Teka: indústria foi fundada em 1926 em Blumenau (SC) (Teka/Reprodução)
Repórter de Negócios
Publicado em 21 de março de 2025 às 09h23.
A Justiça de Santa Catarina revogou a falência da Teka, uma das mais antigas indústrias têxteis do país. A decisão suspende os efeitos do decreto falimentar e restabelece o processo de recuperação judicial da empresa, que está em crise desde 2012.
O Tribunal de Justiça atendeu a um recurso do fundo de investimento Alumni FIP, que comprou ações da Teka nos últimos dois anos e vem trabalhando para reabilitar a companhia quase centenária.
O argumento central foi a necessidade de auditoria para apurar o real endividamento da companhia antes de qualquer decisão definitiva sobre a falência.
A decisão foi assinada pelo desembargador Robson Luz Varella, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC). No despacho, ele apontou que a falência foi decretada sem a conclusão da auditoria financeira previamente determinada pelo próprio juízo. Também destacou inconsistências nos cálculos da dívida e a falta de clareza nos números apresentados.
Agora, a Teka seguirá operando sob gestão judicial provisória, enquanto a empresa de auditoria PwC analisa a real situação financeira da companhia.
O futuro da empresa depende dos resultados desse relatório e das negociações com credores.
A Teka já foi uma das maiores fabricantes de artigos de cama, mesa e banho do Brasil. Mas, nos últimos anos, acumulou dívidas bilionárias e perdeu espaço no mercado. A crise se arrastou por mais de uma década, impulsionada por uma combinação de fatores financeiros, operacionais e societários.
A empresa acumulou um passivo superior a 3,5 bilhões de reais, incluindo dívidas trabalhistas, tributárias e com fornecedores.
Desde 2012, estava em recuperação judicial, mas não conseguiu cumprir os compromissos do plano aprovado na época. Mesmo com aumento de faturamento nos últimos anos, passando de 344 milhões de reais em 2022 para 404 milhões de reais em 2024, a empresa não conseguiu equilibrar o fluxo de caixa. A falta de capital de giro levou à paralisação de operações.
Problemas internos também agravaram a crise. Conflitos entre acionistas dificultaram a tomada de decisões estratégicas. Além disso, a valorização do real reduziu a competitividade das exportações da Teka. A empresa, que chegou a exportar 35% do que produzia, viu esse número cair para 3% no auge da crise.
A crise no preço do algodão e os custos elevados de produção também pesaram.
O impacto social foi grande. A redução do parque fabril e as demissões em massa resultaram em centenas de processos trabalhistas. Em fevereiro de 2025, a Justiça decretou a falência da empresa no modelo "falência continuada", permitindo que as operações fossem mantidas enquanto os ativos eram vendidos para pagar credores.
Essa decisão, no entanto, foi agora revogada.
A Teka continua operando e volta ao processo de recuperação judicial.
O principal impacto da decisão é a retomada da auditoria, que vai analisar a real situação financeira da empresa. O relatório será determinante para definir os próximos passos.
A gestão judicial provisória está mantida. A administradora judicial e o gestor provisório terão que publicar um comunicado oficial sobre a revogação da falência e notificar órgãos como CVM, Receita Federal e Junta Comercial de SC.
A empresa ainda precisa apresentar um novo plano para pagamento das dívidas e garantir a viabilidade do negócio. Se não houver um plano viável, a falência pode ser decretada novamente.
A Teka foi fundada em 1926, em Blumenau (SC), por Paul Fritz Kuehnrich. Ao longo das décadas, tornou-se uma das maiores fabricantes de cama, mesa e banho do Brasil. Nos anos 1960, começou a exportar seus produtos. Em 1968, fechou contrato com distribuidores na África do Sul. Nos anos seguintes, tornou-se uma das maiores empresas do setor na América Latina.
Com fábricas em Blumenau (SC), Indaial (SC) e Artur Nogueira (SP), a Teka empregou milhares de trabalhadores e se tornou um símbolo da indústria têxtil brasileira.
A empresa investiu em tecnologia e recebeu prêmios por qualidade e inovação.
A partir dos anos 2000, a empresa começou a enfrentar dificuldades, agravadas pela concorrência internacional e pelos altos custos operacionais.
Em 2012, entrou em recuperação judicial e, em 2025, teve a falência decretada – decisão que agora foi revertida pela Justiça.