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Ele largou a carreira corporativa para modernizar oferendas para os mortos

Alex Teo, de 36 anos, é a terceira geração à frente da Ban Kah Hiang Trading, uma das mais antigas lojas de "joss paper" de Singapura

Laura Pancini
Laura Pancini

Repórter

Publicado em 9 de março de 2025 às 07h17.

O mais novo modelo de smartphone, uma mansão luxuosa e até um jatinho particular. Alex Teo já vendeu tudo isso — mas em versões de papel.

Teo, de 36 anos, é o responsável pela Ban Kah Hiang Trading, uma das empresas mais antigas de joss paper em Singapura. Seu negócio é vender incensos e réplicas de objetos feitas de papel, que são queimadas em rituais de reverência aos antepassados na tradição chinesa.

A empresa começou com seu avô nos anos 1950 e foi passada para seu pai nos anos 1990. Mas, com cada vez menos pessoas praticando os rituais, muitas lojas do setor fecharam porque seus herdeiros não quiseram continuar o trabalho.

Teo fez diferente. Aos 28 anos, largou o emprego no setor corporativo e assumiu o negócio da família. Agora, tenta modernizar a tradição para torná-la mais atrativa às novas gerações.

“A queima de joss paper faz parte da cultura chinesa. Proibir não faz sentido, mas precisamos encontrar um equilíbrio entre tradição e sustentabilidade”, disse o homem.

De executivo a dono de um negócio tradicional

Teo cresceu vendo a família tocar a loja, mas nunca planejou seguir o mesmo caminho. Estudou administração e construiu carreira no setor público e no mercado de seguros. Mas, em 2016, seu pai ficou doente e a família lhe fez um pedido: assumir a empresa.

“Fiquei dividido. Valeria a pena deixar a carreira corporativa? Eu perderia minha vida social?”, disse ele ao portal americano Business Insider. O setor de joss paper tem maioria de empreendedores mais velhos, um contraste com os colegas de trabalho que tinha no escritório.

A decisão de assumir o comando veio não só pela vontade de ajudar os pais, mas também pela possibilidade de ter mais controle sobre a própria renda. “No mercado corporativo, seu salário depende de promoções e bônus. Aqui, quanto mais eu trabalho, mais eu ganho”, disse Teo.

Mas o desafio logo ficou claro. Cada vez menos jovens seguem os rituais que impulsionavam as vendas. Entre 2010 e 2020, a proporção de taoístas e budistas em Singapura caiu 2,1% e 2,2%, respectivamente, segundo dados oficiais.

Outro obstáculo veio da pressão ambiental. O governo passou a incentivar que a queima de joss paper ocorresse apenas em templos, para reduzir a poluição gerada pela prática.

A saída? Reinventar o negócio antes que ele se tornasse inviável.

Queima de "joss paper" é tradição religiosa, mas traz preocupações ambientais (Getty Images)

Do varejo ao atacado — e um novo olhar para o futuro

Até então, a loja operava no varejo, vendendo diretamente ao consumidor. Mas a rotina era intensa: os pais de Teo trabalhavam mais de 10 horas por dia. Em maio de 2023, ele decidiu vender o ponto físico e focar na distribuição para templos e empresas.

Foi então que, em parceria com o amigo Chris Huang, fundou a Base Genesis, uma startup focada em reinventar o mercado de joss paper. A primeira aposta da empresa foi o "Eco Hell Note", uma versão sustentável do tradicional “dinheiro do inferno”.

Em vez de queimar dezenas de notas, uma única cédula de altíssimo valor já seria suficiente. O material também foi desenvolvido para ser livre de fumaça e fuligem, reduzindo o impacto ambiental.

O plano de Teo vai além de Singapura. Ele já estuda maneiras de adaptar os produtos para mercados asiáticos nos EUA e na Europa, incluindo versões do "hell note" em dólares americanos.

“Ainda estamos testando essas ideias”, diz Teo. “Mas o objetivo é o mesmo: manter viva a tradição de um jeito que faça sentido no mundo de hoje.”

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