Gramado Summit: nanotecnologia entra no radar dos negócios (Leandro Fonseca )
Repórter de Negócios
Publicado em 9 de junho de 2025 às 15h58.
Última atualização em 9 de junho de 2025 às 16h10.
Gramado (RS) — Enquanto a inteligência artificial continua sendo o centro das atenções no setor de inovação, uma revolução mais silenciosa, mas igualmente transformadora, começa a ganhar espaço: a nanotecnologia. Durante o Gramado Summit 2025, a nanotecnologia foi abordada em vários painéis, que reuniram empresários, investidores e estrategistas de mercado para discutir os impactos dessa ciência nas indústrias, no futuro da economia e como o Brasil pode se posicionar nesse novo cenário.
A nanotecnologia ainda é um campo relativamente novo, o que torna sua explicação desafiadora até para especialistas. Aos leigos, a nanotecnologia permite alterar a estrutura molecular dos materiais, conferindo-lhes propriedades aprimoradas, como maior resistência, durabilidade, leveza e eficiência.
Isso pode resultar em redução de custos e melhorar o desempenho de diversas indústrias — da farmacêutica à agricultura, passando pela produção de materiais e dispositivos eletrônicos. Apesar de seu estágio inicial, a nanotecnologia está rapidamente ganhando relevância, com potencial de inovação que, segundo os especialistas, pode até mesmo superar o impacto da inteligência artificial.
"Após a onda da inteligência artificial, os materiais são a nova revolução. Os materiais tradicionais estão chegando no limite de sua capacidade, e a indústria vai se reinventar com nanotecnologia", destacou Démis Gameiro, CEO da Bluenano.
A presença desse tema no Gramado Summit não foi por acaso. Empresários e investidores já identificam a nanotecnologia como uma grande oportunidade de negócios para os próximos anos, especialmente no Brasil, que, apesar dos desafios econômicos, ainda possui um enorme potencial para explorar essa fronteira científica.
O evento contou com um painel mediado por Lucas Amorim, chefe de redação da EXAME, e com a participação de Carlos Johannpeter, presidente da Pradotech; Rodrigo Azevedo, CEO da GT Capital; e Gabriel Fongaro, macroestrategista do BTG Pactual, que discutiram como o Brasil pode se beneficiar dessa revolução silenciosa, mas poderosa.
Durante o debate, ficou claro que a nanotecnologia não é uma promessa do futuro, mas uma realidade já em transformação.
"A nanotecnologia já está acontecendo, mudando produtos e processos de maneira silenciosa. É a revolução dos materiais, que vai além da inteligência artificial", afirmou Carlos Johannpeter, presidente da Pradotech.
O empresário destacou que o impacto da nanotecnologia vai muito além do que conhecemos atualmente. Como exemplo, ele citou o grafeno, material capaz de revolucionar a indústria de eletrônicos e baterias, além de aprimorar processos em diversos outros setores. Na calçadista Vulcabras, por exemplo, o grafeno foi utilizado para desenvolver um tênis de alto desempenho. "Estamos falando de bilhões, talvez trilhões de dólares em impacto nos próximos anos", completou Johannpeter.
O Brasil enfrenta desafios estruturais que dificultam o avanço da nanotecnologia no país. A falta de investimentos consistentes em ciência e tecnologia, aliada a um ambiente econômico instável, coloca o Brasil em risco de ficar para trás em relação a outras economias mais preparadas para absorver essas inovações.
Fongaro, do BTG Pactual, apontou que o Brasil precisa investir mais em ciência e educação para promover o crescimento de setores como a nanotecnologia. “Com juros altos e um orçamento público restrito, o país investe pouco em ciência. Isso cria barreiras para projetos de longo prazo como a nanotecnologia”, afirmou.
Démis Gameiro, CEO da Bluenano Group, também destacou um grande obstáculo para o avanço da nanotecnologia no Brasil: a dificuldade em recrutar profissionais altamente qualificados. “É muito difícil recrutar no Brasil para pesquisa e desenvolvimento. Acabamos recrutando profissionais de fora, inclusive da Ásia”, comentou.
Para Gameiro, o setor privado também tem um papel crucial nesse cenário. "A ciência de base é cara, e o Brasil precisa formar novos cientistas. A curva está apontando para baixo", afirmou, enfatizando a necessidade de fortalecer as iniciativas privadas de financiamento à pesquisa e ao desenvolvimento de novas tecnologias.
Rodrigo Azevedo, CEO da GT Capital, trouxe uma perspectiva otimista sobre o papel do investidor na nanotecnologia. “Hoje, o investidor não precisa ser um especialista para apostar na nanotecnologia. Ele pode acessar esse mercado por meio de ETFs, fundos de índice que diversificam os investimentos”, explicou Azevedo. Ele explicou que essa abordagem permite que pequenos e médios investidores se exponham ao setor de nanotecnologia sem se arriscar em investimentos concentrados em uma única empresa.
Azevedo também falou sobre a necessidade de mudar a mentalidade dos investidores brasileiros, que tradicionalmente preferem a segurança da renda fixa. "O desafio está em preparar o investidor para entender que volatilidade é o preço da oportunidade", afirmou Azevedo.
Apesar dos desafios econômicos, os participantes do painel concordaram que o Brasil possui um grande potencial para se tornar um líder global na nanotecnologia. Johannpeter reforçou que, para aproveitar essa oportunidade, o país precisa pensar a longo prazo. "A revolução dos materiais já está em curso, e o Brasil precisa estar preparado para não ficar para trás", disse Johannpeter.
O executivo também ressaltou que o Brasil tem os recursos naturais, base científica robusta e uma sociedade empreendedora, elementos que oferecem um terreno fértil para o crescimento da nanotecnologia.
A nanotecnologia representa uma revolução silenciosa, mas com um impacto gigantesco que pode mudar como produzimos e consumimos produtos em todo o mundo. A oportunidade está à mesa, agora é hora de agir.
*A jornalista viajou a convite da Gramado Summit.
\