Felipe Criniti, CEO do Rappi: “Com a taxa zero, pedimos como contrapartida o melhor preço de cardápio" (Rappi/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 5 de maio de 2025 às 10h58.
Última atualização em 5 de maio de 2025 às 13h02.
Com o iFood dominando o setor de delivery para restaurantes, o mercado brasileiro parecia ter pouco espaço para concorrentes. Grandes marcas deixaram de operar no país nos últimos anos — e, até aqui, o Rappi seguia com presença tímida. Agora, o aplicativo colombiano promete virar o jogo. A empresa vai zerar as taxas cobradas de restaurantes e investir 1,4 bilhão de reais no Brasil nos próximos três anos.
O anúncio foi feito nesta segunda-feira, 6, em coletiva organizada pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel). O foco é o modelo chamado full service, no qual o Rappi assume toda a cadeia logística: intermediação, pagamento e entrega com motoristas próprios. Nesse formato, o restaurante só paga a taxa do cartão — o mesmo que pagaria em uma venda no salão. A previsão é que todos os restaurantes da plataforma operem com taxa zero a partir de 31 de julho.
“Não se trata apenas de isentar uma tarifa, mas de repensar o modelo de forma transparente. Queremos ser protagonistas na construção de um delivery mais eficiente para todos os envolvidos nesse ecossistema”, afirma Felipe Criniti, CEO da Rappi no Brasil.
A isenção das taxas terá validade de três anos. A meta é transformar a vertical de restaurantes em porta de entrada para os demais serviços do aplicativo. Hoje, apenas 20% das transações no Rappi vêm de restaurantes. A expectativa é passar de 30 mil para 100 mil restaurantes ativos na plataforma. “Se o usuário entra pela comida, a gente mostra tudo que mais pode oferecer”, diz.
Outro ponto que a Rappi negocia com os parceiros é o preço final ao consumidor. “Com a taxa zero, pedimos como contrapartida o melhor preço de cardápio. Então, na prática, o Rappi será mais barata que os concorrentes”, afirma Criniti.
Além do benefício aos restaurantes, o Rappi também promete um novo pacote de vantagens para entregadores, ainda a ser detalhado. A empresa diz que o modelo multivertical permite que um mesmo entregador atue em diferentes categorias, maximizando ganhos.
A nova ofensiva do Rappi ocorre num momento de aquecimento do setor. A 99 relançou sua plataforma 99Food, com taxa zero apenas no modelo marketplace, em que o restaurante precisa contratar um entregador por conta própria. O iFood, que realiza cerca de 120 milhões de pedidos por mês, ainda opera com taxas entre 25% e 35%.
“Tem player voltando, outros chegando. Nós nunca saímos. Fomos os únicos resilientes nos últimos anos”, afirma Criniti.
A Rappi só consegue abrir mão das taxas porque a vertical de restaurantes não é sua principal frente de negócio no Brasil. Ao contrário do iFood, cuja receita depende majoritariamente de pedidos de comida, o Rappi atua como um aplicativo com forte presença em entregas de supermercado, farmácia, petshop, lojas de shopping e no serviço ultrarrápido Turbo.
Hoje, essas verticais representam 80% do faturamento da operação brasileira — e é sobre elas que se sustenta o modelo mais agressivo para os restaurantes.A medida também se conecta com o movimento do Cade, que em 2023 proibiu contratos de exclusividade com grandes redes — definidas como aquelas com 30 ou mais restaurantes — criando brechas para maior concorrência. O Rappi quer ocupar esse vácuo em 300 cidades (hoje atua em 50 cidades).
Do total de 1,4 bilhão de reais que serão investidos até 2028, 40% será direcionado à vertical de restaurantes, 22% ao serviço de entregas ultrarrápidas Turbo, e o restante a marketing e operação.
“A gente não está fazendo isso por impulso. Desde novembro do ano passado, estamos costurando essa estratégia com a Abrasel e com os próprios restaurantes”, afirma o executivo.
A estratégia do Rappi é atrair o usuário pela comida — e depois convertê-lo para outras categorias. Segundo Criniti, 32% dos clientes que entram pela vertical de restaurantes fazem compras em outros setores do app. “Nosso diferencial é ser um super app. Os outros vêm com uma vertical só. A gente já é multi", conclui.