Corrida: crescimento exponencial da prática veio acompanhado de uma enxurrada de promessas (Nebojsa93/Thinkstock)
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Publicado em 17 de outubro de 2025 às 10h16.
A corrida se tornou o centro das atividades físicas no mundo, consolidando-se como o esporte mais praticado, segundo dados do aplicativo Strava. No Brasil, a modalidade aparece entre as quatro preferidas dos brasileiros, de acordo com pesquisa da Box 1824 em parceria com a Olympikus.
O crescimento exponencial da prática veio acompanhado de uma enxurrada de promessas — de produtos que afirmam melhorar o desempenho, acelerar a recuperação muscular e até transformar a performance dos atletas.
É fato: o mercado de bem-estar é altamente lucrativo. De acordo com o Global Wellness Institute, o setor deve alcançar US$ 9 trilhões até 2033, impulsionado por empresas e consumidores dispostos a investir em soluções que prometem otimizar corpo e mente. Nesse cenário de expansão, surgem inovações que atraem tanto investidores quanto esportistas — e uma delas já conquistou destaque internacional.
A Firefly, startup que venceu o programa Shark Tank nos Estados Unidos com uma avaliação de US$ 12,5 milhões, aposta em dispositivos elétricos que prometem melhorar a recuperação e o desempenho físico. A proposta é uma releitura moderna de técnicas antigas, inspiradas em métodos usados ainda no Império Romano.
No site oficial, a empresa afirma que seus produtos têm comprovação científica e são utilizados por atletas olímpicos e amadores. “Os dispositivos ajudam na recuperação, melhorando a circulação sanguínea por todo o corpo em até 400%”, diz a marca, que também promete levar mais oxigênio e nutrientes aos músculos.
O aparelho é pequeno e posicionado abaixo dos joelhos. Lembra uma fita com um módulo circular no centro e vem com um acessório de proteção. O kit com dois pares custa US$ 99 e tem duração estimada de 30 horas de uso. Embora a proposta seja voltada principalmente para atletas de alto rendimento, o apelo tecnológico acaba conquistando também o público amador — nem sempre o mais indicado para esse tipo de solução.
A ideia de acelerar resultados com tecnologia encanta, mas também acende um alerta. O mercado esportivo, em sua essência, é pautado por práticas simples e acessíveis. Com o avanço da indústria do bem-estar, porém, cresceu o número de empresas que vendem promessas sem comprovação científica, aproveitando o entusiasmo dos consumidores por soluções rápidas.
As redes sociais refletem esse movimento: estão repletas de produtos que afirmam melhorar o bem-estar e o condicionamento. Em muitos casos, no entanto, faltam testes e respaldo técnico. Em setembro deste ano, por exemplo, a Anvisa suspendeu diversos suplementos alimentares — como cápsulas de cúrcuma, chás-verdes e Centella Asiática — fabricados pela Verde Flora Produtos Naturais. O motivo foi a produção clandestina, sem os estudos que comprovassem a eficácia e a segurança dos compostos.
Casos como esse reforçam a importância de buscar referências confiáveis e garantir que a empresa seja licenciada antes de adquirir qualquer produto voltado à performance. Afinal, quando o assunto é saúde, prevenção vale mais do que promessa.
Se alguns produtos levantam dúvidas, há inovações que transformaram o esporte de maneira legítima. É o caso dos chamados “supertênis”, criados por marcas como Nike, Adidas e Hoka. Esses calçados incorporam placas de carbono que funcionam como molas internas, impulsionando o corredor a cada passada e reduzindo o impacto nas articulações.
As tecnologias têm sido apontadas como responsáveis por avanços significativos em tempos de maratona, proporcionando conforto e menor risco de lesões. Ainda assim, são produtos desenvolvidos para atletas experientes, com treinamento adequado. Para amadores, o uso sem preparo pode gerar o efeito contrário — aumentando as chances de contusão.
No fim, por mais tentadoras que sejam as promessas de “superprodutos”, o segredo da performance continua sendo o mesmo de sempre: constância, disciplina e treinamento bem orientado.