Rodrigo Sangion, CEO e fundador da Les Cinq: “Podemos crescer com linha de roupa, acessórios, experiências. A academia é só o começo.” (Les Cinq/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 8 de julho de 2025 às 11h17.
Última atualização em 8 de julho de 2025 às 14h18.
Toalhas de algodão egípcio, DJs criando playlists com BPM calculado para cada hora do dia, cosméticos premium no vestiário, nutricionista, fisioterapeuta, aulas com no máximo três alunos por professor.
São coisas assim que você pode encontrar — se estiver disposto a pagar 3.500 reais por mês — na Les Cinq, a academia mais cara do Brasil.
A única unidade da Les Cinq fica nos Jardins, bairro nobre de São Paulo, ocupa quatro andares e 2.500 metros quadrados, e funciona como um clube fechado. Com 680 alunos ativos e taxa de fidelização superior a 70%, a academia registrou faturamento de 12 milhões de reais em 2024. A previsão para este ano é crescer 30%, sem abrir mão da exclusividade.
O modelo de negócio é baseado em um posicionamento claro: vender experiência, não acesso. Nada de desconto, promoções ou metas de volume.
“O luxo é para ser exclusivo, não acessível. Quando você trabalha com desconto, você não está valorizando sua entrega”, afirma Rodrigo Sangion, fundador e CEO.
A história da Les Cinq chama atenção porque desafia a lógica dominante do setor, que cresceu no Brasil com academias populares de grande escala. A estratégia de Sangion, no entanto, foi seguir na contramão, criando um ambiente com foco em sofisticação e comunidade. “Hoje, o valor é um fator secundário", diz. "O cliente está pensando no bem-estar dele. Quando a gente entrega solução pra dor do cliente, o preço deixa de ser problema.”
A capacidade ainda permite crescer a base de alunos, mas o objetivo é preservar a exclusividade.
Para Rodrigo, a oportunidade de ganhar mais dinheiro virá de outros negócios, como o Yon Health, café boutique da holding de Sangion, e uma nova linha de produtos de nutrição e acessórios fitness, voltados a públicos de alta renda.
Rodrigo Sangion cresceu em uma família simples no interior de São Paulo.
“Minha mãe era empregada doméstica, meu pai contador. Vim para São Paulo com 700 reais no bolso e a ideia de crescer”, diz.
Seu primeiro passo foi a faculdade de Educação Física. Depois, passou por redes como Runner, Bio Ritmo e Companhia Athletica, onde começou a entender o funcionamento dos bastidores do setor.
Durante anos, atuou como personal trainer, mesmo ainda lutando com o próprio peso.
“Eu ainda era gordinho quando comecei a dar aula. Um dia ouvi que o aluno estava com o shape melhor que o personal — que era eu. Aquilo me marcou. Decidi mudar meu corpo.”
A virada veio com campeonatos de fisiculturismo. Em 2018, Sangion venceu o título de “corpo mais bonito do mundo” pela WBFF, nos Estados Unidos, aos 40 anos.
Foi esse reconhecimento que o colocou no radar de celebridades. Começou a treinar nomes como Alok, Claudia Raia, Thiaguinho, Izabel Goulart e Marina Ruy Barbosa. Também passou a criar programas de treino intensivo, lançando o “Método Sangion” — aulas de curta duração, mas alta intensidade, voltadas a um público com pouco tempo e muita exigência.
A ideia da Les Cinq surgiu em 2014, durante a crise econômica.
“Eu sabia que não queria ser mais do mesmo. O setor já tinha as low cost e as grandes redes. Faltava um serviço realmente premium.” Um investidor apostou na ideia, e a academia foi inaugurada nos Jardins com investimento inicial e um modelo voltado à diferenciação total.
Desde o começo, Sangion manteve uma estratégia de reinvestimento constante.
“Não me interessava o quanto uma mudança ia me retornar. Me interessava o quanto eu ia deixar de perder se não fizesse.” Um exemplo foi a reformulação total da sala de bike indoor. “O consultor me perguntou quanto aquilo ia me dar de volta. Eu disse: não importa. Importa quantos alunos eu deixo de perder.”
Para ele, a Les Cinq nunca foi apenas uma academia. “Criamos uma comunidade. Mais de 60% dos novos alunos chegam por indicação. Não fazemos marketing agressivo, não falamos de preço. O foco é a experiência.”
