Negócios

Roraimense fatura R$ 70 mil ao ano com produtos artesanais da Amazônia

À frente da Daval Alimentos Amazônicos, Valdeniza Bezerra pretende levar a empresa para outras países; construção de laboratório e cozinha industrial estão nos planos

Valdeniza Pereira Bezerra, fundadora da Daval Alimentos Amazônicos: "Quero que a empresa cresça de forma orgânica, sustentável, valorizando nossa cultura e beneficiando os pequenos produtores da Amazônia. A meta é levar nossos sabores para todo o Brasil e para o mundo” (Sebrae/Divulgação)

Valdeniza Pereira Bezerra, fundadora da Daval Alimentos Amazônicos: "Quero que a empresa cresça de forma orgânica, sustentável, valorizando nossa cultura e beneficiando os pequenos produtores da Amazônia. A meta é levar nossos sabores para todo o Brasil e para o mundo” (Sebrae/Divulgação)

Caroline Marino
Caroline Marino

Jornalista especializada em carreira, RH e negócios

Publicado em 23 de janeiro de 2025 às 17h25.

Última atualização em 23 de janeiro de 2025 às 17h26.

Foi na cozinha de casa, em Boa Vista (RR), que Valdeniza Pereira Bezerra criou sua primeira empresa, a Daval Alimentos Amazônicos. Durante a pandemia, ela precisou se reinventar e recorreu à uma paixão da família: a culinária com ingredientes típicos da região Norte. Atualmente, fatura mais de R$ 70 mil por ano com a venda de molhos de pimenta, doces, geleias e temperos e pretende expandir a operação com a construção de uma cozinha industrial em 2025.

A história de Valdeniza esbarra na de outras muitas mulheres brasileiras. Mãe de três filhas, sendo duas adotadas, ela precisava aumentar a renda e ter mais tempo de qualidade com a família. Como já gostava de cozinhar, uniu o dom com a oportunidade de ganhar mais do que os três salários mínimos que recebia mensalmente dando aula de Português como Língua de Acolhimento (PLAC) na Associação Voluntários para o Serviço Internacional Brasil (AVSI), uma ONG no Estado de Roraima que atua nas questões migratórias, sobretudo venezuelana e haitiana. “O empreendedorismo ganhou força pela minha vontade de levar os sabores da Amazônia para o mundo”, diz.

A empresária ainda é a maior responsável pela produção dos alimentos, em um espaço de 16 metros quadrados na cozinha de sua casa, e terceiriza a operação administrativa da companhia, que se enquadra no regime MEI. O foco da Daval está na produção artesanal de alimentos com insumos típicos da região amazônica, como tucumã, buriti e pupunha. “O diferencial está na valorização de fontes orgânicas, culturais e de conhecimentos tradicionais”, afirma. Segundo ela, o trabalho tem baixo impacto poluidor e contribui para o fomento de toda uma cadeia produtiva voltada à sustentabilidade, em conjunto com pequenos atores da agricultura familiar.

“Antes de tudo é preciso fazer, não importa se vai sair certo de primeira”

Para Valdeniza, que já trabalhou como diarista e morou dez anos fora do país, na Bélgica, os desafios fazem parte do cotidiano. “No começo, os maiores problemas foram a falta de conhecimento sobre empreendedorismo e a autoaceitação de uma mulher negra e periférica como empresária”, diz. Participar de várias capacitações e programas do Sebrae, como Inova Amazônia e Sebrae Delas, a ajudou na superação dessas questões, e foi fundamental para estruturar o negócio e criar oportunidades de networking para estabelecer parcerias e explorar novos mercados.

No entanto, mesmo com apoio, ela não esconde as dificuldades. “Desistir é, muitas vezes, a atitude mais fácil e confortável. Nos primeiros meses, as vendas eram baixas e parecia impossível seguir. Por isso, o apoio de pessoas que acreditaram em mim foi fundamental. Percebi que podia inspirar outras mulheres a vencerem seus próprios desafios”, conta. A empresária também recorreu a leitura como aliada. “Hoje leio mais do que na graduação. Um dos meus livros preferidos é ‘O Monge e o Executivo’ em que Simeão, um dos personagens, diz que antes de tudo é preciso fazer, não importa se vai sair certo de primeira”, diz.

Atualmente, a Daval vende em média 400 unidades de produtos mensalmente e está construindo um laboratório, com cozinha industrial, para ampliar a produção e pesquisar novos insumos. O espaço deve ficar pronto no segundo semestre de 2025 e a empreendedora pretende contratar funcionários para ampliar o negócio.

Além disso, os planos incluem a certificação dos produtos para ampliar a comercialização regional e pensar no cenário internacional. “Para isso, vamos aumentar a presença digital e alcançar novas praças”, diz. A empresa vende, hoje, para restaurantes, lanchonetes e cafés da região de Boa Vista, e parte dos produtos é comercializada, ainda de forma tímida, em supermercados, espaços voltados ao turismo, galerias, lojas de materiais de construção e feiras de rua e de negócios, como as promovidas pelo Sebrae e Agência Municipal de Empreendedorismo e Fomento da Prefeitura Municipal de Boa Vista (AME).

Os desafios para expandir sendo MEI

Valeniza ressalta que a questão do crédito ainda é o maior obstáculo para crescer. “Encontrar opções viáveis para MEI e garantir aprovação ainda é muito difícil. As taxas e prazos dos bancos tradicionais são impensáveis. Por isso, até o momento, tenho buscado alternativas economicamente seguras e que me ajudem a superar essas barreiras, ao mesmo tempo que continuo expandindo o negócio, com medidas como o controle rígido do fluxo de caixa e a execução pessoal de processos Daval”, diz.

Ainda assim, a empresária diz que se pauta por objetivos e não por desafios. “Meu grande sonho é ver a Daval como uma referência nacional e internacional em alimentos amazônicos. Quero que a empresa cresça de forma orgânica, sustentável, valorizando nossa cultura e beneficiando os pequenos produtores da Amazônia. A meta é levar nossos sabores para todo o Brasil e para o mundo”, finaliza.

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