Aline Waiser e Mariana Piccolomini, criadoras da Vizzela, empresa de cosméticos veganos e cruelty free.
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Publicado em 28 de novembro de 2025 às 10h00.
Última atualização em 28 de novembro de 2025 às 10h22.
Quando as paulistanas Aline Waiser e Mariana Piccolomini começaram a trabalhar na indústria de cosméticos da família, ainda na adolescência, não imaginavam que aquele cotidiano – dividido entre produção, desenvolvimento e atendimento – seria o primeiro passo para construir um negócio próprio. Depois de 15 anos acumulando experiência em todas as etapas da cadeia, decidiram criar a Vizzela, voltada a cosméticos veganos e cruelty free. Inicialmente, a ideia era ser um cliente
da operação familiar, mas o projeto ganhou tração rapidamente e acabou transformando a fábrica de terceirização em uma marca que hoje reúne cerca de 300 produtos e está presente em 14 mil pontos de venda pelo país, incluindo Soneda, Mundo do Cabeleireiro e Ikesaki.
Como parte da expansão, os três primeiros quiosques em shoppings foram inaugurados recentemente e os próximos passos incluem chegar às grandes varejistas, como a Renner, e abrir uma unidade própria em Mogi das Cruzes (SP), prevista para dezembro. O crescimento foi acompanhado por iniciativas que levaram a empresa para além das gôndolas. Este ano, tornou-se patrocinadora do time feminino do Corinthians e da Confederação Brasileira de Cheerleading. O principal torneio da modalidade no país agora se chama Campeonato Brasileiro Vizzela e será realizado dia 29 de novembro, em Lagoa Santa (MG).
“Empreender era um sonho antigo. Sempre levávamos ideias para os clientes, mas nem todas eram aprovadas. Quando decidimos ter nosso negócio, colocamos em prática muitos projetos que ficaram guardados”, diz Aline.
Já que a Vizzela nasceu dentro de uma fábrica, grande parte da estrutura estava em funcionamento, o que permitiu que as fundadoras direcionassem energia para a definição da identidade da companhia, do portfólio e do posicionamento e estratégia de comunicação. Criada com a proposta de promover beleza com inclusão, leveza e autenticidade, a aposta foi romper com o visual tradicional do setor e lançar embalagens coloridas e bem-humoradas. O panda que ilustra as máscaras de cílios e a linha kids, composta por sombra, gloss, batom e body splash, por exemplo, acabou virando um símbolo da marca.
Outro ponto fundamental foi a escolha pela produção nacional, vegana e cruelty free, sem testes em animais em nenhuma fase. O movimento acompanha uma tendência global. Segundo dados da Mordor Intelligence, o mercado de cosméticos veganos, avaliado em US$ 5,04 bilhões em 2025, deve chegar a US$ 9,87 bilhões até 2030, com uma taxa de crescimento anual composta de 14,36%. O avanço reflete o interesse crescente dos consumidores por produtos naturais, livres de químicos e alinhados à sustentabilidade ambiental.
O início, porém, foi marcado por alguns desafios. “Entrar em lojistas é difícil. As companhias disputam centímetros nas prateleiras e, a cada dia, surgem mais empresas no segmento”, afirma Aline. Para ganhar visibilidade, a decisão foi começar no digital, com o envio de um press kit de acrílico com todas as cores de bases e corretivos para influenciadores. A estratégia surtiu efeitos e ampliou o alcance da Vizzela.
Seis meses depois do lançamento, a pandemia de covid-19 interrompeu as negociações com o varejo físico. As primas mantiveram o cronograma de lançamentos e estruturaram o e-commerce, com apoio de uma agência. “Nessa época, lançamos um delineador colorido que nenhuma F brasileira tinha no portfólio. Foi um sucesso e conquistamos muitos consumidores. Quando a situação se normalizou, as lojas começaram a nos procurar.”
O sucesso da Vizzela é resultado da união de consistência nas ações; colaboração e integração entre os setores; inovação para se antecipar às tendências; complementaridade entre as sócias; e compromisso com a qualidade. “Estou sempre acompanhando o trabalho da fábrica e sei o que tem em cada fórmula. Até hoje desenvolvo os produtos”, conta Aline, que é formada em Química e Cosmetologia, com MBA em Gestão de Projetos. Já Mariana é graduada em Processos Industriais.
A estratégia de comunicação tem sido um dos eixos de aceleração da Vizzela, que mantém parcerias fixas com 35 influenciadores, além de squads montados conforme o mês, a campanha ou o produto. O envio de press kits guiados por storytelling reforça esse contato com os consumidores e as próprias fundadoras aparecem nas redes sociais dividindo spoilers e rotinas. Há, ainda, o “Aline Explica” para responder perguntas e tirar dúvidas sobre fórmulas, benefícios e aplicações dos produtos.
Outro alicerce é o apoio contínuo à causa animal, pauta já presente no legado industrial da família. Hoje, o compromisso se traduz nas linhas Dog Lovers e Cat Lovers, que destinam parte do valor das vendas a ONGs parceiras. Mensalmente, organizações são selecionadas para receber o repasse. Há, ainda, um evento anual de arrecadação de ração. Na edição mais recente, 17 toneladas foram doadas.
No campo pessoal, Aline reconhece os desafios de manter uma vida equilibrada. “Nós, mulheres, acumulamos muitos papéis e, por muito tempo, busquei esse equilíbrio. Com o tempo, percebi que é impossível e o que temos de fazer é ‘equalizar’, como se fosse um som. Se todos os volumes estiverem no máximo, nada funciona. Assim, em alguns períodos preciso aumentar o da maternidade e reduzir o do trabalho. Em outros, o inverso.”