Ana Catarina Holtz e Lucas Fraga - em pé, Emmanuel Publio Dias sentado.
Jornalista especializada em carreira, RH e negócios
Publicado em 22 de outubro de 2025 às 15h41.
Empreender não estava nos planos iniciais de carreira da publicitária Ana Catarina Holtz, de Itararé, interior de São Paulo. Mestre em Comunicação e Semiótica e doutora em Comportamento do Consumidor, transitou entre a pesquisa acadêmica e a de mercado, atendendo organizações como Nestlé, Itaú e Nivea. Até que identificou um espaço pouco explorado entre o estudo científico e as demandas empresariais. Era possível criar uma ponte entre os dois mundos, com um jeito diferente de pesquisar – mais profundo do que o mercado e mais ágil do que a academia – e conectado com a realidade e a vivência dos consumidores.
O que nasceu como inquietação tornou-se a Balt, consultoria especializada em comportamento e cultura que transforma observações humanas em estratégias de negócio. A empresa já atendeu marcas como Google, Artplan e Natura e tem crescido rapidamente. Em 2024, avançou 320% e, em junho deste ano, já havia superado o faturamento do ano anterior, com projeção de alta de 200% em 2025.
A ideia começou a ganhar forma durante o doutorado, quando Ana conheceu Lucas Fraga, hoje seu sócio. Os dois logo se conectaram pela afinidade e a vontade em comum de empreender, cada um trazendo bagagens complementares: ela da pesquisa acadêmica e de mercado; ele, de uma trajetória ligada a marketing e estratégia. A pandemia funcionou como catalisadora, dando tempo para amadurecer o projeto e entender o tipo de empresa que queriam construir. “Se eu tivesse seguido sozinha, talvez a ideia nem saísse do papel ou se transformasse em outro negócio. A Balt nasceu a quatro mãos, com muito diálogo e esse tempo de maturação que a covid-19 acabou impondo”, afirma.
O primeiro passo para viabilizar a operação foi justamente entender o mercado: o que já existia, o que funcionava bem e, principalmente, onde havia espaço para algo novo. “Levamos mais de um ano para consolidar as metodologias, mergulhando na literatura de antropologia, psicologia e sociologia, testando, refinando”, diz. A dupla chegou a atuar como “cliente oculto”, conversando com companhias que atuavam em áreas semelhantes para mapear oportunidades.
A partir dessa imersão, surgiu um plano de negócios construído de maneira orgânica, sempre com flexibilidade para ajustes. O investimento inicial se concentrou em estruturar e dar identidade à marca, enquanto a equipe foi crescendo conforme a demanda.
O ponto de virada aconteceu em 2023, com a entrada de Emmanuel Publio Dias, ex-vice-presidente da ESPM. “Ele foi fundamental para conquistarmos mais espaço, especialmente nas agências de publicidade. Além disso, sua experiência de décadas no mercado acelerou nossa evolução.”
A chegada do novo sócio também foi decisiva para enfrentar o maior desafio da consultoria: vencer a barreira de entrada em um setor com poucos players, no qual conquistar os primeiros clientes exigiu tempo, confiança e relacionamento. “Ser uma empresa nova gerava desconfiança, o que é natural. O Emmanuel trouxe muitos contatos e foi fundamental para atravessar essa fase inicial”, afirma.
Para Ana Catarina, o sucesso da Balt está na combinação de gestão, rede de apoio, competências e, sobretudo, propósito. “O que nos move é gostar do que fazemos. Somos apaixonados por consumidor, pesquisa e estratégia. Isso nos dá energia para enfrentar os desafios de empreender.”
Outro diferencial é a cultura formativa. Como professores, os sócios levam essa vocação para dentro da consultoria, promovendo o desenvolvimento de jovens talentos. A personalização também ocupa papel central. “Ouvir o consumidor brasileiro faz negócios melhores e marcas mais fortes. Muitas vezes, as soluções vêm ‘enlatadas’ de fora. Nosso papel é ser a voz daqui, entendendo os desejos e traduzindo-os em estratégias que representem o público local.”
Com essa visão, a agência desenvolveu o Método Prisma e cada projeto é desenhado sob medida, tendo como base a lente das ciências humanas, unindo sociologia, antropologia e psicologia. “O ser humano tem muitas camadas, e nosso trabalho busca revelar o que realmente move as escolhas, entregando insights que se sustentam no longo prazo.”
Ao refletir sobre a trajetória até aqui, Ana Catarina ressalta que empreender traz inúmeros desafios, mas para as mulheres a carga costuma ser ainda maior. “Além da dupla jornada e das responsabilidades familiares, muitas vezes é preciso lidar com o peso de ser a única numa sala de reunião, o que pode ser intimidador no começo”, afirma. Mas é justamente aí que está a virada: superar a síndrome da impostora e confiar no próprio valor.
O segredo, segundo ela, está em seguir o caminho que está alinhado ao que acredita e não subestimar o poder da rede de apoio. “No fim, empreender é como se jogar de um penhasco com um paraquedas: dá frio na barriga, é desesperador no início, mas quando você começa a voar, percebe que vale a pena, e é só aproveitar a vista”, finaliza.