O rápido avanço e a adoção generalizada da IA remodelam indústrias, impulsionam inovação e criam um cenário econômico em que a capacidade de processar, analisar e gerar informações de forma inteligente virou o principal diferencial competitivo (Pin People/Divulgação)
Redação Exame
Publicado em 19 de setembro de 2025 às 06h01.
Por Orlando Cintra*
Mais que uma ferramenta tecnológica revolucionária, a inteligência artificial tornou-se um catalisador para uma valorização sem precedentes para empresas do setor de tecnologia.
O rápido avanço e a adoção generalizada da IA remodelam indústrias, impulsionam inovação e criam um cenário econômico em que a capacidade de processar, analisar e gerar informações de forma inteligente virou o principal diferencial competitivo.
A recente alta das ações da Oracle, que se aproxima do clube das companhias com valores de mercado acima de US$ 1 trilhão, reforça a percepção de que vivemos na era de domínio da economia global pelas empresas de tecnologia.
Só este ano, as ações da Oracle subiram mais de 81% graças às previsões do crescimento dos investimentos na área de nuvem. A companhia, que cresceu criando softwares corporativos e infra-estrutura de nuvem, se beneficia, e muito, do avanço dos investimentos em IA.
Além disso, as exigências de Donald Trump para que o TikTok nos EUA seja vendido para uma empresa americana deu uma forcinha extra nesta alta. O grupo hospeda desde 2020 os dados americanos do TikTok. Essa infraestrutura existente lhe confere uma vantagem sobre outros candidatos para adquirir a rede social da Geração Z.
Outra concorrente nessa disputa pelo TikTok é a Microsoft, dona de parte da OpenAI, que incendiou a corrida da IA ao lançar o ChatGPT no fim de 2022.
A empresa fundada por Bill Gates havia perdido protagonismo para Apple e Google a partir de 2010, com a massificação dos smartphones, mas voltou ao topo no início de 2024, tornando-se a primeira companhia a valer mais de US$ 3 trilhões.
Nesses novos tempos de respostas em milissegundos, a competição é tão acirrada que manter a predominância ficou mais desafiador. Logo uma recém-chegada no clube do trilhão já tomou a liderança da Microsoft.
A fabricante de chips de computador Nvidia, em julho deste ano, se tornou a primeira empresa do mundo avaliada em US$ 4 trilhões , tornando-se a empresa mais valiosa do mundo, à frente da Microsoft e Apple, que ocupou o topo da lista por mais de uma década.
Apesar das tensões entre EUA e China, a Nvidia foi impulsionada por grandes empresas de tecnologia interessadas em seus produtos para expandir suas capacidades em inteligência artificial.
A empresa divulgou recentemente uma receita de US$ 46,7 bilhões (cerca R$ 247,5 bilhões) no segundo trimestre do ano, um aumento de 56% em relação ao mesmo período de 2024.No anúncio do resultado, a empresa afirmou que a demanda por seus produtos continua forte, especialmente de grandes entre as big techs, incluindo Meta e a própria OpenAI.
Os investimentos em IA de apenas quatro das grandes empresas de tecnologia dobraram, chegando a US$ 600 bilhões por ano.
Este momento evoca memórias do início da era digital, período em que surgiram as big techs, impulsionadas pelo sucesso estrondoso de plataformas como o Google e o Facebook.
Estas empresas, junto com Apple e Amazon, se valorizaram também com a IA e continuam entre as maiores companhias do mundo, mas perderam a liderança para Nvidia e Microsoft.
Assim como na virada do milênio, quando a internet causou um rebuliço na economia, empresas antes consideradas de nicho ou especializadas têm visto o seu valor de mercado disparar à medida que integram capacidades de IA a seus produtos e serviços.
Se a internet coroou as Magnificent Five (Apple, Microsoft, Alphabet, Amazon e Meta), na era da IA essa lista se ampliou para as Magnificent Seven, com a inclusão de Tesla e Nvidia. Estas empresas não só moldaram a paisagem tecnológica, como se tornaram pilares da economia global, com um impacto desproporcional nos índices de mercado.Hoje, empresas pioneiras na exploração do Big Data e na criação de infraestruturas de computação em nuvem, como AWS (da Amazon) e Azure (da Microsoft), encontram-se em uma posição vantajosa para capitalizar a onda da IA, mas não podem sentar sobre os louros sob o risco de serem desafiadas, como acaba de acontecer com a Oracle.
Essas companhias fornecem a espinha dorsal tecnológica necessária para o desenvolvimento e a implementação de soluções de IA.
Além dessas, a Alphabet, através da sua divisão de IA DeepMind e do Google Search, continua a ser um jogador importante, integrando IA em todos os seus serviços.
Esse momento não está afetando empresas de software e hardware. Setores como o automobilístico, com o desenvolvimento de veículos autônomos (em que a Tesla foi a pioneira), o da saúde, com diagnósticos mais precisos e desenvolvimento de medicamentos, e o financeiro, com análise de risco e atendimento automatizado, passa por transformação intensa.
Segundo a pesquisa The State of AI in Early 2024, da McKinsey, a adoção de IA subiu de 55% para 72% globalmente em apenas um ano. Destaque para a IA generativa, que passou de 33% para 65% de presença nas estratégias corporativas.
Esta adoção intensiva traduz-se diretamente em investimento e, consequentemente, em valorização das empresas que oferecem não só infraestrutura para IA, mas também as mais variadas soluções com esta tecnologia.
Startups que desenvolvem produtos com IA para diversos setores também despontam. Só no BR Angels, investimos em 7 empresas que têm na IA a espinha dorsal de seus negócios. A mais recente, a Olho do Dono, desenvolveu uma solução para a pecuária que usa câmeras 3D portáteis e inteligência artificial para pesar e monitorar o gado, eliminando a necessidade de balanças tradicionais.
Outro exemplo é a Minds Digital, que tem soluções especializadas em biometria de voz para identificação e prevenção a fraudes em transações financeiras e operações, da venda ao atendimento. Já a Arqgen utiliza a IA generativa para projetos de arquitetura. Em nosso portfólio temos ainda a 4MDG, da área de dados, a Edtech Scaleup, a Agidesk, plataforma para fluxo de trabalho, e a Mindminers, da área de pesquisas de mercado.
E tal como na era da internet, esta revolução também levanta desafios. A escassez de talentos em IA, as preocupações com a privacidade de dados e a necessidade de uma regulamentação ética são temas que precisam ser enfrentados. A empolgação do mercado também pode levar a sobrevalorizaçőes sem lastro, o que nos faz lembrar que um pouco de cautela com fundamentos nunca é demais.
Em suma, a atual onda de valorização das empresas de tecnologia impulsionada pela IA tem potencial imenso, prometendo não apenas criar novas oportunidades de negócio, mas também redefinir o panorama econômico global.
As startups que conseguirem navegar nesta nova era com agilidade e visão estratégica estarão bem posicionadas para liderar o futuro.
*Orlando Cintra é CEO do BR Angels