Hervé Le Gavrian, presidente da Michelin América do Sul: “O resultado financeiro sozinho não garante o futuro. É preciso olhar para as pessoas, para o planeta e para o lucro ao mesmo tempo” (Michelin /Divulgação)
Repórter
Publicado em 6 de outubro de 2025 às 13h26.
Última atualização em 6 de outubro de 2025 às 14h37.
A Michelin, tradicionalmente associada à produção de pneus, está em plena transformação global. Sob a liderança de Hervé Le Gavrian, presidente da Michelin América do Sul, a companhia segue com sua missão de décadas: diversificar os negócios, acelerar inovações e reforçar compromissos socioambientais.
“O resultado financeiro sozinho não garante o futuro. É preciso olhar para as pessoas, para o planeta e para o lucro ao mesmo tempo”, afirma Hervé que deu a sua primeira entrevista como CEO à EXAME.
O mascote da Michelin, criado a partir de pneus, fez sua estreia em um pôster de 1898 com a frase em latim Nunc est bibendum (“Agora é hora de beber”). Na taça, em vez de champanhe, apareciam buracos, pedras e outras ameaças, que ele “bebia” para simbolizar a durabilidade dos pneus (Harold Cunningham/Getty Images)
Com oito fábricas no Brasil e presença em mais de 160 países, a Michelin está expandindo para áreas que vão muito além da borracha. Um exemplo é o Guia Michelin, que já revolucionou a gastronomia mundial e, a partir de outubro, passará também a premiar hotéis com o selo “Chaves Michelin”, marcando a entrada da empresa no setor de hospitalidade.
Na mobilidade, a companhia lançou a Michelin Connected Fleet, solução que usa inteligência artificial para monitorar frotas, orientar motoristas e reduzir consumo de combustível em até 9%. Já no setor de saúde, a empresa desenvolve próteses e stents cardíacos, aplicando sua expertise em compósitos avançados.
“Temos 20 grandes áreas de atuação em 25 domínios de negócio diferentes. Essa diversificação nos dá força para inovar e ampliar nosso impacto”, diz Hervé.
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A agenda ambiental é outro pilar. No Brasil, a Michelin mantém uma reserva ecológica na Bahia, que completou 20 anos, com resultados expressivos: mais de 100 mil árvores plantadas, espécies inéditas catalogadas e aumento de 100% na abundância da vida selvagem.
Na Amazônia, o projeto Juntos pela Amazônia apoia famílias extrativistas na coleta de borracha nativa, preservando 150 mil hectares de floresta e garantindo renda para comunidades locais.
Na área industrial, a companhia aposta em materiais renováveis. Um exemplo é a substituição da sílica pela casca de arroz na produção de pneus para caminhões, com impacto direto na redução de CO₂.
Uma das inovações mais ousadas é o lançamento de velas de alta tecnologia para reduzir as emissões do transporte marítimo — setor responsável por grande parte da poluição global. O projeto, que estreia na Europa, tem potencial de revolucionar a logística internacional.
“Estamos levando nossa expertise em compósitos para criar soluções que ajudem o planeta. O transporte marítimo é vital para o comércio global, mas precisa ser mais sustentável. As velas Michelin são parte desse caminho”, afirma o CEO.
O país ocupa posição de destaque nos planos da companhia, especialmente nos segmentos de caminhões, mineração, motos e agricultura. Embora não divulgue números específicos, Hervé confirma que o Brasil está entre as frentes mais importantes da operação mundial.
“Estamos energizados com o que vem pela frente. Nosso foco é seguir inovando para crescer com valor e impacto”, afirma o executivo.
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