Thermas dos Laranjais, em Olímpia: “Se você não apresenta uma grande obra por ano, você não mantém o público", diz o presidente Jorge Noronha (Thermas dos Laranjais/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 4 de setembro de 2025 às 11h04.
Última atualização em 4 de setembro de 2025 às 11h23.
Nada de Estados Unidos ou Europa.
O segundo parque aquático mais visitado do mundo fica no Brasil — mais precisamente, em Olímpia, cidade paulista a 450 quilômetros de São Paulo.
Todos os anos, passam por ali cerca de 2 milhões de visitantes. O único que supera esse número é o Chimelong Water Park, na China.
O Thermas dos Laranjais, fundado em 1987, tem mais de 60 atrações ativas e movimenta 240 milhões de reais por ano.
A receita vem sendo reinvestida, ano após ano, em novos brinquedos, reformas e expansão. Agora, o parque se prepara para inaugurar o “Nações”, um dos maiores complexos de toboáguas do mundo, com 33 metros de altura e tecnologia canadense.
O projeto custou 60 milhões de reais e está na fase final de montagem. A nova atração vai reunir oito experiências diferentes em duas descidas temáticas: uma inspirada no Brasil e outra na Itália — uma homenagem ao fundador do parque, Benito Benatti, falecido neste ano aos 93 anos.
“Se você parar de criar, o público para de voltar. Nosso negócio é surpreender. A cada ano tem que ter uma grande novidade”, afirma Jorge Noronha, arquiteto responsável pelo projeto e presidente do parque. “Nosso slogan hoje é: nunca vamos parar de crescer.”
Além do Nações, o parque já comprou uma área três vezes maior que a atual e planeja construir um segundo parque nos próximos anos. O investimento previsto passa de 300 milhões de reais até o fim da década.
O Thermas dos Laranjais nasceu como um clube social em meados dos anos 1980, quando a cidade de Olímpia ainda tinha menos de 20.000 habitantes e vivia basicamente da citricultura.
A guinada veio com a descoberta de água termal na região, o que possibilitou criar um parque aquático com piscinas naturalmente aquecidas.
“Na época, parque aquático no Brasil era sinônimo de piscina olímpica e trampolim. A gente trouxe aventura para a água”, diz Noronha. “Não tínhamos dinheiro nem para comprar boia. Montamos uma fábrica dentro do parque.”
Boa parte dos brinquedos foi criada com base em experiências de viagem e observação da natureza.
A piscina de sal, por exemplo, simula o efeito do Mar Morto. Outra, com cadeiras submersas, foi inspirada em uma cena do Jalapão. Há também uma piscina que “empurra” os banhistas para cima, usando areia de quartzo, como ocorre naturalmente em Bonito, no Mato Grosso do Sul.
Durante mais de duas décadas, o parque operou com capital próprio, sem investidores externos ou grandes financiamentos. “Nunca demos um passo maior que a perna”, afirma o presidente.
O modelo chamou atenção fora do país. “Em feiras internacionais, as pessoas dizem: existe parque aquático no Brasil antes e depois do Thermas dos Laranjais”, diz Noronha.
O novo complexo de toboáguas é um dos maiores do mundo e o maior já construído no Brasil.
São oito experiências em um único conjunto, com atrações como o Orbiter (que simula um looping com boia), o Master Blaster (aceleração em subidas) e o Anaconda — o toboágua com o maior diâmetro do mundo, presente hoje apenas em Dubai.
Na outra descida, batizada de Itália, o visitante enfrenta dois Tailspins (aceleração circular), dois Mega Drops (quedas e subidas intensas) e o Galaxy Bowl, uma experiência de giro e queda. Todos os trajetos contam com iluminação interna e boias especiais para grupos de até seis pessoas.
Brinquedo Nações: um dos maiores complexos de toboáguas do mundo recebeu investimento de R$ 60 milhões (Thermas dos Laranjais/Divulgação)
“É o primeiro brinquedo do tipo no Ocidente. Ele foi projetado com uma empresa canadense e desenvolvido sob medida. Não existe nada igual no mundo”, diz Noronha.
A estratégia de investir em grandes novidades todos os anos tem um objetivo claro: manter o interesse do público e a recorrência da visita.
“Se você não apresenta uma grande obra por ano, você não mantém o público. O Nações vai atrair gente só pela curiosidade”, afirma.
O cálculo é pragmático: “Se só 5% dos nossos 2 milhões de visitantes vierem por causa do brinquedo novo, são 100 mil pessoas a mais. Isso paga o investimento rapidinho.”
Durante a pandemia, o parque ficou oito meses fechado.
A receita zerou, mas nenhum funcionário foi demitido. A equipe foi mantida com o caixa acumulado — 20 milhões de reais à época — e uma estratégia de guerra: suspenderam pagamentos a fornecedores e impostos para priorizar a folha salarial.
“Foi desesperador. Mas conseguimos sobreviver com caixa e planejamento. Aprendemos, inclusive, quanto custa o parque por dia. Isso mudou a forma como a gente gere tudo aqui dentro”, diz Noronha.
Depois da reabertura, a recuperação foi rápida.
“Um ano depois, já tínhamos pago todos os impostos atrasados. Ficamos dois anos sem grandes investimentos, fazendo apenas manutenções. Hoje estamos financeiramente saudáveis.”
A crise também reforçou o modelo de gestão do parque: envolvimento direto dos sócios, obras com mão de obra própria e controle rigoroso dos custos.
“Nosso parque foi todo construído por nós mesmos. Isso reduz muito o custo final.”
Além do Nações, o Thermas já tem um pipeline robusto de projetos para os próximos anos.
O principal deles é um segundo parque, em um terreno de 40 alqueires recém-adquirido. A proposta é unir atrações aquáticas e experiências de natureza, como tirolesa, arvorismo e paisagens inspiradas em destinos como Capitólio.
“O novo parque vai ser mais voltado à água também, mas com outra proposta. Não é nossa praia fazer montanha-russa. Nosso foco é brincar com a água”, afirma Noronha.
O plano é interligar os dois parques por uma área comum, no estilo da Universal Studios em Orlando, com passarelas e estacionamento compartilhado.
“A ideia é que o visitante chegue e escolha: vai no Thermas ou no novo parque?”
A estimativa é investir mais de 300 milhões de reais nos próximos anos, incluindo outro brinquedo grandioso já em fase de projeto, avaliado entre 60 e 70 milhões de reais.
Mesmo com o sucesso, o parque mantém uma lógica de crescimento controlado. Os 560 funcionários são contratados de forma permanente — não há contratações sazonais, mesmo com o aumento de demanda no verão. A operação é desenhada para ser sustentável o ano todo, aproveitando o clima quente do interior paulista e o fato das águas serem termais.
O parque também controla os preços dos produtos vendidos internamente, mesmo com os pontos de alimentação terceirizados. “O preço de um refrigerante dentro do parque é igual ao do bar da cidade. Não exploramos o turista. Queremos que ele volte”, afirma o executivo.
Com cerca de 60.000 habitantes, Olímpia mudou completamente de perfil nas últimas décadas. “Era uma cidade de laranja. Hoje todo mundo conhece Olímpia. O parque mudou a vocação da cidade”, diz Noronha.
Mesmo reconhecendo o sucesso, ele evita a euforia.
“Se lá atrás a gente tivesse feito um plano de negócios para construir um parque aquático em Olímpia, teriam nos chamado de malucos. Mas funcionou. Porque foi feito com calma, sem exageros".
Em Olímpia, o que começou com um mergulho ousado virou um parque de proporções globais.