Magda Chambriard, CEO da Petrobras: “O Brasil precisa ampliar sua geração energética em todas as frentes, e a Petrobras terá papel decisivo nesse processo” (Leandro Fonseca /Exame)
Repórter
Publicado em 20 de agosto de 2025 às 15h30.
A Petrobras se prepara para retomar um capítulo histórico de sua trajetória: o etanol. Segundo a presidente Magda Chambriard, a estatal deve voltar a atuar nesse mercado ainda em 2025, resgatando um protagonismo que marcou a companhia desde a década de 1970, quando o combustível renovável ganhou força no país.
“Saímos do etanol no passado recente, mas nossa meta é voltar para o etanol, se Deus quiser, ainda este ano. Vamos também ampliar nossa participação no biodiesel, investir em combustíveis carbono neutro e avançar em projetos de eólica e solar”, disse a executiva durante entrevista ao podcast "De Frente com CEO", da EXAME.
A retomada do etanol simboliza não apenas uma volta às origens, mas também uma resposta à crescente pressão pela transição energética. Para a presidente, no entanto, é preciso olhar além do conceito tradicional e pensar em adição energética.
“O Brasil é uma das dez maiores economias do mundo, mas pobre em energia per capita. Se quisermos elevar nosso índice de desenvolvimento humano, precisamos gerar muito mais energia - de todas as fontes possíveis”, afirma Chambriard.
Enquanto acelera os investimentos em renováveis, a Petrobras também aposta na expansão da exploração de petróleo e gás. A estatal direciona esforços para a margem equatorial e a bacia de Pelotas e busca oportunidades no litoral africano, região que guarda semelhanças geológicas com a costa brasileira.
“Não existe futuro para uma empresa de petróleo sem exploração. O pré-sal deve atingir o pico de produção até 2030 ou 2032. A partir daí, entraremos em declínio, e precisamos de novas reservas. É por isso que estamos investindo na margem equatorial e também olhando para fora do país.”Outro movimento estratégico é a retomada da produção de fertilizantes. As fábricas da Bahia e de Sergipe devem voltar a operar, enquanto a unidade de Mato Grosso do Sul será concluída. Somadas, essas plantas devem consumir cerca de 5 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia, ampliando a presença da Petrobras nesse mercado.
“Fazer fertilizante significa ampliar o mercado de gás natural. Estamos rompendo o ciclo vicioso de não investir, porque não há mercado e não ter mercado porque não se investe. A Petrobras pode e deve liderar esse processo”, afirma Chambriard.
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Ao ser questionada sobre a visão dos investidores, a presidente da Petrobras reforça que a companhia segue robusta e eficiente.
“A Petrobras é uma tremenda geradora de caixa. Estamos interligando poços em menos tempo, antecipando plataformas e aumentando a produção. Quem apostar contra a empresa vai perder dinheiro”, afirma a presidente.
No podcast, a presidente também reforça que a última plataforma instalada no campo de Búzios atingiu capacidade plena de 225 mil barris por dia com apenas cinco poços. “Tem país que não produz isso.”
O impacto do tarifaço anunciado por Donald Trump também foi tema da conversa no podcast da EXAME. A presidente da Petrobras explicou que, apesar de o tema ter mexido com a economia brasileira, o setor de petróleo não foi afetado diretamente.
“O nosso principal mercado é o mercado brasileiro", diz a presidente.
Chambriard também conta que o Brasil exporta muito petróleo para a Ásia e uma parte menor para os Estados Unidos.
"Também enviamos derivados, mas em menor proporção. O que a gente exporta para os Estados Unidos poderia ser deslocado para outros mercados, mas nem foi necessário, porque o setor petróleo foi excluído do tarifaço”, diz a presidente que reforça que a estatal mantém uma presença global comparável a gigantes como Shell, BP, Chevron e Equinor.
Durante sua gestão que completou um ano em junho deste ano, Chambriard já conseguiu um grande marco: pela primeira vez na história a Petrobras alcançou a maioria feminina em sua diretoria. Para Chambriard, a conquista não foi fruto de cotas, mas de um processo justo de seleção.
“Coloquei a luz igualmente sobre homens e mulheres. O resultado foi uma diretoria equilibrada e diversa. Esse olhar feminino agrega e fortalece a empresa”, afirma a executiva que entrou na Petrobras na década de 80.
Quando o recorte é transição energética, a presidente da Petrobras afirma que a expansão da matriz energética brasileira não é apenas um tema setorial, mas um fator diretamente ligado ao desenvolvimento humano do país.
“Quem consome mais energia no mundo também tem os maiores níveis de qualidade de vida. O Brasil precisa ampliar sua geração energética em todas as frentes, e a Petrobras terá papel decisivo nesse processo.”