Maria Antonia Schimaneski, do Carreta da Alegria: o avô dela trouxe a experiência dos trenzinhos ao Paraná
Repórter
Publicado em 16 de maio de 2025 às 06h00.
Última atualização em 16 de maio de 2025 às 10h42.
Como brigadeiro, capoeira e festa junina, existe algo intrinsecamente brasileiro no Carreta da Alegria. Tente explicar para alguém de fora: um ônibus de até dois andares que passa pelas ruas com música alta enquanto pessoas vestidas de Capitão América e Mario se encaram em uma batalha de dança. Dentro dele, crianças, adolescentes e adultos vão à loucura em volta do brilho das luzes de LED e dos pirotécnicos. Só podia ter sido inventado por aqui.
Quem nunca viu um pelas ruas, pode conhecer pelos vídeos na Internet — e até confundir com o Carreta Furacão, de Ribeirão Preto. Mas, apesar das semelhanças, a Carreta da Alegria tem a própria história e um crescimento sólido que a tornou um negócio familiar milionário no Paraná. Foram cerca de R$ 5 milhões de reais em faturamento em 2024, vendendo ingressos de R$ 20 a R$ 25 todos os dias da semana.
O negócio começou por volta de 1980, criado pelo paranaense Antônio Schimaneski. Ele é avô da advogada Maria Antonia Schimaneski, que hoje comanda a operação. Na época, Antônio trabalhava numa funerária em Goiás e estava cansado de trabalhar com a tristeza. "Tinha um ônibus que passava com música lá na cidade, e era a alegria dele. Foi assim que ele decidiu trabalhar com isso", conta a empreendedora.
O avô levou a ideia para o Sul e começou com um trenzinho, ou Trenzinho da Alegria, em Ponta Grossa, no Paraná. Ao longo das décadas, o negócio virou da família: os tios e pais de Maria Antonia passaram a ter os próprios trens e, eventualmente, a primeira carreta em 2017. Apesar de hoje carregar o nome da empresa, o veículo foi um gasto de R$ 500 mil que virou arrependimento na hora.
Maria Antonia Schimaneski quando criança, em cima de um Trenzinho da Alegria
Tal qual Ayrton Senna, o pai de Maria Antonia, Charles Schimaneski, rapidamente percebeu que a estrutura do veículo não era boa suficiente para o trajeto que eles queriam percorrer. Ferro torto, chão irregular e outros defeitos levaram a família a vender a carreta. Todas são feitas por Charles desde então, e o custo para desenvolvê-las fica por volta dos R$ 300 mil.
Apesar de estar sempre envolvida de alguma forma ou de outra nos negócios da família — ela e a irmã ajudavam a escolher músicas pop, por exemplo —, Maria Antonia estava determinada a estudar Direito e não continuar no Carreta. Depois que se formou, passou alguns anos trabalhando num escritório de advocacia e não se sentiu completa. Assim como seu avô mais de quarenta anos antes, Maria percebeu que queria escolher a felicidade ao invés da tristeza.
Então, quando a mãe de Maria Antonia, Renata Schimaneski, a pediu para assumir o negócio familiar em 2024, ela aceitou na hora. "Percebi que poderia ajudar minha família a enfrentar desafios na gestão, principalmente nas áreas de marketing e administração. Aí não hesitei: larguei tudo e mergulhei de cabeça", diz a jovem de 26 anos. Ela sabia que precisaria trazer mudanças com ela, e foi atrás de aprender mais. Fez um curso na Disney com outros 20 empresários em abril de 2024, onde conheceu os bastidores da empresa e aprendeu coisas valiosas sobre como melhorar a experiência do cliente.
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As transformações começaram pelo olhar atento ao que o público faz, do momento que chega para comprar o ingresso até a saída da carreta. “Percebi que não bastava só a música alta e os personagens dançando. Precisávamos criar uma conexão real com as pessoas”, diz Maria Antonia. Ela introduziu recepcionistas para dar as boas-vindas e até animadores dentro das carretas para que o show não parasse em nenhum momento.
Além disso, a profissionalização passou pela padronização dos uniformes, atualização dos figurinos e a criação de uma identidade visual que conecta toda a equipe e os veículos. A inovação também chegou ao elenco: em 2025, a Carreta da Alegria lançou a primeira personagem feminina, Mary Happy. Idealizada por um desenhista em Gramado, é o primeiro boneco original da empresa. "Temos Mario, Chaves, Fofão, Homem-Aranha e às vezes Capitão América, mas nenhuma mulher. As meninas amam de qualquer forma, mas não se reconhecem, né?", diz.
Elenco do Carreta da Alegria posa em frente a um dos veículos da empresa
Com uma frota hoje composta por seis carretas e seis trenzinhos, a empresa emprega cerca de cinco pessoas por veículo, que ensaiam coreografias próprias e trabalham até oito horas por dia para manter o padrão de qualidade. A Carreta de Alegria está presente em Foz do Iguaçu, Ponta Grossa e Guaratuba – nessa última, faz parte do calendário oficial da cidade após vencer licitação.
Maria Antonia sonha em levar a Carreta da Alegria para o YouTube, com um desenho animado e um elenco próprio de personagens. Ela também quer levar a experiência das carretas de entretenimento para cidades como Dubai, onde o clima e a vida noturna combinariam com o formato do espetáculo. “Queremos mostrar que a alegria que criamos aqui pode conquistar qualquer lugar do mundo”, afirma a paranaense. “Se a pessoa está triste e vê o Homem-Aranha dando mortal ou o Fofão dançando funk, ela sorri. Esse é o nosso combustível”.