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A vistoria de carro que dura até 1 minuto — e vai ajudar a Pier a faturar R$ 250 milhões

A seguradora quer transformar a etapa que tradicionalmente antecede a contratação do seguro

Camila Kataguiri, co-CEO da Pier: “Já operei a máquina de muita gente. Agora quero construir a minha.” (Rafael Merino/Pier)

Camila Kataguiri, co-CEO da Pier: “Já operei a máquina de muita gente. Agora quero construir a minha.” (Rafael Merino/Pier)

Laura Pancini
Laura Pancini

Repórter

Publicado em 20 de outubro de 2025 às 10h55.

Última atualização em 20 de outubro de 2025 às 18h10.

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A seguradora digital Pier lançou o Pier Scan, um agente de inteligência artificial capaz de realizar vistorias de automóveis em até um minuto.

A tecnologia promete reduzir de dias para segundos um processo que ainda é, na maioria do mercado, manual e demorado.

Com o novo produto, a empresa quer transformar a etapa que tradicionalmente antecede a contratação do seguro. Assim, elimina o agendamento de peritos e a análise de imagens realizada por humanos.

Em poucos segundos, a ferramenta orienta o envio das fotos corretas, identifica possíveis danos, checa as condições do veículo e emite a aprovação da vistoria em tempo real.

Hoje, cerca de 20% das vistorias da Pier já são feitas com o Pier Scan, e a meta é que um terço delas seja concluída instantaneamente até o fim do ano.

Segundo a co-CEO Camila Kataguiri, a rapidez é um ponto de partida, não de chegada. “Eu ainda acho um minuto muito. Eu queria que fosse dois segundos, três. E vai chegar lá”, diz.

O lançamento marca uma nova fase para a seguradora, que deve encerrar 2025 com R$ 250 milhões em faturamento — um crescimento de 60% sobre o ano anterior.

A startup também chegou ao breakeven, quando a operação passa a gerar caixa.

O resultado é fruto de uma virada silenciosa, iniciada dois anos atrás, quando a empresa precisou desacelerar para crescer de vez.

Tentativas, erros e acertos

A Pier nasceu em 2018 com o propósito de simplificar o seguro no Brasil, e se tornou a primeira a oferecer cobertura digital para furto simples de celular.

Em 2021, ainda no ambiente experimental da Susep, o órgão regulador de seguros, a empresa desenvolveu todos os sistemas proprietários que usa até hoje.

No fim de 2021, o faturamento era de R$ 34 milhões. Um ano depois, esse valor triplicou, alcançando R$ 106 milhões.

O salto em faturamento coincide com a chegada de Kataguiri, que entrou como diretora de operações em 2021. Hoje divide o comando com o fundador Igor Mascarenhas. Victor Horta atua como CPO e Flávio Rewa, CCO.

A executiva tem uma trajetória de uma década pelo mercado financeiro e por grandes grupos como 3G Capital, onde liderou a operação do Oeste dos Estados Unidos, com 1.200 lojas.

“Já operei a máquina de muita gente. Agora quero construir a minha.”

De lá para cá, a companhia expandiu o portfólio, oferecendo seguros de celular e automóveis com coberturas mensais e anuais, e ampliou os canais de distribuição: digital, parcerias e corretoras.

O cenário mudou no início de 2023, quando o mercado de tecnologia atravessava ondas de demissões e investidores pressionavam por rentabilidade.

“Crescemos rápido demais e o sentimento mudou”, diz Kataguiri.

A empresa reduziu um terço do quadro de funcionários e passou 2023 e 2024 focada em eficiência, sinistralidade e margem técnica.

A estratégia deu resultado. A seguradora terminou 2024 com R$ 150 milhões e, no segundo trimestre de 2025, registrou alta de 60% trimestre contra trimestre.

“Fomos completando as coberturas até hoje — mensal, anual, carro reserva, vidro. A ideia é simplificar, mas com amplitude”, diz Kataguiri.

Análises mais rápidas

O Pier Scan é o quinto agente de IA da companhia, e um passo além do que a seguradora já havia feito com o Pier Bolt, lançado em 2021 para pagamentos instantâneos de sinistros de celular — 30% deles pagos em menos de um segundo.

A IA da Pier também atua em subscrição contínua, prevenção a fraudes, precificação e atendimento.

A combinação de automação e operação enxuta sustenta a nova etapa de crescimento.

A meta de Kataguiri e Mascarenhas é manter o ritmo acelerado sem abdicar da rentabilidade.

“A instantaneidade traz algo muito diferente para essa jornada. Cada vistoria feita em minutos é tempo devolvido ao cliente e eficiência para o sistema”, afirma a executiva.

O que vem por aí?

Em novembro, a empresa lançará o seguro de celular também para o canal corretor, completando o modelo multicanal dos dois produtos.

Nos próximos meses, a Pier pretende ampliar o uso do Pier Scan e expandir parcerias com marcas como Nomad e Noh.

No balanço de julho, o melhor mês da história da empresa, o crescimento foi de 60%, com geração recorde de caixa.

Se a primeira fase da Pier foi provar que o seguro digital era possível, a segunda é mostrar que ele pode ser rentável e escalável. E, dessa vez, em tempo real.

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