Márcio Clare, da Terra dos Dinos: “Dinossauro não prescreve. Atravessa gerações” (Terra dos Dinos/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 17 de maio de 2025 às 08h12.
Miguel Pereira, cidade serrana no interior do Rio de Janeiro, talvez não seja o primeiro destino que vem à mente quando se fala em parques temáticos. Mas é de lá que vem uma das atrações mais curiosas — e rentáveis — do entretenimento brasileiro recente.
Inaugurado em 2022, o Terra dos Dinos já recebeu mais de 600.000 visitantes, acumula quase 400.000 seguidores no Instagram e virou um fenômeno entre vídeos virais de dinossauros assustando crianças e adultos em trilhas no meio da mata.
O idealizador da atração é Márcio Clare, empresário com histórico na produção de grandes eventos como o MotoGP e a Disney Magic Run.
Ele conta que resistiu à ideia no início, mas foi convencido por um raciocínio direto: “Dinossauro não prescreve. Atravessa gerações.”
Inspirado pela Disney, Clare montou um time com nomes de peso, como o arquiteto João Uchôa (responsável por palcos icônicos do Rock in Rio), que ajudou a desenvolver a narrativa do parque.
O objetivo era claro: fugir da fórmula de réplicas estáticas e criar uma experiência imersiva, com atores fantasiados, labirintos, trilhas sensoriais e até sustos planejados.
“O que a gente escuta muito é isso: ‘isso aqui é padrão Disney’”, afirma Clare. “Não adianta ser uma exposição. Tem que ser parque, com emoção, com história, com surpresa.”
Hoje, o Terra dos Dinos fatura mais de 25 milhões de reais por ano — e deve fechar 2025 com 30 milhões de reais em receita.
A operação, segundo o fundador, é altamente lucrativa: “O parque gera muito caixa. A família vai para gastar. Compra foto, faz tirolesa, come no restaurante", diz. "A experiência é o centro.”
O sucesso do parque em Miguel Pereira incentivou Clare a mirar mais alto.
A empresa anunciou um investimento de 200 milhões de reais para construir pelo menos três novas unidades até o fim de 2026.
As obras já começaram em Campos do Jordão (SP), com inauguração prevista para o primeiro trimestre de 2026. No local, os visitantes encontrarão atrações inéditas, como a “cidade perdida”, um grande labirinto imersivo no meio da mata.
Outra unidade confirmada será em João Pessoa (PB), dentro do Polo Turístico Cabo Branco, um megacomplexo estadual que está sendo erguido com mais de 14.000 leitos hoteleiros.
A terceira cidade ainda está em definição. Inicialmente, o plano era abrir uma unidade em Guarapari, no Espírito Santo, mas o projeto foi cancelado após dificuldades com o licenciamento ambiental. “Já tínhamos feito investimento, comprado dinossauros, preparado tudo. Mas ficou claro que não existia parceria", diz Márcio. “Estamos conversando com outras prefeituras. Queremos estar em cidades que abracem o projeto”.
Atualmente, o parque em Miguel Pereira emprega cerca de 200 pessoas com carteira assinada, além de movimentar restaurantes, pousadas e comércios da região.
Só em 2023, foram cerca de 350.000 visitantes — 30% deles em excursões escolares. O público é majoritariamente do Rio de Janeiro, mas cresce a cada mês a presença de turistas de São Paulo e Minas Gerais.
O movimento acompanha a tendência do setor.
Segundo um estudo do Sindepat (Sistema Integrado de Parques e Atrações Turísticas) e da Adibra (Associação Brasileira de Parques e Atrações), o Brasil deve receber 63 novos empreendimentos do tipo até 2027, com investimentos estimados em R$ 9,6 bilhões e geração de 11 mil empregos fixos.
O mais expressivo deles é o parque de 2 bilhões de reais que a Cacau Show irá abrir em Itu, no interior de São Paulo. O tema foi assunto da reportagem de capa da revista EXAME de abril. Leia aqui.
A história do Terra dos Dinos começa em 2020, ainda em plena pandemia.
A proposta de criar um parque temático no meio da mata partiu do então prefeito de Miguel Pereira, que se inspirava no exemplo de Gramado, no Rio Grande do Sul, como destino turístico.
Marcio Clare topou a ideia com a condição de que o parque fosse muito mais do que uma exposição — queria que fosse uma experiência sensorial e imersiva.
O terreno, de área pública, foi concedido por meio de uma PPP (Parceria Público-Privada). O modelo prevê pagamento de 5% do faturamento bruto do parque como outorga à prefeitura, além de 3% em ISS — uma receita importante para o município. “Transformaram um antigo lixão em uma floresta visitável. E o parque ajuda a preservar a área, gerando acesso, emprego e impostos”, diz Clare.
Na operação, os detalhes fazem diferença: os dinossauros animatrônicos (termo técnico para os bonecos capazes de mexer as patas) vieram da China. Alguns são tratados como “pacientes”, recebendo “cirurgias” internas quando um motor falha. Já outras esculturas são feitas por artistas brasileiros e espalhadas por trilhas, restaurantes e áreas instagramáveis.
O parque também tem uma Gruta Fantasma, onde um ator fantasiado dá sustos em visitantes no escuro — em uma homenagem a antigas atrações como a Monga, do Tivoli Park.
“Eu me lembro de ficar uma semana sem dormir depois de ir num desses parques quando era criança. Queria causar esse tipo de memória também. O parque precisa ser inesquecível.”
Com o sucesso de Miguel Pereira e os próximos parques em construção, Clare já projeta o futuro: sete ou oito unidades até 2026, e um plano de internacionalização a partir de 2027. “Eu achava que isso seria um negócio paralelo. Hoje, vejo que é o meu projeto de vida.”