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Por dentro da barbearia do futuro: sem gerente, com reconhecimento facial e receita de R$ 16 milhões

Modelo permite que o franqueado lucre entre 7 mil e 20 mil reais mensais, trabalhando apenas três a quatro horas por semana. Conheça:

José Priante, CEO da BR Barbearia:  (Carla Lima /Divulgação)

José Priante, CEO da BR Barbearia: (Carla Lima /Divulgação)

Isabela Rovaroto
Isabela Rovaroto

Repórter de Negócios

Publicado em 21 de julho de 2025 às 06h00.

Em um setor onde a informalidade ainda dita o ritmo de boa parte das operações, a BR Barbearia quer virar o jogo apostando pesado em tecnologia. A proposta: uma franquia sem gerente, com operação automatizada, monitoramento por câmeras inteligentes e controle de caixa em tempo real. Tudo acessado remotamente por franqueados que, em alguns casos, trabalham apenas quatro horas por semana.

Fundada em Belém do Pará por José Priante Neto, ex-superintendente portuário, a BR já soma 62 unidades e faturou 16 milhões de reais em 2024. A meta para 2025 é bater 100 unidades e ultrapassar os 20 milhões de reais em receita, impulsionada principalmente pela venda de franquias e aumento no volume de atendimentos.

A história da BR Barbearia ganha relevância porque desafia a lógica dominante do setor, marcado por gestão presencial, margens apertadas e baixa padronização. Priante criou um modelo enxuto, baseado em tecnologia própria e sem necessidade de funcionários administrativos.

“Queria algo que fosse escalável e me desse liberdade de tempo e de espaço. Nosso franqueado pode estar na praia e ainda assim saber tudo o que aconteceu na barbearia dele”, afirma.

O próximo passo é escalar sem abrir mão da simplicidade operacional. A empresa já desenvolve um sistema de fidelidade automatizado, com ações de CRM baseadas em comportamento de consumo, e aposta no modelo de salão parceiro para manter os custos fixos sob controle.

Como tudo começou

Formado em Comércio Exterior, com passagens por Cambridge e Harvard, o paraense José Priante trocou o alto cargo de superintendente no Porto do Rio por um negócio próprio em 2017. Ele buscava mais liberdade.

“Eu via meus pais trabalhando muito e sem tempo. Queria um modelo que me desse vida e pudesse escalar”, diz o empreendedor.

A primeira unidade foi aberta em Belém com investimento inicial de 35 mil reais. A ideia inicial era operar um único ponto, mas logo ele percebeu o potencial de escala, desde que fosse possível eliminar a necessidade de gestão presencial.

Depois de anos de testes, erros e refinamentos, nasceu um sistema que identifica e classifica os serviços realizados por meio de imagens e as organiza em relatórios automatizados.

A operação remota como diferencial

Hoje, a BR opera sem recepcionistas, sem gerente e com barbearias de 40 metros quadrados e até sete profissionais, organizados via WhatsApp pelo franqueado. Todos os dados das unidades são processados em tempo real por um sistema proprietário. O franqueado sabe quantos serviços foram feitos, por quem e em qual estação. Tudo via aplicativo.

“A gente entrega liberdade e controle, sem depender de gerente. O franqueado pode continuar no seu trabalho principal, e a barbearia vira a principal fonte de receita dele”, afirma Priante.

Segundo ele, o modelo permite que o franqueado lucre entre 7 mil e 20 mil reais mensais, trabalhando apenas três a quatro horas por semana, com investimento inicial a partir de 120 mil reais.

Tecnologia própria até no caixa

A BR Barbearia também criou seu próprio software financeiro. O sistema identifica o barbeiro via código pessoal, registra todos os pagamentos por estação de trabalho e cruza os dados com a maquininha de cartão. Isso permite um fechamento de caixa totalmente automatizado e sem papel.

“Nossos barbeiros ganham por produtividade. Funciona como o modelo de motorista de aplicativo: eles querem faturar, então entregam. O franqueado tem transparência total dos dados sem depender de ninguém”, diz.

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Com operação em estados como São Paulo, Rio, Bahia, Pará e Rio Grande do Sul, a BR tem franqueados que chegaram a 1.700 atendimentos por mês.

Além das lojas de rua, a marca está presente em redes como Zaffari, Carrefour, Pão de Açúcar e Formosa. "Já tem mais unidades em Belém do que a Drogasil", diz o fundador.

Os desafios da automação

O maior gargalo, segundo Priante, é a internet. Sem conexão estável, os dados não sobem, e o sistema exige intervenção remota da supervisão técnica que conta com um time enxuto de apenas quatro pessoas que toca toda a franqueadora.

“Investimos muito no que ninguém vê: segurança, contingência, proteção dos dados. Isso é o que garante que a informação chegue ao franqueado de forma confiável”, diz o CEO.

A expectativa é continuar investindo até que o modelo esteja maduro o suficiente para, no futuro, licenciar a tecnologia para terceiros.

“Já me pediram para alugar ou vender o sistema, mas por enquanto prefiro manter sob controle. Quando eu tiver 300 ou 500 franquias e estiver tudo bem estabelecido, aí talvez eu pense nisso”, diz Priante.

“O que eu vendo é simplicidade, liberdade e resultado. E é isso que o franqueado procura: um negócio que funcione sozinho e dê retorno. O resto é detalhe.”

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