Negócios

Sadia-Perdigão pode virar mais um caso como da Nestlé e Garoto

Segundo advogados consultados por EXAME.com, dificilmente veto do Cade à fusão não vai virar batalha jurídica

Brasil Foods: fusão entre Sadia e Perdigão deve parar na Justiça (EXAME.com)

Brasil Foods: fusão entre Sadia e Perdigão deve parar na Justiça (EXAME.com)

Daniela Barbosa

Daniela Barbosa

Publicado em 9 de junho de 2011 às 06h00.

São Paulo – O mercado terá que esperar pelo menos mais uma semana para conhecer o desfecho da união entre as marcas Sadia e Perdigão, que deu origem à Brasil Foods. O casamento, que começou a ser desenhado mais de dois anos atrás, viveu, nesta quarta-feira (8/6), sua primeira grande crise e pode ser desfeito, se os demais conselheiros do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) acompanharem o veto ao negócio dado pelo relator do caso, Carlos Ragazzo. 

Segundo a maioria dos advogados especializados em fusões e aquisições consultados por EXAME.com, dificilmente a fusão das duas companhias terá um final feliz e o mais provável é que o caso vá parar na Justiça, assim como aconteceu há seis anos com as marcas Nestlé e Garoto, que tiveram também a fusão reprovada pelo Cade.

De acordo com o advogado José Antônio Batista de Moura Ziebarth, da Felsberg e Associados, a decisão de Ragazzo deve ser mantida pelo outros conselheiros que participam do processo. “O próximo passo, então, será a manifestação judiciária por parte da Brasil Foods e garantida pela Constituição”, disse. “Trata-se, no entanto, de um processo moroso, como é o caso da Nestlé e Garoto”,  afirmou Ziebarth.

Para ele, as contestações apresentadas por Ragazzo para reprovar a operação foram bem articuladas e sustentam a decisão do relator do Cade.  “Foi um voto de muita qualidade e com fundamentação”, disse o advogado.

A advogada Juliana Domingues, coordenadora do departamento de antitruste do escritório LO Baptista Advogados, também divide a mesma linha de pensamento que Ziebarth, e acredita que é improvável que o voto do relator do Cade seja revertido pelos seus colegas de Cade. “Ragazzo apresentou um estudo bem estruturado do caso, fundamentado em pesquisas de mercado”, disse Juliana.

O problema, no entanto, segundo os advogados, é que o judiciário não tem conhecimentos profundos do caso, o que acaba devolvendo a decisão novamente ao Cade. Recentemente, a Justiça determinou que o Cade faça uma nova avaliação do caso Nestlé e Garoto. “Trata-se de sentenças específicas e nenhum juiz é totalmente especializado em ações antitrustes, por isso o processo acaba ficando muito longo”, afirmou Juliana.


Contrário à opinião dos outros dois advogados, Ricardo Inglez de Souza, responsável pela área de direito concorrencial, comércio internacional e consumidor do escritório Dias Carneiro, afirmou que a decisão de Ragazzo pode ser revertida pelos demais conselheiros do Cade e a fusão tem chances de ser aprovada com algumas restrições.

“A decisão do Cade foi radical e deixou de levar em considerações diversos pontos. Ragazzo se esqueceu de mencionar que a Sadia estava quebrada quando a Perdigão fez a capitalização. Além da importância da Brasil Foods na balança comercial do país”, disse Souza.

Segundo ele, o Cade já deveria ter aprendido com o caso Nestlé e Garoto. “Decisões como essa prejudicam o Cade e a advocacia da concorrência, pois sempre vai parar na Justiça, o que faz com que a credibilidade do Conselho seja diminuída”, afirmou Souza. A criação de uma das maiores companhias de alimentos industrializados do país é indigesta para o livre mercado, segundo Ragazzo – resta saber se os demais conselheiros concordarão.

Acompanhe tudo sobre:AlimentaçãoAlimentos processadosBRFCadeCarnes e derivadosEmpresasEmpresas abertasEmpresas brasileirasPerdigãoSadia

Mais de Negócios

Até mês passado, iFood tinha 800 restaurantes vendendo morango do amor. Hoje, são 10 mil

Como vai ser maior arena de shows do Brasil em Porto Alegre; veja imagens

O CEO que passeia com os cachorros, faz seu próprio café e fundou rede de US$ 36 bilhões

Lembra dele? O que aconteceu com o Mirabel, o biscoito clássico dos lanches escolares