Negócios

Nos cursos à distância, Kroton vê concorrência avançar por todos os lados

Fatia da Kroton nos cursos à distância foi de 38% para 25% em 4 anos, segundo dados da consultoria Educa Insights.

Sala de aula da Kroton (Germano Lüders//Exame)

Sala de aula da Kroton (Germano Lüders//Exame)

Mariana Desidério

Mariana Desidério

Publicado em 10 de outubro de 2019 às 06h00.

Última atualização em 10 de outubro de 2019 às 11h54.

O mercado de educação à distância cresceu de forma assustadora nos últimos anos. Em 2018, pela primeira vez o número de vagas ofertadas em cursos à distância superou o número de vagas em cursos presenciais: foram 7 milhões de vagas remotas, ante 6,3 milhões de vagas presenciais. No mundo das universidades privadas, 46% das novas matrículas de 2018 foram em cursos à distância; em 2017 eram 37%. A modalidade ganhou 324 mil matrículas no período.

Há tempos a rainha absoluta no segmento é a Kroton, dona da Anhanguera. Mas esse quadro está mudando -- e rápido.

Maior companhia de educação do país, a Kroton tinha 38% do mercado de EAD em 2014 e vem perdendo espaço desde então. De 2017 para 2018, a perda foi oito de pontos percentuais: a empresa foi de 33% do mercado para 25%, de acordo com dados do Censo da Educação Superior 2018 compilados pela consultoria Educa Insights.

Ainda que o mercado de ensino à distância tenha crescido de forma considerável -- foi de 1,2 milhão de alunos para 1,8 milhão entre 2014 e 2018 --, a perda de espaço da Kroton para outras empresas do setor representou uma redução efetiva de alunos para a companhia, que teve menos 46 mil estudantes de 2017 para 2018.

Mesmo assim, a empresa permanece como a maior do setor. No período analisado, a paulista Unip,  segunda colocada, foi de 9% para 12% em participação de mercado. Em terceiro lugar está a Uniasselvi, que foi de 8% para 11% (veja gráfico).

Com sede em Santa Catarina, a Uniasselvi foi a universidade privada que mais ganhou alunos em números absolutos em 2018, com 61,6 mil novos estudantes, aumento de 43% em relação a 2017, de acordo com o levantamento da Educa Insights.

Curiosamente, a Uniasselvi que hoje incomoda a Kroton já foi parte da companhia. A gigante da educação comprou a empresa catarinense em 2012 por 510 milhões de reais e a vendeu quatro ano depois por R$ 1,1 bilhão para os fundos Carlyle e Vinci. De lá para cá a rede ganhou 81 mil alunos no ensino à distância.

“A Uniasselvi teve uma grande expansão no número de polos nos últimos anos, oferece cursos com encontros semanais, o que atrai o cliente, e sabe quando dar um desconto para o aluno certo”, afirma Daniel Infante, diretor da Educa Insights.

Outra empresa não listada em bolsa e que chama a atenção é a Unip, segunda maior do segmento de ensino à distância e que ganhou 55,7 mil alunos entre 2017 e 2018. Já a Unicesumar foi a companhia com escala nacional que mais cresceu em números relativos, com incremento de 28,7 mil alunos no período, alta de 45%.

A Cruzeiro do Sul Educacional também teve crescimento relevante, com 26,5 mil novos alunos. O grupo tem chamado a atenção pelo foco em aquisições, sendo a mais recente a do centro universitário Braz Cubas, na região metropolitana de São Paulo.

Das listadas em bolsa, a Yduqs (ex-Estácio), segunda maior companhia de educação superior do país, ganhou 31,1 mil alunos no ensino à distância (alta de 24%). Já a Ser ganhou 2,8 mil alunos, alta de 33%. Das doze universidades analisadas, somente a Kroton perdeu espaço.

Kroton se mexe

A Kroton tem se mexido para fazer frente à concorrência. No início da semana, a empresa anunciou que vai mudar de nome e de formato da operação. A companhia será dividida em quatro braços que serão administrados pela holding Cogna Educação — que vem de “cognição”.

