Repórter de Negócios
Publicado em 26 de maio de 2025 às 11h34.
A Napster, marca que virou símbolo da revolução digital no começo dos anos 2000, está prestes a ganhar uma nova vida — agora, nas mãos de uma startup de tecnologia baseada na Flórida, nos Estados Unidos.
A empresa, até então conhecida como Infinite Reality, anunciou a mudança de nome e a promessa de se transformar numa gigante de “experiências digitais com inteligência artificial”.
A nova Napster surgiu após a aquisição da plataforma original por 207 milhões de dólares, em março. Fundada no fim dos anos 1990, a Napster teve 75 milhões de usuários em seu auge, antes de ser desativada por violar leis de direitos autorais.
Desde então, passou por várias mãos — Roxio, Best Buy e outros — até cair no ostracismo. Hoje, é apenas o 39º aplicativo de música mais usado no mundo, segundo a Data.AI.
O que chama atenção agora é o número que acompanha a proposta: ao oferecer a recompra de ações da Infinite Reality por 20 dólares cada, a empresa sugere um valuation de cerca de 15 bilhões de dólares — quase 80 bilhões de reais. É mais de 200 vezes sua receita anual de 75 milhões de dólares. A recompra seria viabilizada por um investidor anônimo, representado pela corretora Cova Capital, com promessa de liquidez a partir de junho.
“Nosso papel não é só criar uma grande empresa, mas gerar valor para os acionistas e oferecer formas de capturar esse valor”, afirma John Acunto, CEO da empresa, em chamada com investidores. Ele diz que mais de 600 pessoas teriam se tornado milionárias investindo na companhia.
Mas a empolgação não é unânime. É a quarta vez desde 2022 que a empresa promete liquidez para investidores — nenhuma delas foi adiante. A mais recente tentativa, por meio da plataforma Nasdaq Private Market, foi cancelada no início de maio. E há processos judiciais abertos por investidores que alegam não ter recebido pagamentos prometidos em contratos anteriores.
O plano agora é usar o nome Napster como vitrine para um novo modelo de negócio, voltado à criação de experiências digitais com IA.
Em tese, a empresa teria levantado 3 bilhões de dólares neste ano — também de forma sigilosa, sem revelar quem são os financiadores. “São muitos anúncios e pouca entrega. O sentimento é de desconfiança”, afirmou um ex-funcionário e acionista à revista norte-americana Forbes.
No meio disso tudo, há investidores comuns, que colocaram 50 mil dólares ou menos na esperança de entrar cedo na próxima grande empresa de tecnologia. Agora, aguardam junho com um misto de expectativa e ceticismo.
Criada em 1999 por Shawn Fanning e Sean Parker (que mais tarde se tornaria o primeiro presidente do Facebook), a Napster revolucionou o mercado ao permitir o compartilhamento gratuito de arquivos de música entre usuários.
O modelo P2P virou febre mundial — e um pesadelo para a indústria fonográfica.
Foram milhões de músicas baixadas sem pagar direitos autorais, o que levou a batalhas judiciais com gravadoras e artistas. Em 2002, a Napster foi forçada a declarar falência. A marca, no entanto, continuou circulando: foi comprada pela Roxio, depois pela Best Buy, e relançada como plataforma de streaming — sem nunca voltar ao protagonismo.
A Infinite Reality surgiu como uma plataforma de metaverso e social media, resultado de fusões e aquisições conduzidas por John Acunto desde 2019.
A empresa começou ao adquirir a falida rede social Tsu, depois passou por rebranding como Display Social, e em 2022, virou Infinite Reality após comprar a Thunder Studios e a Infinite Metaverse.
Desde então, a empresa já fez pelo menos 10 aquisições, em negócios envolvendo ativos como a Drone Racing League e a produtora Landvault. Boa parte dos aportes foi feita via transações com ações.
Em fevereiro, Acunto afirmou que a empresa criou mais de 600 milionários com essas transações. Mas vários desses investidores são pequenos aplicadores, sem experiência em tech, que apostaram valores entre 50 mil e 100 mil dólares.
A atual proposta de liquidez se baseia num novo aporte — mais uma vez de um investidor não revelado. Segundo a corretora Cova Capital, responsável pela operação, a recompra dos papéis começaria em junho, ao valor de 20 dólares por ação. Isso implicaria uma valorização de até 15 bilhões de dólares, mesmo com um faturamento de apenas 75 milhões em 2024.
Não é a primeira vez que a empresa promete esse tipo de saída para os acionistas.
A primeira tentativa de IPO foi por meio de uma fusão reversa, que não avançou. Depois veio uma proposta via SPAC, também cancelada. A mais recente, via Nasdaq Private Market, também não aconteceu.
A Cova Capital, aliás, já foi multada por práticas de venda inadequadas, e há processos correndo na Justiça contra a "nova Napster" por não pagamento de empréstimos anteriores. Ainda assim, a nova rodada foi anunciada com otimismo por executivos da empresa.
A comunicação oficial da Napster diz que a maioria dos investidores está satisfeita com a nova oferta de liquidez.
\