Aline Eggers, presidente da Fruki: “Se oferecemos diversas bebidas, entrega na data, com qualidade e preço combinado, a relação se fortalece e as vendas crescem” (Adriana Sbaraini/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 1 de setembro de 2025 às 11h37.
Peça um guaraná em qualquer restaurante do interior do Rio Grande do Sul e dificilmente virá algo da Coca-Cola ou da Ambev.
O mais provável é que aterrisse na mesa uma garrafa verde, muitas vezes de vidro, com o rótulo da Fruki — marca símbolo da identidade gaúcha no setor de bebidas. Tanto que, por lá, “guaraná” e “Fruki” viraram quase sinônimos.
Mas o que nasceu como um refrigerante regional, apoiado no orgulho local e na distribuição própria, virou um grupo com ambições bem maiores.
Nos últimos cinco anos, a receita da Fruki praticamente triplicou, impulsionada pela diversificação de portfólio, crescimento em Santa Catarina e uma logística própria robusta.
A companhia prevê atingir 1 bilhão de reais em receita até o fim de 2025 — um marco para uma operação que há duas décadas era tocada por pouco mais de 200 funcionários.
A mais nova etapa desse crescimento é um investimento de 100 milhões de reais, anunciado com exclusividade à EXAME.
O valor será aplicado na terceira linha de produção da planta de Paverama, cidade a 20 minutos da sede da companhia, em Lajeado.
O projeto amplia a capacidade da nova unidade e fecha um ciclo de três aportes consecutivos — somando 400 milhões de reais em dois anos.
O projeto da fábrica de Paverama ficou engavetado por anos.
Desenhada em 2016, a planta só saiu do papel durante a pandemia, quando a fábrica original de Lajeado passou a operar perto do limite, principalmente nos meses mais quentes.
O alerta veio depois de dois verões seguidos com dificuldade de atender a demanda. “Ficamos dois verões trabalhando no limite”, afirma Júlio Nascimento, diretor de operações.
Com investimento inicial de 200 milhões de reais, a nova planta foi inaugurada no fim de 2023, adicionando 200 milhões de litros por ano à capacidade de produção.
Era para ser o suficiente por algum tempo — mas não foi.
As vendas superaram as estimativas internas e, menos de um ano depois, a Fruki antecipou a instalação da segunda linha de produção. Mais 100 milhões de reais foram injetados, e a nova estrutura ficou pronta agora, em agosto de 2025.
Agora, a empresa está colocando em marcha a terceira fase de expansão da unidade. Com mais 100 milhões de reais, a nova linha dobrará a capacidade atual da fábrica e transformará Paverama em um polo tão relevante quanto a unidade de Lajeado.
A previsão é que a nova linha entre em operação até o fim do ano.
Além de ampliar a capacidade, a estrutura moderna da fábrica permite à Fruki operar com mais eficiência e com menor custo por litro produzido.
Isso abre caminho para uma estratégia de entrada em novos mercados e até para a terceirização de produção, outro filão em crescimento no setor.
Com mais tecnologia, certificações e flexibilidade operacional, a fábrica virou o principal trunfo da empresa para manter o crescimento acelerado sem perder controle sobre qualidade e prazos.
Júlio Nascimento e Júlio Eggers, diretor de operações e de marketing da Fruki: nova fábrica recebeu investimento de 300 milhões de reais (Leandro Fonseca /Exame)
O investimento em estrutura própria rendeu frutos além do esperado.
Em maio de 2024, quando o Rio Grande do Sul foi atingido pelas maiores enchentes da história recente, a logística de boa parte das indústrias gaúchas entrou em colapso. No caso da Fruki, a ponte entre Lajeado e Estrela — principal ligação da região — foi interditada. O estado ficou, na prática, dividido ao meio.
A fábrica de Paverama, inaugurada meses antes, foi o que manteve a empresa em operação plena.
De um lado, a planta de Lajeado atendeu os clientes da região oeste; de outro, Paverama garantiu o abastecimento no leste do estado. “A planta de Paverama foi a nossa salvação”, afirma Júlio Eggers, diretor de marketing da empresa.
Enquanto isso, a maior concorrente da Fruki enfrentava problemas maiores. A fábrica da Coca-Cola Femsa, em Porto Alegre, foi alagada e teve as operações interrompidas por tempo indeterminado. A produção plena só deve ser retomada em meados de 2025 — o que abriu espaço nas gôndolas para marcas locais e regionais como a Fruki.
Com logística própria, estoque disponível e produção ativa nas duas pontas do estado, a empresa gaúcha conseguiu manter sua presença no varejo. Em algumas regiões, substituiu a Coca-Cola como fornecedora principal, ampliando seu relacionamento com supermercados, bares e restaurantes.
O crescimento da Fruki nos últimos anos também tem relação direta com a diversificação do portfólio. A empresa, que por décadas viveu do refrigerante de guaraná, hoje já envasa mais água mineral do que refrigerante. A marca Água da Pedra se tornou um dos principais ativos do grupo, com versões tradicionais e saborizadas.
Nos últimos anos, a empresa lançou a linha de águas com aromas naturais, vendidas em latas. Sabores como limão, frutas vermelhas e bergamota ampliaram o alcance da marca, especialmente entre consumidores que buscam opções mais leves. “A água saborizada atrai quem já não queria tomar refrigerante e buscava uma alternativa mais leve”, diz Aline Eggers.
Hoje me dia, a Fruki já não é mais uma marca exclusiva do Rio Grande do Sul. Desde 2017, a empresa atua em Santa Catarina, estado que hoje representa 30% da receita total. A entrada foi feita com cuidado, por meio da mesma estrutura de distribuição, e funcionou.
Mas entrar em mercados maiores, como São Paulo ou Minas Gerais, é outro jogo. Para isso, a Fruki precisaria de fábricas regionais, já que transportar garrafas por longas distâncias encarece a operação e reduz a competitividade. O modelo atual de negócio — regional, verticalizado e logístico — é difícil de replicar em larga escala sem presença local.
“Somos cautelosos. Estamos otimistas com o que estamos construindo, mas tudo vai acontecer no momento certo”, afirma Aline.
Leia a reportagem completa na edição de agosto da revista Exame.