Tony Qiu, presidente de operações internacionais da Keeta: "Nossa meta é ser relevante, com eficiência, tecnologia e parceria com os restaurantes” ( Breno da Matta/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 30 de outubro de 2025 às 17h22.
A gigante chinesa Meituan acaba de dar o primeiro passo de sua ambiciosa operação no Brasil. A Keeta, braço internacional da operação chinesa, iniciou nesta quinta-feira, 30 de outubro, um projeto-piloto nas cidades de Santos e São Vicente, no litoral paulista.
A movimentação marca o início da execução do investimento de R$ 5,6 bilhões prometido para os próximos cinco anos, com o objetivo de conquistar uma fatia relevante no mercado dominado hoje pelo iFood.
“A assistência de alta qualidade para restaurantes parceiros de todos os portes, incluindo as PMEs, oferecida por meio de tecnologia e suporte humano dedicado é um ponto forte da Keeta", diz Tony Qiu, presidente de operações internacionais.
Lançada em 2022, a Keeta já atua em mercados como Hong Kong, Arábia Saudita, Qatar, Kuwait e Emirados Árabes Unidos. No Brasil, a meta é entrar em 15 regiões metropolitanas até junho de 2026 e alcançar 1.000 cidades até o fim do mesmo ano.
Segundo Qiu, o mercado brasileiro é um dos mais desafiadores do mundo, mas também um dos mais estratégicos. “Não faz sentido entrar no Brasil para conquistar apenas 5% do mercado. Nossa meta é ser relevante, com eficiência, tecnologia e parceria com os restaurantes”, afirmou em entrevista a EXAME em agosto.
A escolha da Baixada Santista para a estreia reflete uma decisão estratégica. Em Santos, 82% dos pedidos de delivery vêm de pequenos e médios restaurantes — percentual superior aos 69% de São Paulo. Isso torna a cidade um campo de testes ideal para entender as dores e oportunidades das PMEs.
O aplicativo já começa com mais de 1.000 marcas de restaurantes cadastradas, entre redes como KFC, Sodiê, The Coffee, Seven Kings, Mania de Churrasco e Jah Açaí, e estabelecimentos locais como Hey Burger, Chef Rangel, Dona Nice Steakhouse e Bardega Pizzaria.
Além disso, mais de 2.000 entregadores parceiros estão sendo treinados para atuar no piloto.
A Keeta aposta na tecnologia como diferencial competitivo. Segundo a empresa, 99% das rotas de entrega serão totalmente rastreáveis e feitas por entregadores cadastrados, o que garante mais previsibilidade ao consumidor.
Com uso de inteligência artificial, o sistema antecipa o envio de pedidos aos restaurantes e calcula rotas otimizadas em tempo real, reduzindo o tempo de espera e aumentando a produtividade da operação.
Para conquistar os primeiros usuários, a empresa oferece cupons que somam até R$ 100 em descontos. Há também promoções recorrentes de até 60%, que não se limitam ao primeiro pedido.
Outro diferencial é a política de “Horário Garantido”, já adotada pela Meituan na China: se a entrega atrasar além do prazo estimado, o consumidor recebe automaticamente cupons de até R$ 50, válidos por sete dias e com uso liberado até três vezes por dia.
A empresa também promete frete gratuito em 90% dos pedidos com o custo sendo dividido entre os restaurantes e a própria Keeta. Segundo a marca, a comissão cobrada na plataforma é menor do que a dos principais concorrentes, o que permite aos estabelecimentos manter margens mais atrativas e investir em promoções para fidelizar os clientes.
A chegada da Keeta ocorre num momento em que o setor de delivery brasileiro se consolida como um dos maiores do mundo. De acordo com a consultoria Statista, o mercado deve movimentar US$ 21 bilhões em 2025 e saltar para US$ 27 bilhões até 2029.
O iFood, atual líder, está presente em 1.500 cidades, tem 55 milhões de usuários e realiza cerca de 120 milhões de pedidos por mês. Já a 99Food, que pertence ao mesmo grupo da Didi, tenta reconquistar mercado com promoções e taxas agressivas.
Com tecnologia proprietária, foco em pequenas e médios empresas, entregadores e um modelo financeiro mais atrativo para restaurantes, a Keeta acredita ter os ingredientes certos para disputar uma fatia relevante desse mercado.