Funcionário mostra tecido técnico da Valmet: tecidos são usados principalmente em processos de filtração em mineradoras (Valmet/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 23 de maio de 2025 às 11h36.
Em um país onde mineração e celulose puxam bilhões em investimentos, uma empresa finlandesa de 220 anos aposta alto para sair do bastidor e ocupar o centro da operação.
A Valmet, conhecida por fornecer equipamentos e automação para as indústrias de base, principalmente de celulose e mineração, está construindo uma nova fábrica em Vespasiano, na região metropolitana de Belo Horizonte. São 100 milhões de reais para triplicar a capacidade produtiva da empresa no Brasil e disputar um mercado que exige tecnologia, escala e confiabilidade.
Com sede na Finlândia e faturamento global de 5,4 bilhões de euros — algo como 35 bilhões de reais — a Valmet chegou ao Brasil nos anos 1960 fabricando tratores. Hoje, opera em nove cidades brasileiras com soluções para controle de fluxo, automação industrial, equipamentos de conversão de papel e produção de tecidos técnicos para filtragem. É nesta última frente que a empresa aposta para acelerar sua expansão.
A construção da nova unidade em Minas Gerais responde a uma mudança estrutural no setor de mineração após os desastres de Mariana e Brumadinho. Com exigências mais rígidas para gestão de resíduos, os filtros industriais tornaram-se peça-chave nas operações.
“Depois desses acidentes, muitas mineradoras converteram seus processos para filtragem a seco. E isso exige um fornecimento contínuo de tecidos técnicos, que são materiais de desgaste”, afirma Celso Tacla, presidente da Valmet na América do Sul.
A fábrica de Vespasiano, que deve iniciar a produção ainda em 2025, começa com capacidade de 1,5 milhão de metros quadrados por ano — e pode chegar a 2,5 milhões. “Hoje, já estamos no limite em Belo Horizonte. Não há mais espaço físico para crescer lá. Essa nova unidade nasce preparada para atender a demanda atual e a que está por vir”, diz Tacla.
Fundada há mais de dois séculos, a Valmet começou sua trajetória no Brasil em uma frente agrícola. A virada industrial veio com a aposta em soluções para grandes indústrias de processo.
Atualmente, a companhia atua em cinco áreas principais:
No Brasil, são cerca de 1.600 funcionários. As unidades se espalham de Guarulhos a Imperatriz, passando por Portão, Novo Hamburgo, Joinville, Araucária, Sorocaba e Belo Horizonte.
“Temos uma estrutura bastante diversificada. Fornecemos desde máquinas para preparar madeira até equipamentos que dão textura a papéis higiênicos”, afirma Tacla.
A operação mineira, que será transferida para Vespasiano, concentra a produção de tecidos técnicos usados principalmente na mineração.
“Essas telas precisam ser substituídas com frequência, o que nos permite ter contratos recorrentes com clientes. É um produto técnico e com alto valor agregado”, afirma o executivo.
Tecidos técnicos são materiais desenvolvidos com propriedades específicas para aplicações industriais. Diferente dos tecidos convencionais, usados em roupas ou decoração, eles são projetados para desempenhar funções técnicas — como filtragem, resistência a altas temperaturas, abrasão ou produtos químicos.
No caso da Valmet, esses tecidos são usados principalmente em processos de filtração em mineradoras. Eles ajudam a separar sólidos de líquidos, garantindo eficiência, segurança e menor impacto ambiental nas operações.
O investimento em Vespasiano será feito em duas frentes. A construção do prédio está a cargo de uma empresa contratada pela Valmet, no modelo "build-to-suit".
Já os 100 milhões de reais se referem aos equipamentos e à expansão da capacidade instalada. “Só nessa primeira fase são 60 milhões de reais. Com os novos teares e linhas de corte e costura, conseguimos ganhar escala e eficiência”, diz Tacla.
Além de atender a crescente demanda do setor de mineração, a fábrica também permitirá à Valmet disputar mercado em países como Chile e Peru. “Temos clientes nesses países e o objetivo é aumentar nossa participação por lá também. Há uma expansão estrutural do setor e queremos estar preparados”, afirma.
Tacla destaca ainda que a unidade foi pensada com foco em sustentabilidade e eficiência energética. “Vamos trocar o sistema de aquecimento da calandra, que hoje usa gás, por um sistema elétrico. Isso reduz nossas emissões e melhora o desempenho ambiental da planta”, diz.
A nova unidade é apenas parte de uma estratégia mais ampla. Segundo Tacla, o crescimento da empresa vem em duas frentes: orgânica e por aquisições.
“Compramos recentemente uma empresa em Joinville, especializada em equipamentos para papel têxtil. E seguimos atentos a outras oportunidades”, afirma.
O foco em celulose também se intensificou. A Valmet é uma das fornecedoras da nova fábrica da Arauco, em Mato Grosso do Sul, que será a maior do mundo no setor, com capacidade para 3,5 milhões de toneladas por ano. “A demanda por celulose deve seguir forte. O Brasil já produz 25 milhões de toneladas e exporta quase 80% disso. É um setor com potencial enorme”, diz Tacla.
A atuação da empresa também inclui suporte pós-venda e fornecimento de peças. “Quando entregamos uma planta como a da Arauco, não acaba ali. Seguimos com o cliente por meses, garantindo que atinja os resultados esperados. Isso gera uma relação de longo prazo e nos posiciona como parceiro estratégico”, afirma.
Mais do que acompanhar tendências, a Valmet quer liderar inovações que reduzam o impacto ambiental das indústrias. Um exemplo é o uso da lignina, subproduto da celulose, como fonte de energia e matéria-prima para novos materiais. “A fábrica da Arauco vai gerar 400 megawatts de energia a partir da lignina. Metade será consumida internamente, e o restante poderá abastecer uma cidade do tamanho de Campinas”, diz Tacla.
\