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‘Já estamos vendendo bem menos drinques’, diz dono de bares em meio à crise do metanol

André Silveira, sócio-fundador do Grupo Hungry, fatura R$ 17 milhões com três casas na capital paulista. Agora, ele está às voltas com a queda no consumo e com um consumidor com medo de intoxicação por bebidas alcoólicas

André Silveira, do Grupo Hungry: "Os falsificadores usam garrafas e selos originais. A fraude é quase impossível de identificar visualmente. Por isso, é fundamental barrar a produção e a distribuição antes que cheguem ao consumidor" (Luís Vinhão/Divulgação)

André Silveira, do Grupo Hungry: "Os falsificadores usam garrafas e selos originais. A fraude é quase impossível de identificar visualmente. Por isso, é fundamental barrar a produção e a distribuição antes que cheguem ao consumidor" (Luís Vinhão/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 2 de outubro de 2025 às 14h06.

Última atualização em 2 de outubro de 2025 às 15h02.

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A onda de intoxicações causadas por bebidas adulteradas com metanol, principalmente em São Paulo, já começa a afetar o varejo de bares e restaurantes.

A crise virou um novo fator de incerteza para empresários do setor, que agora lidam com queda no consumo e um consumidor com medo.

O Grupo Hungry, dono de três bares na capital paulista e com previsão de faturamento de R$ 17 milhões neste ano, já sente o impacto direto.

A venda de drinques caiu, e clientes passaram a questionar, mesmo que informalmente, a procedência das bebidas.

"Desde o primeiro caso que foi divulgado, a gente já começou a receber mensagens no Instagram das casas. Primeiro em tom de brincadeira, depois sério: ‘posso confiar?’", afirma André Silveira, sócio-fundador do grupo.

"A gente responde na hora, explica que compra tudo com nota, de fornecedor certificado. Mas o medo existe. Já estamos vendendo bem menos drinques."

Cerveja sobe, destilado desce

Além da queda nas vendas de drinques, o Grupo Hungry percebeu um movimento oposto no consumo de chope e cerveja.

"Teve dois casos recentes em que empresas contrataram pacotes open bar com drinques e cancelaram. Ficaram só com cerveja e chope", diz André.

A percepção é compartilhada por fornecedores. "Comentei isso com o pessoal da Ambev, e eles disseram que internamente também estão se preparando para um aumento forte no consumo de chope nos próximos meses", afirma.

A adaptação no dia a dia já começou. Para facilitar a fiscalização e transmitir segurança ao consumidor, o grupo agora retém as notas fiscais das bebidas nas lojas.

"Antes, a gente mandava direto para o financeiro. Agora, estamos com uma pastinha só com nota de bebida, caso o fiscal — ou até algum cliente — queira ver. Quem trabalha certo não tem por que ter medo."

Um problema antigo, agora visível

O alerta sobre bebidas adulteradas não é novo, mas voltou à tona após a confirmação de 43 casos suspeitos de intoxicação por metanol no Brasil — sendo 39 em São Paulo.

Dez casos foram confirmados e uma morte já foi associada diretamente ao consumo de bebida contaminada. Outros sete óbitos seguem sob investigação.

A Abrasel SP, associação que representa bares e restaurantes do estado, vê com preocupação o avanço das falsificações.

"Bebidas adulteradas podem provocar intoxicações graves e até mortes. Além de destruir a confiança do consumidor, afetam bares e restaurantes que trabalham dentro da lei", afirma Gabriel Pinheiro, diretor da entidade.

A entidade recomenda que os bares façam compras apenas de fornecedores confiáveis e que inutilizem garrafas vazias — quebrando as embalagens — para evitar que sejam reutilizadas por falsificadores.

"Os falsificadores usam garrafas e selos originais. A fraude é quase impossível de identificar visualmente. Por isso, é fundamental barrar a produção e a distribuição antes que cheguem ao consumidor", diz Pinheiro.

A história por trás do grupo

O Grupo Hungry nasceu em 2012, quando o publicitário André Silveira e a chef Mariele Horbach abriram o primeiro bar, o Garota da Vila, em São Paulo.

A proposta era simples: criar um boteco com alma carioca na capital paulista.

Nos dois primeiros anos, a operação ficou no vermelho. O ponto era grande demais, a cozinha pouco eficiente e faltava conhecimento sobre o público local.

A virada veio quando o casal trocou de funções: ela assumiu a cozinha por completo; ele passou a cuidar do salão. "Quando a gente passou a se dedicar 100%, o negócio virou", lembra Horbach.

Com a casa estabilizada, vieram novas unidades: o Bar Jobim, em 2017, e o Garota da Chácara. Durante a pandemia, reformaram os espaços e lançaram uma hamburgueria delivery, a Vaca Louca — depois descontinuada.

Hoje, o grupo aposta no vínculo com o cliente como diferencial. "Na pandemia, a gente virou quase uma extensão da casa dos nossos clientes. Eles vinham bater papo na porta, pedir açúcar, trazer a família. É essa relação que mantém o negócio vivo."

Fim do pânico?

Para Silveira, o susto deve passar. "Acho que agora vai ficar até mais seguro, porque esse tema voltou para o debate. Essas fábricas clandestinas sempre existiram. Mas agora tem polícia, estado, todo mundo em cima. Não é motivo para pânico, mas é bom estar alerta."

Enquanto a fiscalização não fecha o cerco de vez, os bares que atuam dentro da legalidade tentam contornar o dano colateral: o medo.

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