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Na Panasonic, a estratégia é avançar no mercado premium. Uma geladeira de R$ 22 mil vai ajudar

Marca japonesa amplia foco na linha branca no Brasil com produto de alto padrão e simboliza aposta em design e tecnologia para classes A e B

Nova geladeira da Panasonic: geladeira French Door de R$ 21.999, chega às lojas neste mês com acabamento em vidro, painel digital e tecnologia para resfriamento por zonas específicas

Nova geladeira da Panasonic: geladeira French Door de R$ 21.999, chega às lojas neste mês com acabamento em vidro, painel digital e tecnologia para resfriamento por zonas específicas

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 11 de julho de 2025 às 14h43.

Última atualização em 11 de julho de 2025 às 15h53.

Na Panasonic, multinacional japonesa que faturou cerca de US$ 54 bilhões em 2024, o foco tem sido investir em produtos com maior valor agregado.

No Brasil, isso significa reforçar a presença em eletrodomésticos de linha branca — com ênfase em design, eficiência e funcionalidades voltadas para o uso cotidiano.

A marca, que por anos foi associada a televisores, vem há mais de uma década reorganizando seu portfólio local. Saiu do mercado de TVs, cortou divisões pouco rentáveis e concentrou a operação em lavadoras, micro-ondas e refrigeradores. Na prática, saiu da sala para entrar na cozinha dos consumidores.

O lançamento mais recente é o retrato dessa estratégia. A Uniqglass, geladeira French Door de R$ 21.999, chega às lojas neste mês com acabamento em vidro, painel digital e tecnologia para resfriamento por zonas específicas. É o modelo mais caro da marca no Brasil — e sinaliza onde a Panasonic quer se posicionar daqui em diante.

“A gente sabe que está falando de um produto com tíquete alto, que não reflete a realidade do país inteiro. Mas ele está totalmente alinhado com nosso plano de marca até 2030, que é aumentar o desejo e reforçar atributos como design e tecnologia”, afirma Caio Marques, diretor de marketing da Panasonic Brasil.

Segundo ele, o movimento não é isolado. Faz parte de uma visão de longo prazo em que o país pode representar uma fatia relevante da operação global da empresa. “O Brasil é estratégico. Já estamos entre os cinco maiores mercados da Panasonic no mundo em algumas categorias e temos muito espaço para crescer”, diz.

Como foi a virada da Panasonic

A reestruturação da Panasonic no Brasil começou bem antes da Uniqglass. Em 2012, a empresa inaugurou a fábrica de Extrema, em Minas, com foco na produção de lavadoras.

“Naquela época, a gente ainda tinha TVs e áudio como parte importante do portfólio. Mas já existia uma visão clara sobre o potencial da linha branca”, diz Marques.

O ponto de virada veio por volta de 2014, quando as lavadoras passaram a representar a maior fatia do faturamento local. Desde então, o portfólio cresceu em direção ao que a Panasonic chama de produtos de alto valor agregado: modelos maiores, com mais tecnologia embarcada, voltados para o consumidor das classes A e B.

“Fomos a primeira marca no Brasil a lançar lavadora de 16 quilos com pulsador. Na época, o varejo dizia que era grande demais. Hoje, mais de 20% das lavadoras vendidas no país são de alta capacidade”, afirma Marques.

A lógica estratégica é clara: sair do volume e entrar no valor. Em vez de disputar mercado com produtos de entrada, onde margens são baixas e a concorrência é brutal, a Panasonic decidiu se concentrar em modelos mais caros, com diferenciais técnicos e estéticos.

Hoje, a fábrica de Extrema é o principal polo de produção da empresa no país. A unidade de Manaus, que produzia TVs, foi mantida com outras funções após o fim da linha de televisores — que durou mais de 40 anos e foi encerrada oficialmente em 2021.

A saída do mercado de TVs

A saída do segmento de TVs no Brasil não foi uma decisão isolada. A Panasonic enfrentava um cenário de perda de competitividade global no setor, especialmente diante do avanço das marcas sul-coreanas, como Samsung e LG.

Em 2011, a Panasonic ainda tinha presença relevante no mercado brasileiro de televisores. Mas, uma década depois, sua participação havia caído 90%.

A decisão fez parte de um movimento mais amplo da marca. Outras multinacionais, como Sony e Philips, já haviam deixado o mercado de TVs no país. A Panasonic seguiu o mesmo caminho — com o diferencial de ter mantido produção e investimento no Brasil, só que redirecionado para outras frentes.

No lugar, veio a aposta em eletrodomésticos.

Além de lavadoras e micro-ondas, a empresa passou a expandir sua atuação em refrigeradores — um mercado que, no Brasil, movimenta bilhões de reais por ano e cresce mesmo em cenários de inflação.

Como a Panasonic pretende disputar o consumidor premium

Hoje, mais de 70% dos refrigeradores vendidos no Brasil ainda são do tipo top freezer — o modelo mais tradicional, com o congelador na gaveta de cima do equipamento. A Panasonic opera nesse segmento, mas mira uma fatia menor, mais sofisticada: bottom freezer (com o congelador na gaveta de baixo), French Door (com abertura da porta no formato de janela), Glass Door, e produtos com tecnologias que falam diretamente com o consumidor mais exigente.

“Identificamos dois grandes perfis de clientes: os entusiastas de tecnologia e os multitarefas que buscam eficiência. É para eles que estamos desenvolvendo nossos produtos”, afirma Marques.

A Uniqglass, nesse sentido, funciona como vitrine. Entre os diferenciais, estão compartimentos com controle de temperatura individual, como o Prime Freeze (que congela até 5x mais rápido) e o Prime Fresh (que conserva alimentos sem congelar por até dez dias), além do sistema NanoeX, que promete eliminar até 99,99% das bactérias e 90% dos pesticidas dos alimentos.

“Mesmo quem não compra esse modelo específico percebe o nível de tecnologia envolvido, e isso ajuda a valorizar o portfólio como um todo”, diz Marques. “É um efeito cascata. O produto mais caro reforça o posicionamento e puxa a percepção de marca para cima.”

Desafios e próximos passos no Brasil

A Panasonic sabe que a disputa por esse consumidor não é simples. Marcas como LG, Samsung, Electrolux e Brastemp já têm forte presença em modelos premium. O diferencial, segundo a empresa, está na engenharia e no foco em durabilidade e eficiência.

“Nosso desenvolvimento é puxado pelo Japão, onde o espaço nas casas é pequeno e os consumidores exigem produtos mais compactos e funcionais. Isso nos obriga a pensar soluções mais inteligentes e aplicáveis ao dia a dia”, afirma Marques. A geladeira, por exemplo, é inspirada em modelos criados para o mercado japonês, onde compartimentos independentes e controle preciso de temperatura são padrão.

O produto é importado, mas parte do desenvolvimento foi adaptada com apoio da equipe local. A meta, segundo Marques, é aumentar a participação da marca em categorias onde ainda há espaço para diferenciação.

Ao todo, a Panasonic tem nove linhas de refrigeradores disponíveis no Brasil, variando entre design, tamanho e tecnologia. A Uniqglass chega para completar o portfólio no topo da pirâmide — e reforçar o posicionamento que a marca vem construindo nos últimos anos.

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