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O atacarejo do Norte que fatura R$ 3 bilhões e quer bater de frente com os gigantes

Com sede em Manaus, grupo aposta em marca própria, fábrica de alimentos e expansão no interior para desafiar os líderes nacionais do atacarejo

Marcelo Gastaldi, da Nova Era: "Entramos num novo ciclo, com indústria, marca própria e uma gestão logística que precisa ser quase cirúrgica para funcionar na região” (Grupo Nova Era/Divulgação)

Marcelo Gastaldi, da Nova Era: "Entramos num novo ciclo, com indústria, marca própria e uma gestão logística que precisa ser quase cirúrgica para funcionar na região” (Grupo Nova Era/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 9 de junho de 2025 às 11h45.

Última atualização em 9 de junho de 2025 às 14h50.

O setor de atacarejo, mistura de atacado com varejo, ganha força ano após ano no Brasil.

Com cada vez mais consumidores mirando no preço baixo para escolher onde fazer as compras do mês, as redes acabam entrando numa disputa de margens apertadas em todo o país para sair na frente.

Mas no Norte, onde a logística complica até o transporte de frutas e verduras, uma rede regional tem ganhado espaço na disputa com gigantes como Atacadão e Assaí.

Fundado em Rondônia e hoje com sede em Manaus, o Grupo Nova Era é um dos maiores supermercadistas da região Norte. A empresa, que começou como distribuidora, aposta agora em expansão física, verticalização e marca própria para atingir 5 bilhões de reais em receita até 2027. Em 2025, a expectativa é faturar 3,4 bilhões de reais, um salto de 1 bilhão sobre o ano anterior.

O momento marca uma virada estratégica do grupo, que além de estar concluindo a integração de cinco lojas adquiridas no ano passado, acaba de inaugurar uma fábrica de alimentos e prepara o lançamento de marcas próprias.

“Nosso crescimento sempre foi sustentável e pautado em aquisições certeiras", afirma Tarcísio Bunzli, diretor comercial do grupo. "Mas agora entramos num novo ciclo, com indústria, marca própria e uma gestão logística que precisa ser quase cirúrgica para funcionar na região”.

O plano do Nova Era combina três frentes:

  • expansão de lojas físicas no interior do Amazonas, Rondônia e Roraima;
  • aumento da eficiência operacional com uma indústria de panificação recém-inaugurada;
  • mais rentabilidade com o lançamento das marcas próprias GranBom (alimentos) e Sertz (eletros e bazar).

Qual é a história da empresa

O Grupo Nova Era nasceu em 1981, em Ji-Paraná, Rondônia, fundado por Luiz Gastaldi Jr. como uma distribuidora de alimentos.

Por décadas, operou no atacado tradicional, vendendo para pequenos varejistas da região.

A virada aconteceu com a entrada da segunda geração. Marcelo Gastaldi, filho do fundador, levou a empresa para Manaus e iniciou a operação de varejo com a bandeira Super Atacado Nova Era, há 13 anos.

Hoje, o grupo soma 43 unidades de negócio espalhadas pelo Amazonas, Rondônia e Roraima, com cerca de 6.000 funcionários.

Além das lojas de atacarejo, mantém o Pátio Gourmet, marca de varejo premium com três lojas em Manaus, e ainda opera 11 lojas autônomas em condomínios de alto padrão.

Quais são os planos de expansão

Nos últimos anos, o crescimento veio principalmente por aquisições.

Em 2020, o Nova Era incorporou a rede local Big. Em dezembro de 2024, comprou cinco lojas da bandeira Atak, cuja virada foi concluída em fevereiro de 2025. Agora, o foco está na expansão orgânica, especialmente no interior.

“Temos oportunidades no interior do Amazonas, em cidades médias de Rondônia e também em Roraima. Já temos uma nova loja do Pátio Gourmet com contrato assinado e outras negociações em andamento”, afirma Bunzli.

Cada nova unidade exige investimento entre 30 e 40 milhões de reais. As lojas seguem o padrão atacarejo, com cerca de 4.500 metros quadrados e serviços como padaria, açougue e hortifruti, o que exige uma operação mais robusta, mas também garante maior ticket médio.

A ideia é avançar com lojas próprias, mas o grupo mantém a possibilidade de novas aquisições se surgirem oportunidades locais.

O principal desafio: logística

Para fazer a operação funcionar no Norte, onde o transporte é lento e caro, o grupo criou um sistema logístico próprio. Tem centro de compras de frutas e verduras em São Paulo, compradores no Nordeste e transporte refrigerado com atmosfera controlada para preservar a qualidade dos alimentos.

“Se eu compro uva no Rio Grande do Norte, ela leva no mínimo 20 dias para chegar em Manaus. É um produto vivo, que estraga fácil. Então preciso de controle extremo,  e mesmo assim, parte da carga chega com avaria”, afirma Bunzli.

A estratégia busca driblar o impacto dos atravessadores e garantir competitividade. Mas a margem continua pressionada.

“Estamos num setor extremamente agressivo, com grandes redes brigando centavo a centavo. Faturamento alto não significa rentabilidade garantida.”

E outros desafios no radar

Além da logística, o Nova Era enfrenta uma mudança no padrão de consumo.

“O cliente está comprando só o que está na promoção. Em algumas lojas, até 55% das vendas do dia são itens promocionais”, diz. Antes, o consumidor fazia o rancho completo. Hoje, caça descontos em várias redes.

Essa mudança de comportamento tem impacto direto na margem, e também reflete o aperto financeiro das famílias.

Além disso, o setor de supermercados tem dificuldade crônica de atrair e reter profissionais, especialmente para funções como operador de caixa. Para enfrentar o problema, o Nova Era criou uma creche própria, com 100 crianças atendidas gratuitamente. A gestão é feita pela Yupi, empresa especializada.

Mesmo assim, a adesão ao autoatendimento foi inevitável. Hoje, 30% das transações nas lojas já são feitas via self-checkout.

“Foi uma saída que encontramos diante da dificuldade de contratar e reter”, diz Bunzli.

Verticalização e marcas próprias

A indústria própria, inaugurada em maio, é focada em panificação, confeitaria e salgados para abastecer as lojas do grupo. A segunda etapa do plano é o lançamento das marcas GranBom (alimentos) e Sertz (bazar e eletros).

“Com marca própria, você foge da guerra de preço. A gente quer oferecer qualidade, melhorar a margem e não depender só dos grandes fornecedores”, diz Bunzli.

A nova linha deve incluir água de coco, molhos, frios e carnes. A meta é ganhar tração em categorias estratégicas e, no futuro, vender também para pequenos mercados da região.

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