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O restaurante que começou com megafone e virou febre em Porto Alegre prepara estreia em São Paulo

O 20barra9 propõe uma releitura do churrasco gaúcho, sem espeto corrido ou bombacha, mas com carne na brasa, ingredientes regionais e experiência de comunidade

1835: “Queremos ser um símbolo da carne gaúcha, mas sem folclore" (Leandro Fonseca/Exame)

1835: “Queremos ser um símbolo da carne gaúcha, mas sem folclore" (Leandro Fonseca/Exame)

Isabela Rovaroto
Isabela Rovaroto

Repórter de Negócios

Publicado em 30 de junho de 2025 às 17h30.

Última atualização em 30 de junho de 2025 às 18h19.

Foi com carne de açougue, grelha improvisada e megafone na calçada que nasceu o 20barra9, em 2015, no bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre. “A proposta era reunir amigos em torno da brasa, como num churrasco de domingo”, diz Pedro César Bergamaschi, fundador e diretor de produto. Mas o que começou como um boteco informal, sem garçom e sem fogão, cresceu.

Hoje, o grupo opera três unidades do 20barra9, uma casa sazonal na praia, uma unidade da hamburgueria De Rua e o 1835, restaurante de perfil mais sofisticado que funciona dentro do hotel Kempinski Laje de Pedra, em Canela, na serra gaúcha.

Agora, os fundadores se preparam para abrir restaurantes em São Paulo, com inauguração prevista para 2026. A capital paulista receberá duas unidades: uma do 20barra9 e outra do 1835, que contará com uma carta de vinhos gaúchos, arquitetura autoral e cortes premium. Os números no nome das marcas remetem à data da Revolução Farroupilha, nada mais gaúcho do que isso.

“Nós temos uma comunidade que volta de Porto Alegre pedindo restaurante em São Paulo. Chegou a hora”, diz Marcio Callage, fundador e diretor de marketing.

O grupo ainda não definiu qual das marcas estreia primeiro na capital. A escolha dependerá do ponto comercial. Um dos sócios irá se mudar para São Paulo para liderar a operação. A estratégia é manter controle direto e garantir que a cultura da marca seja preservada mesmo longe de casa.

Por que agora?

O plano de expansão é resultado de um crescimento nos últimos anos. O grupo tem cinco restaurantes, uma cozinha central com operação industrial e cerca de 300 funcionários. Todos os meses, compra 25 toneladas de carne.

Em 2024, o faturamento anual superou os R$ 77 milhões. A virada começou em 2018, com a abertura da unidade no shopping Iguatemi, em Porto Alegre, marcando a transição do improviso para a gestão estruturada.

"Quando abrimos no Iguatemi, o faturamento saltou de R$ 6 milhões para R$ 20 milhões por ano. Agora temos estrutura para pensar maior", diz o CEO Eduardo Biton.

Para profissionalizar a operação, o grupo contou com a chef Carla Pernambuco, que atuou como consultora dentro do projeto e participou da ampliação do menu. “Ela nos ensinou a entregar volume sem perder identidade", afirma Bergamaschi.

Uma nova leitura da cultura gaúcha

O 20barra9 não segue a caricatura do gaúcho tradicional, com espeto corrido e bombacha. Em vez disso, aposta numa gastronomia com identidade local, mas reinterpretada sob uma ótica contemporânea, com ingredientes regionais, cuidado artesanal e forte conexão com o território.

“Nós crescemos assando carne em casa. Nosso churrasco não tem rodízio, tem salada na brasa, burrata com massa filo, carreteiro feito com sobra do churrasco. É o trivial, mas tratado com carinho", diz Bergamaschi.

Essa filosofia se amplia no 1835, o restaurante mais sofisticado do grupo, instalado dentro do hotel Kempinski, em Canela. O ambiente é decorado com lustres de lã de ovelha feitos por artistas locais, quadros do Pampa e móveis artesanais. O menu serve carnes tradicionais e inovações como salada de folhas na brasa e pudim de butiá, fruta tradicional no Sul, além de contar com uma adega com dezenas de vinhos gaúchos.

“Queremos ser um símbolo da carne gaúcha, mas sem folclore. A autenticidade está no sabor e na forma de receber", diz Callage.

A autenticidade também está na escolha dos fornecedores. A parceria com o frigorífico Silva garante carne do Pampa. O grupo acompanha toda a cadeia, da origem ao prato e mantém a brasa como único método de preparo.

Apesar da expansão, os fundadores mantêm o espírito do início. Muitos dos primeiros clientes continuam frequentando as casas, mandam mensagens e ajudam a divulgar a marca.

“Nosso compromisso é com a mesa e com o encontro real. Trabalhar com fogo e carne exige padrão, mas também exige alma", diz Callage.

A virada na pandemia

Em 2020, com os restaurantes fechados, o grupo precisou reagir rápido. Em poucos dias, criou o smash burger para entrega no delivery. Um contrato com a Rappi viabilizou a operação, mas a verba da campanha foi usada para doar um respirador a um hospital local.

“Nós fomos para o Instagram e avisamos os clientes: vamos usar o dinheiro para comprar um respirador. Se puder, ajuda a divulgar nosso delivery. O vídeo viralizou", diz Callage.

A ação virou o maior case de ativação da Rappi no Brasil naquele ano. O smash, que nasceu como resposta emergencial, transformou-se na marca De Rua no ano passado, com loja Parque Pontal, além da operação por delivery.

O impacto das enchentes no Rio Grande do Sul

As enchentes de maio de 2024 impactaram diretamente a operação do grupo, com queda no faturamento das unidades e dificuldades logísticas. O Cais Embarcadero e o Mercado Paralelo foram as operações mais afetadas.

No caso do Mercado Paralelo, o grupo optou por não continuar com a unidade. Já o Cais Embarcadero foi reinaugurado em novembro do mesmo ano, cerca de seis meses após o impacto das águas. O Pontal, outra unidade da marca, foi atingido indiretamente, já que o shopping ao redor ficou de difícil acesso devido à inundação. O grupo usou esse período de fechamento como ponto de produção de marmitas para ajudar nas comunidades afetadas.

“O carinho que recebemos do público nesses momentos mostra que a marca virou algo maior. É uma rede de apoio”, diz Callage.

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