Simone Galante, da consultoria Galunion: "A Amazon está garantindo acesso a um serviço que traduz o que há de mais valioso hoje: conveniência e tempo.” (Rappi/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 9 de setembro de 2025 às 09h31.
Última atualização em 9 de setembro de 2025 às 12h34.
A parceria entre Amazon e Rappi pode mudar o jogo do mercado de consumo no Brasil e na América Latina. A gigante americana de e-commerce fez, segundo apuração da Bloomberg, um investimento inicial de US$ 25 milhões em notas conversíveis na startup colombiana de entregas, avaliada em mais de US$ 5 bilhões. Caso metas estipuladas sejam alcançadas, a Amazon poderá ampliar sua fatia para até 12% da empresa.
A operação combina a infraestrutura tecnológica e de nuvem da Amazon com a capilaridade de última milha da Rappi, presente em nove países da América Latina e em mais de 350 cidades. Para a consultora Simone Galante, trata-se de um acordo ganha-ganha.
“A Amazon se fortalece em um mercado onde ainda não tem a mesma penetração que o Mercado Livre, enquanto a Rappi ganha musculatura tecnológica e acesso a capital para competir com gigantes”, analisa Simone Galante, da consultoria Galunion.
O movimento insere a Amazon de vez na disputa com o Mercado Livre, marketplace líder no continente. Só no Brasil, a companhia tem vendas anuais estimadas em R$ 138,9 bilhões, superando gigantes do varejo físico, como o Grupo Carrefour. No mesmo levantamento da IRTT, a Amazon aparece na quarta posição com R$ 39 bilhões em vendas.
“O grande desafio da Amazon na América Latina é aumentar sua relevância no cotidiano. E a Rappi é o atalho mais rápido para isso”, diz Simone Galante.
O setor de delivery na América Latina passa por um momento de ebulição. Segundo a Statista, só no Brasil o segmento deve movimentar US$ 21,1 bilhões em 2025, impulsionado pela chegada de novos empresas e pela diversificação de modelos de negócio.
O quick commerce, que começou com entregas de refeições e se expandiu para produtos de conveniência, já explodiu na Índia e na China e ganha velocidade no Brasil.
Nesse contexto, o unicórnio colombiano foi pioneiro com o Rappi Turbo, voltado a entregas ultrarrápidas, a grande fortaleza de sua operação.
“Em uma eventual aliança estratégica, a Rappi ganha fôlego e capacidade de investimento para escalar o modelo. Ao mesmo tempo, a Amazon teria entrada imediata nesse mercado, sem precisar construir a operação do zero, mas tudo depende dos termos do acordo”, avalia Simone.
A competição tende a esquentar nos próximos meses com a volta da 99Food, a estreia da Keeta, chinesa Meituan, e o avanço do iFood, que anunciou aporte de R$ 17 bilhões e entregas mais rápidas para se manter na liderança.
“A disputa por eficiência e escala será cada vez mais intensa”, afirma Simone. “Mas a briga por preços corrói margens e não fideliza clientes. A experiência de compra e a conveniência serão cada vez mais decisivas.”
Fundada em 2015 em Bogotá, a Rappi já recebeu aportes de investidores como Softbank e Sequoia Capital. Em agosto, levantou US$ 100 milhões em empréstimo sênior junto à Kirkoswald Private Credit e ao Banco Santander, reforçando a liquidez em meio a um plano de crescimento sustentável.
A operação brasileira é a terceira mais relevante para a Rappi, ficando atrás da Colômbia, onde ocupa a liderança, e do México, marcado pela disputa com Uber Eats e 99.
No Brasil, a empresa anunciou investimento de R$ 1,4 bilhão nos próximos três anos e anunciou a isenção de taxas de restaurantes parceiros pelo mesmo período. Em troca, negocia preços de cardápio menores, com a promessa de que “o Rappi será mais barato que os concorrentes”, segundo Felipe Criniti, head da operação no país.
A meta é saltar de 30 mil para 100 mil restaurantes ativos e transformar a vertical de comida, responsável por apenas 20% das transações, em porta de entrada para o superapp, que também reúne farmácias, mercados e serviços financeiros.
Para a Amazon, a entrada na Rappi segue uma lógica já aplicada em outros mercados. Nos Estados Unidos, adquiriu a rede Whole Foods e, na Europa, fez aportes em empresas como Deliveroo e Grubhub, sempre mirando serviços de alta recorrência.
“Esse não é um investimento isolado, mas uma jogada estratégica”, afirma Galante. “A Amazon está se aproximando do consumidor final em sua rotina diária e garantindo acesso a um serviço que traduz o que há de mais valioso hoje: conveniência e tempo.”
Na avaliação, trata-se de um acordo de ganhos mútuos. “A Rappi se beneficia da força tecnológica e da reputação da Amazon, enquanto a Amazon se insere em um serviço de altíssima frequência, aprofundando sua presença no dia a dia dos consumidores da região.”