Hoje, Sangion lidera também o Sangion Group, grupo que reúne outras marcas de saúde e bem-estar, como o Yon Health, e negócios voltados a nutrição e produtos esportivos. “Cada marca tem seu tempo. A Les Cinq é referência. O Yon é escalável.”
A estrutura da Les Cinq foi projetada para não parecer uma academia.
São quatro andares com equipamentos da italiana Technogym, salas de musculação com iluminação personalizada, climatização automatizada e uma trilha sonora exclusiva criada por uma DJ contratada para sincronizar o ritmo das músicas com os horários e tipos de treino.
O atendimento também foge do padrão. Cada professor acompanha, no máximo, três alunos simultaneamente — em alguns momentos, o atendimento é individual, sem custo adicional.
“É praticamente um personal incluído no pacote”, diz Sangion.
Nos vestiários, o cliente encontra sauna, piso de pedra natural, cremes de barbear, desodorante, escovas de cabelo, toalhas geladas e produtos da Granado. Um serviço de manicure também está disponível.
No térreo, um café boutique — o Yon Health — serve shakes proteicos, refeições leves e bebidas funcionais. Ali, os alunos circulam antes ou depois do treino, criando uma espécie de clube informal. “O aluno sai da aula, toma um shake, conversa, faz networking. Criamos um ecossistema de bem-estar”, afirma Sangion.
Para garantir consistência, a equipe da academia inclui fisioterapeutas, nutricionistas, consultores bilíngues e educadores físicos especializados. O modelo se apoia em avaliação periódica e acompanhamento personalizado. “A pessoa é chamada pelo nome, cuidada como única. Isso é o que fideliza.”
Os dados confirmam: mais de 70% dos alunos renovam a matrícula. Segundo Sangion, esse índice está diretamente ligado à entrega de valor percebido — não ao marketing.
A decisão de manter uma única unidade e não escalar a Les Cinq é deliberada.
“Se eu escalo a experiência, corro o risco de perder a exclusividade. E meu negócio é a experiência”, afirma Sangion.
A estratégia é manter o tíquete médio elevado e operar com margens altas, em vez de volume.
“Quando você entrega o que o cliente procura, o preço se torna secundário. As pessoas não estão mais comprando acesso a uma esteira. Estão comprando cuidado.”
Segundo ele, o comportamento do consumidor mudou — especialmente depois da pandemia. “As pessoas começaram a migrar de academias convencionais para cá porque entenderam que saúde não tem preço. Procuram um lugar onde se sintam cuidadas.”
O posicionamento da Les Cinq está alinhado com a ascensão global do wellness, termo usado para descrever um estilo de vida voltado à saúde física e mental. O setor movimenta mais de 5 trilhões de dólares no mundo, segundo o Global Wellness Institute, e está cada vez mais presente na agenda de marcas de moda, turismo e tecnologia.
Mas operar no topo do mercado tem seus riscos. O principal é manter o padrão de entrega. “A gente não quer lotar a academia. Se a gente cresce demais, perde o que torna o negócio único”, diz Sangion. A empresa tem espaço físico para aumentar o número de alunos, mas a prioridade é preservar a experiência.
Outro desafio é manter a cultura da marca conforme o time cresce. “Temos que garantir que cada professor, cada atendente entenda que o nosso cliente não está aqui por conveniência. Ele está aqui por escolha”, diz.
Os planos de expansão não passam por abrir novas unidades da Les Cinq. “Não é prioridade hoje. O foco está no Yon Health, que tem um modelo mais replicável”, diz Sangion. A ideia é escalar o ecossistema por meio de alimentação saudável, produtos esportivos e, eventualmente, franquias da linha de shakes e cafés.
A academia, por enquanto, seguirá como um laboratório de excelência. “Ela é o ponto de contato mais forte com a comunidade. A partir dela, eu entendo o que o meu público quer”, afirma. A expectativa de faturamento em 2025 é de 15,6 milhões de reais — um crescimento de 30% sobre o ano anterior.
Sangion vê potencial para transformar a Les Cinq em uma marca de lifestyle. “A gente pode crescer com linha de roupa, acessórios, experiências. A academia é só o começo.”