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O retorno do doce de leite Guaxupé, que já foi o mais vendido do Brasil

Após três décadas fora do mercado, a Guaxupé Alimentos renasce com nova estratégia. A empresa terceiriza a produção e foca na distribuição regional para recuperar espaço no setor de alimentos

Os sócios da Guaxupé Alimentos: retomada das atividades com foco em doces e laticínios (Divulgação/Divulgação)

Os sócios da Guaxupé Alimentos: retomada das atividades com foco em doces e laticínios (Divulgação/Divulgação)

Leo Branco
Leo Branco

Editor de Negócios e Carreira

Publicado em 24 de fevereiro de 2025 às 18h02.

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O mercado de alimentos no Brasil é dominado por grandes indústrias, mas há espaço para marcas regionais que conquistam consumidores com produtos tradicionais e distribuição segmentada. Esse é o caso da Guaxupé Alimentos, empresa que está retomando suas atividades com foco em doces e laticínios.

O nome Guaxupé já foi sinônimo de doce de leite em boa parte do Brasil. Criada na década de 1960, a marca chegou a ter 150 funcionários e presença nacional. Mas, depois da morte do fundador, a fábrica entrou em declínio e encerrou as atividades nos anos 1990.

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A retomada da empresa começou em 2022, liderada por Julio César Ferreira, sobrinho do fundador. O plano foi relançar o doce de leite Guaxupé, mantendo a receita original, mas com produção terceirizada e foco na distribuição regional.

“Meu cunhado fundou a marca e fez dela uma das mais conhecidas do Brasil. Mas, com a morte dele, a fábrica perdeu gestão e acabou fechando. Agora, estou trazendo a Guaxupé de volta ao mercado, começando pelo doce de leite”, afirma Ferreira.

A empresa já está em 200 pequenos mercados e 10 redes médias. O faturamento saiu de 200 mil reais em 2023 para 1,3 milhão de reais em 2024, impulsionado pela entrada de novos produtos como a linha de águas minerais.

A história da Guaxupé e o colapso da fábrica

A história da Guaxupé Alimentos começou em 1965, quando Luiz Paulo Ferraz, cunhado de Julio César Ferreira, abriu uma fábrica em Minas Gerais. O primeiro produto foi a manteiga, mas logo vieram os doces, compotas e enlatados.

Nos anos 1980, a Guaxupé cresceu e se tornou a terceira maior fabricante de extrato de tomate do Brasil, atrás apenas da Sica e da Etti. Além do doce de leite, a fábrica produzia goiabada, marmelada, ervilha e milho verde em lata.

Mas, em 1984, um acidente de carro tirou a vida da irmã e da mãe de Ferreira. O fundador da empresa, que dirigia o veículo, sobreviveu, mas nunca se recuperou totalmente. Com a gestão fragilizada e sem sucessores prontos para assumir, a fábrica começou a perder mercado e fechou nos anos 1990.

Com o encerramento da empresa, a marca Guaxupé ficou sem renovação no INPI e foi registrada pela Exportadora Guaxupé, uma das maiores comercializadoras de café do Brasil. A empresa mantém uma linha de laticínios chamada Fazenda Bela Vista, mas nunca usou a marca Guaxupé para doce de leite.

Em 2022, Ferreira negociou a licença da marca e conseguiu recuperar o direito de produzir doces sob o nome Guaxupé.

O relançamento da marca e o modelo de produção terceirizado

Sem capital para reabrir uma fábrica, Ferreira optou por um modelo terceirizado. “Eu brinco que sou uma Nike, porque a Nike é a maior vendedora de roupas esportivas do mundo e não tem uma fábrica”, diz.

Hoje, o doce de leite Guaxupé é produzido por um parceiro que segue a receita original da antiga fábrica. A goiabada e o queijo árabe chancliche também fazem parte da linha de doces da marca.

Para reduzir riscos, Ferreira criou uma segunda marca, a Natury, que hoje engloba água mineral, mel, cachaça e farinha de milho. "Se algum dia perdermos o direito de usar o nome Guaxupé, temos um plano B", explica.

O doce de leite voltou ao mercado em potes de vidro e plástico, com venda inicial em supermercados regionais de Minas Gerais e interior de São Paulo. "Já estamos nas redes Savegnago, Ikegami e Mineirão, e agora estamos negociando com o Grupo Tonin, ABC e BH", conta Ferreira.

A estratégia de entrada em grandes redes envolve primeiro colocar produtos de maior giro, como a água mineral, e depois expandir para a linha de doces. "Cada grupo tem um comprador para cada segmento. Às vezes entramos com a água e só depois conseguimos falar com o responsável pelo doce de leite", explica.

Faturamento e perspectivas de crescimento

A Guaxupé Alimentos começou sua nova fase em outubro de 2023, faturando 200 mil reais no primeiro trimestre de operação. Em 2024, com a ampliação da distribuição e o crescimento das vendas de água mineral, a receita chegou a 1,3 milhão de reais.

O objetivo é continuar expandindo a presença nos supermercados e, futuramente, investir em marketing regional para fortalecer a marca. "A ideia é usar influenciadores locais e até publicidade na TV regional para impulsionar as vendas", afirma Ferreira.

Para os próximos anos, a empresa avalia lançar massas e temperos sob a marca Natury e fortalecer a linha de doces Guaxupé. "A marca foi muito forte no passado e pode voltar a ser", diz Ferreira.

A aposta agora é crescer dentro do segmento de alimentos regionais, aproveitando a memória afetiva do consumidor e uma estratégia comercial focada em redes de médio porte. "O Brasil tem um mercado enorme para marcas fortes em regiões específicas. O caminho da Guaxupé passa por isso", diz Ferreira.

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