Negócios

'Insana' e 'comunista': empresários franceses criticam proposta de taxa para super-ricos

Novo imposto proposto pelo Partido Socialista da França prevê cobrar 2% ao ano de patrimônios acima de €100 milhões

Bernard Arnault e Emmanuel Macron: bilionário do grupo LVMH criticou a nova taxa como “desejo claro de destruir a economia francesa” (YOAN VALAT/POOL/AFP/Getty Images)

Bernard Arnault e Emmanuel Macron: bilionário do grupo LVMH criticou a nova taxa como “desejo claro de destruir a economia francesa” (YOAN VALAT/POOL/AFP/Getty Images)

Publicado em 22 de setembro de 2025 às 10h15.

Empresários franceses reagiram com fúria à proposta de um novo imposto sobre grandes fortunas defendido pelo Partido Socialista. A ideia é que pessoas com fortunas acima de 100 milhões de euros paguem ao menos 2% ao ano sobre todos os seus ativos, incluindo empresas, ações e ganhos não realizados.

Segundo o jornal britânico Financial Times, o empresário Bernard Arnault, dono do conglomerado de luxo LVMH, conhecido por marcas como Louis Vuitton e Christian Dior, disse que a medida é um “desejo claro de destruir a economia francesa”.

Em comunicado, ele disse não acreditar que forças políticas que governam ou já governaram o país possam dar credibilidade a uma ofensiva que classificou como “mortal para a economia”.

Nicolas Dufourcq, chefe do banco estatal Bpifrance, classificou a proposta como “completamente insana”.

Já Éric Larchevêque, cofundador da Ledger, empresa francesa de carteiras de criptomoedas avaliada em 1,3 bilhão de euros, também atacou a proposta. Para ele, trata-se de “coletivismo” e “comunismo”, um ataque direto à liberdade e ao direito de propriedade. Sua participação na companhia o colocaria entre os atingidos pelo novo tributo, mesmo que a startup não dê lucro nem distribua dividendos.

A preocupação é compartilhada por outros empreendedores do setor de tecnologia. Eles alertam que a nova taxa poderia atingir startups ainda em fase de crescimento, cujos fundadores não contam com lucros ou dividendos para arcar com o imposto. Nesse cenário, muitos poderiam ser forçados a vender participação ou entregar ações.

“É absurdo e perigoso”, afirmou Philippe Corrot, cofundador da Mirakl, startup francesa avaliada em US$ 3,5 bilhões que desenvolve plataformas de marketplace online.

Apoio popular

O novo imposto foi apelidado de “taxa Zucman”, em referência ao economista Gabriel Zucman, autor da proposta. A medida é vista como condição para que os socialistas apoiem o primeiro-ministro Sébastien Lecornu, após a queda de dois antecessores em menos de um ano.

Arnault classificou Zucman como um “ativista de extrema esquerda” cuja “ideologia busca destruir a economia liberal”. O bilionário disse ainda que a “pseudo-competência acadêmica” de Zucman é amplamente contestada e que a proposta o atinge pessoalmente, já que seria “certamente o maior contribuinte individual e um dos maiores contribuintes corporativos por meio das empresas que dirijo”.

Zucman rebateu, classificando as críticas de Arnault como “infundadas”. Em publicação na rede X, afirmou que esse tipo de retórica “deve preocupar a todos”, especialmente em um momento em que a liberdade acadêmica é questionada em vários países. “É hora de taxar bilionários a uma alíquota mínima”, disse o economista.

Se aprovado, o tributo poderia gerar até 15 bilhões de euros anuais, segundo defensores, reduzindo a necessidade de cortes de gastos. Críticos afirmam que a arrecadação real não passaria de 5 bilhões de euros. Ainda assim, a pressão popular é alta: pesquisa do instituto Ifop mostra que 86% dos franceses apoiam a medida.

O debate expõe as contradições do presidente Emmanuel Macron. Desde 2017, ele cortou impostos sobre ganhos de capital, reduziu o imposto de renda corporativo e limitou a antiga taxa sobre fortunas, ganhando a fama de “presidente dos ricos”. Agora, enfrenta um movimento que ameaça sua agenda pró-negócios e mobiliza mais de meio milhão de franceses em protestos contra cortes de gastos.

Acompanhe tudo sobre:FrançaBernard ArnaultLVMHBilionáriosEmmanuel MacronTaxasImpostos

Mais de Negócios

Brasil é o lugar mais rápido, barato e burocrático para se abrir uma empresa, diz estudo

Oktoberfest Summit 2025: veja a programação do evento que revela os bastidores da festa alemã

Os maiores supermercados de Guarulhos faturam R$ 18,3 bilhões; veja ranking

Irmãos se endividaram com franquia. Hoje, faturam R$ 204 milhões com churrasco na pedra