Marcos Heitor Cardoso (CEO), Anderson Rocha (CFO), Cesar Argentieri (diretor de projetos), Paulino Almeida (diretor comercial), da Reaqt: empresa dá primeira entrevista para a imprensa
Repórter
Publicado em 20 de maio de 2025 às 06h20.
“Estamos presos a um mito de que água é um recurso infinito. Não é. E dá para ser lucrativo, sustentável e inovador ao mesmo tempo.” A frase de Marcos Heitor Cardoso, CEO e cofundador da Reaqt, resume o desafio — e a oportunidade — que sua empresa abraça desde 2013. Em um país com a maior reserva de água doce do planeta, mas que convive com crises e desperdício, a empresa tem redesenhado o ciclo hídrico de grandes indústrias e operações urbanas.
São mais de 10 bilhões de litros de água já tratados e uma economia de até 40% nas contas de clientes como Suzano e Heineken. Desde 2021, com aportes que somam R$ 101,5 milhões de um grupo confidencial de investidores, a empresa acelerou seu crescimento, esperando faturar R$ 45 milhões em 2025 — mais que dobrando o resultado ano a ano.
Fundada em 2013 sob o nome Aquafix, a Reaqt tem sede na Vila Madalena, São Paulo, e reúne uma equipe enxuta de cerca de 40 funcionários. A empresa é composta por quatro sócios — três engenheiros fundadores e um investidor que entrou posteriormente. Até 2021, o investimento era majoritariamente próprio e familiar, o que limitava o ritmo de crescimento, mas garantiu controle e foco em inovação.
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O diferencial da Reaqt está na combinação entre engenharia proprietária, inteligência de dados e design sob medida de processos de reuso, que criam tecnologia adaptada à complexidade dos efluentes industriais brasileiros. Cardoso conta que a empresa funciona quase como uma concessionária da água reaproveitada: “Eu invisto, implanto, opero e vendo a água tratada para o cliente, como se fosse um pedágio. Ele paga pelo uso, não precisa investir e não se preocupa com a operação.”
Curiosamente, apesar desse impacto financeiro e ambiental, a Reaqt nunca havia falado com a imprensa — até esta entrevista. “Dizem que empresa de engenharia é ruim de marketing”, brinca Cardoso.
A empresa começou resolvendo problemas em estações de tratamento de shoppings, como o Shopping Manauara, em Manaus, onde enfrentou desafios técnicos que ninguém conseguia solucionar. Com a experiência, a Reaqt evoluiu para projetos de maior escala, focando nos setores que mais consomem água no Brasil: papel e celulose, química, alimentos, bebidas, óleo e gás e portos e marinas. Esses segmentos concentram grande parte da demanda hídrica e são cruciais para a indústria nacional.
Além de parcerias tecnológicas com empresas israelenses — que são referência global em reuso e gestão hídrica — a Reaqt investiu na criação de soluções próprias para driblar os custos elevados e a complexidade do saneamento industrial brasileiro. “A água para a indústria tem toda a tabela periódica dentro, então não é só tratar água, é tratar um problema químico”, explica Cardoso. Essa especificidade exige um modelo altamente customizado, que a empresa descreve como a “alfaiataria” do tratamento, para garantir eficiência e viabilidade econômica.
Durante a pandemia de covid-19, a Reaqt enfrentou a retração natural do setor de shoppings, que representava boa parte do seu portfólio. Ainda assim, a empresa manteve todos os contratos em vigor e preservou a equipe, graças a cláusulas contratuais rigorosas e à confiança dos clientes na economia gerada pelos projetos. “Ninguém foi demitido, ninguém teve redução salarial”, diz o CEO.
Hoje, a Reaqt está em fase avançada de negociações para expandir sua atuação internacionalmente, com foco especial em países asiáticos que enfrentam desafios hídricos semelhantes aos do Brasil. Paralelamente, a empresa se prepara para projetos de alta tecnologia, como o tratamento de água para a produção de hidrogênio verde — uma das fronteiras ambientais e industriais do momento. Essa água exige pureza extrema, o que representa um desafio técnico para a Reaqt mostrar sua capacidade inovadora.
“Estamos só no começo”, afirma Cardoso. “O Brasil tem muito espaço para crescer, mas precisa romper barreiras culturais e regulatórias. O setor de água é um negócio gigantesco e estratégico para o futuro — quem entender isso vai estar na frente.”