As empresas serão a Kroton, que segue com o mesmo nome e foco em cursos de ensino superior; a Saber, que inclui cursos de línguas e as escolas de ensino básico das quais a Kroton é dona; a Vasta Educação, que vai oferecer serviços de gestão para as escolas e material didático, incluindo eventual participação em licitações públicas; e a Platos, criada para oferecer serviços de gestão para o ensino superior. O grupo terá ainda um braço de investimento em startups, a Cogna Venture.

O atual presidente da Kroton, Rodrigo Galindo, será o presidente da holding Cogna. Roberto Valério, que era presidente de ensino superior, passará a ser o presidente da marca Kroton.

O anúncio não foi bem recebido pelo mercado e a empresa perdeu 1,3 bilhão de reais em valor de mercado. Mas evidencia a estratégia de diversificar os negócios para continuar crescendo após alguns resultados decepcionantes. No segundo trimestre de 2019, o lucro líquido ajustado da companhia foi de 267 milhões, 44,2% menor que o do mesmo período do ano passado.

No ensino à distância, setor em que a Kroton nadou de braçada nos últimos anos, uma das estratégias está no reforço da relação com os parceiros nos polos espalhados pelo país. A companhia tem presença hoje em cerca de mil cidades e quer chegar perto de 2 mil cidades.

Segundo relatório recente do Itaú BBA, a expansão deve ser promovida por parceiros que já atuam com a Kroton, o que amplia as chances de sucesso. “Esse modelo aumenta significativamente as chances de sucesso dos novos polos de ensino à distância, porque os donos já estão familiarizados com a dinâmica do negócio”, diz o banco. “O maior desafio na expansão dos polos EAD é identificar bons parceiros”, completa.

A empresa também trabalha para melhorar a performance dos polos já existentes, a partir de uma comparação periódica de desempenho entre os diferentes polos e o compartilhamento de boas práticas das unidades de mais sucesso. Um aplicativo reúne dados de todos os polos e identifica desvios em unidades específicas. A partir daí, os polos com performance abaixo da média recebem a orientação de gerentes regionais.

Apesar do cenário desafiador, o banco avalia a estratégia da companhia no EAD como positiva. Em resumo, a Kroton não aderiu a descontos agressivos, que poderiam comprometer suas receitas, e espera a concorrência perder o fôlego nos próximos anos, em especial pequenos competidores. Afinal, o jogo do ensino à distância é caro e exige escala. "O principal risco é a continuação do atual ambiente competitivo por um tempo maior do que o esperado", pondera o banco.

Tendências do setor

Os dados compilados pela Educa Insights mostram que a disputa pelo mercado de ensino à distância deve continuar acirrada no quesito preço. O preço médio dos cursos caiu 19% entre 2018 e 2019 -- foi de 291 reais para 237 reais mensais.

Já os cursos híbridos, com aulas presenciais e à distância aumentaram sua fatia no mercado: em 2018 representavam 16% do mercado EAD, ante 12% em 2017. A modalidade cresce com a oferta de cursos mais complexos, como engenharia e enfermagem.

Outra tendência que deve continuar é a da consolidação do setor. A Cruzeiro do Sul comprou recentemente a Braz Cubas e estuda a aquisição da Positivo. Outras operações podem aparecer em breve. “Existem ativos disponíveis no mercado e, se a economia responder bem, devemos ver mais fusões”, afirma Infante.

 

 

Acompanhe tudo sobre:Yduqs / EstácioCogna Educação (ex-Kroton)Educação

Mais de Negócios

Conheça os líderes brasileiros homenageados em noite de gala nos EUA

'Não se faz inovação sem povo', diz CEO de evento tech para 90 mil no Recife

Duralex: a marca dos pratos "inquebráveis" quebrou? Sim, mas não no Brasil; entenda

Quais são os 10 parques de diversão mais visitados da América Latina — 2 deles são brasileiros