundo o IBGE, quase metade dos moradores dali vive com até meio salário mínimo, apenas 5% dos domicílios têm rede de esgoto e a taxa de escolaridade está entre as mais baixas do país.
Essas populações são o foco do programa SOMAR, uma iniciativa de responsabilidade socioambiental, promovida pela Agropalma, que vem transformando a realidade da região, ao levar desenvolvimento humano, geração de renda e empoderamento comunitário.
Prestes a completar três anos, o programa já impactou positivamente mais de 10 mil pessoas. Ele consolida práticas que a empresa já desenvolvia há mais de duas décadas, agora com metodologia estruturada e acompanhamento técnico da organização global Earthworm Foundation.
“O programa surgiu de um movimento interno de aprimorar nosso relacionamento com as comunidades próximas”, conta Túlio Dias Brito, diretor de sustentabilidade da Agropalma. “Identificamos lideranças locais, abrimos o diálogo com a população e passamos a construir juntos soluções para desafios comuns.”
Desde então, o SOMAR atua como um canal permanente de escuta e parceria com mais de 30 comunidades vizinhas à operação da companhia, pertencentes às cidades de Tailândia, Moju, Acará e Tomé-Açú. São 34 vilas neste ano e, em 2026, outras quatro serão integradas.
“O SOMAR não é assistencialista”, ressalta Mônica Bernardo Neves, gerente de sustentabilidade da companhia. “É uma parceria de longo prazo. A empresa apoia e orienta, mas as comunidades têm papel ativo no seu desenvolvimento”, acrescenta.
São quatro eixos de atuação — educação, infraestrutura, meio ambiente e saúde e bem-estar — e as prioridades dentro deles são definidas partindo de mapeamentos participativos, realizados com cada comunidade. “Feito o mapeamento das demandas e prioridades, desenvolvemos as ações durante o ano e, ao final, nos reunimos novamente para avaliar os resultados”, explica Neves.
Na frente educacional, o SOMAR oferece cursos técnicos, profissionalizantes e de desenvolvimento pessoal, que já beneficiaram centenas de moradores. Foram ofertados desde 2023 formações em gestão financeira, processamento de frutas, empoderamento feminino, além de cursos em parceria com o Senai em áreas como mecânica e elétrica.
Em um dos grupos formados, 51 mulheres concluíram cursos voltados para autonomia financeira — e muitas já aplicam o aprendizado em pequenos negócios locais. “Essas ações mostram que é possível criar um ciclo virtuoso de desenvolvimento”, destaca Brito.
O SOMAR também leva palestras sobre saúde, atividade física, boas práticas de produção e cultivo, entre outros temas, além de iniciativas culturais que unem aprendizado e lazer. É o caso do Projeto (Re)ciclo de Cinema, com 600 crianças e jovens, e do Cine Agropalma, que reuniu mais de 2 mil pessoas, muitas delas em seu primeiro contato com o cinema.
Outro destaque é o apoio à agricultura familiar com palma, que conecta pequenos produtores à cadeia de fornecimento da Agropalma, um trabalho pioneiro da empresa que começou há 23 anos e beneficia hoje mais de 300 agricultores parceiros. Atualmente, um quarto da matéria-prima agrícola da companhia vem dos produtores familiares, que recebem assistência técnica e têm a compra garantida.
Paralelamente, nesses três anos a companhia fortaleceu a economia local também com contratações realizadas diretamente nas comunidades atendidas pela iniciativa. Foram mais de 400, um dos resultados mais expressivos do programa até aqui, de acordo com Neves.

As ações do SOMAR também chegam sob a forma de melhorias concretas, de infraestrutura e qualidade de vida. Junto a autoridades locais, a manutenção de estradas, por exemplo, beneficiou cerca de mil pessoas, enquanto uma doação recente de caixas d’água atendeu mais de 1,3 mil moradores em áreas sem rede encanada.
Outro exemplo, ainda antes do SOMAR, mas que ilustra bem o espírito do programa, é o acesso a serviços bancários: o diálogo promovido pela companhia com um grande banco viabilizou a instalação de um caixa eletrônico em uma das vilas, reduzindo os longos deslocamentos até a cidade e promovendo inclusão financeira.
“O caixa mais próximo ficava a 70 quilômetros, na cidade. As pessoas iam até o banco apenas uma vez por mês, todas no fim de semana de pagamento, e enfrentavam longas filas, além de precisarem retirar o salário inteiro de uma vez”, conta Brito. “Com o caixa, passou a ter conectividade na vila, elas começaram a usar cartões de débito e a se organizar melhor com o dinheiro. Isso também é desenvolvimento”, emenda.
O compromisso ambiental é um pilar da Agropalma e marca tanto as ações sociais quanto os processos produtivos. No SOMAR, uma das frentes é o investimento em educação ambiental, com especialistas dando palestras nas escolas das comunidades sobre reciclagem, conservação de florestas, água, energia e a importância da biodiversidade.
Já no negócio, de um setor historicamente polêmico pela associação da palma a práticas ambientais danosas em outros países, a empresa busca mostrar que é possível fazer diferente. Para isso, ela adota o conceito NDPE (No Deforestation, No Peat, No Exploitation) – em português, significa “sem desmatamento, sem uso de solos de turfa (que libera muito mais gases de efeito estufa no processo de plantio) e sem exploração”.
Desde 2001, a companhia não só baniu o desmatamento como mantém um amplo programa de conservação e monitoramento da biodiversidade, com 64 mil hectares de floresta nativa. Além disso, garante que não planta em solos de turfa e que segue rigorosamente a legislação trabalhista, com auditorias externas e parcerias para assegurar condições formais e seguras de trabalho.
“Investir em sustentabilidade é também investir na longevidade do negócio”, reforça o diretor. “A reputação sustentável nos credencia a atuar em mercados mais exigentes e agrega valor à empresa. É difícil mensurar muitas vezes, mas o valor gerado é enorme”, afirma.
Não ao desmatamento: dos 107 mil hectares de terras da Agropalma no Pará, 64 mil são de reserva florestal, o que corresponde a 60% de sua área total (Agropalma/Divulgação)
Com a 30ª Conferência do Clima da ONU marcada para Belém, a Agropalma terá a oportunidade de mostrar ao mundo o seu exemplo com o SOMAR, de como a produção de óleo de palma pode ser um vetor de desenvolvimento humano, econômico e ambiental, tríade que conversa diretamente com os pilares da COP30.
“Belém é nossa casa desde 1997”, destaca Túlio Dias Brito. “Para nós, é motivo de orgulho sediar um evento tão importante. Queremos mostrar que somos parte da solução, e não do problema climático”, diz.