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Quem é a russa que quer vender mais barato que o atacarejo no Brasil

Rede russa quer trazer ao país um modelo de supermercado praticamente inédito por aqui: o ultra-hard-discount, com foco extremo na economia

Rede Mere: na Europa, grupo funciona sob a bandeira Mere  (Mere/Divulgação)

Rede Mere: na Europa, grupo funciona sob a bandeira Mere (Mere/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 24 de outubro de 2025 às 15h06.

Enquanto os atacarejos apostam em mais serviços e espaços amplos para atrair clientes, uma concorrente russa chega ao Brasil com uma proposta radicalmente oposta: lojas compactas, sem padaria, sem açougue, e com produtos empilhados nos próprios pallets — tudo para vender mais barato.

A russa Svetofor, que vai operar no Brasil com a bandeira Vantajoso, quer trazer ao país um modelo de supermercado praticamente inédito por aqui: o ultra-hard-discount, com foco extremo na economia.

A ideia é simples: cortar tudo o que não for essencial, das marcas conhecidas às embalagens elaboradas, e competir direto no bolso do consumidor.

O grupo quer abrir 9 lojas ainda em 2025 e chegar a 50 unidades nos próximos três anos, focando em periferias de grandes cidades nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Segundo matéria do jornal Estado de São Paulo, a primeira loja deve abrir em Americana ainda neste ano.

Ao veículo, a russa Karina Storozhenko, executiva responsável pela implantação da rede no Brasil, falou que o plano é ter uma rede reconhecida por preços constantemente baixos.

Como é a operação fora do Brasil

Com mais de 4.000 unidades espalhadas pela Europa e Ásia sob a bandeira Mere, o Svetofor estreia por aqui apostando em uma mudança de comportamento: um público cada vez mais sensível a preço, que aceita trocar conveniência por economia.

No radar, consumidores das classes B, C e D, que não necessariamente buscam marcas conhecidas — mas querem pagar menos por produtos de qualidade razoável.

Fundado em 2009, na Sibéria, o Svetofor cresceu rápido com uma lógica radical: cortar todos os custos possíveis.

Os produtos são expostos em pallets, direto da caixa de transporte. Não há padaria, açougue, nem funcionários para ajudar na escolha.

Os preços são fixados com margens mínimas e a variedade é reduzida: entre 1.200 e 2.000 itens, sendo 80% alimentos.

A empresa compra direto dos fabricantes, evita intermediários, e praticamente não investe em marketing. É uma lógica de volume e repetição, semelhante à de redes como Aldi e Lidl — mas em uma versão ainda mais extrema.

Momento de inflexão no atacarejo

Segundo especialistas, o timing faz sentido.

Depois de um ciclo de expansão, os atacarejos começaram a se sofisticar. Padarias foram adicionadas, serviços aumentaram — e os custos subiram junto. A diferença de preço em relação aos supermercados tradicionais diminuiu.

Isso abriu espaço para o ultra-hard-discount.

Não à toa, o modelo já conquistou países com alta ou baixa renda, como Polônia, Turquia, Colômbia e Alemanha.

Por aqui, o modelo ultra-hard-discount já foi tentado antes — e fracassou. O Grupo Pão de Açúcar testou o Minibox nos anos 1980. Nos anos 2000, o Bank of America apostou na rede Econ. Nenhuma das iniciativas vingou.

A grande dúvida é se, desta vez, o consumidor brasileiro está pronto para um corte ainda mais profundo na experiência de compra. Afinal, os próprios atacarejos evoluíram nos últimos anos justamente para agregar conforto e serviços.

A entrada do Svetofor também marca a primeira investida de capital russo no varejo alimentar brasileiro, um setor ainda dominado por empresas nacionais.

Se conseguir, pode criar uma nova categoria no varejo brasileiro. Se não, pode repetir os tropeços do passado.

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