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St Marche recebe "ok" da Justiça para sair da crise — e já levantou R$ 90 milhões

Desde apresentação da recuperação extrajudicial, rede captou R$ 90 milhões por meio de um DIP financing, tipo de financiamento estruturado para empresas em dificuldade financeira

Rede brasileira de supermercados Grupo St. Marche está trabalhando com assessores para tentar reestruturar sua dívida (Divulgação)

Rede brasileira de supermercados Grupo St. Marche está trabalhando com assessores para tentar reestruturar sua dívida (Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 13 de outubro de 2025 às 18h01.

Com dívidas de 528 milhões de reais, o Grupo St Marche teve seu plano de recuperação extrajudicial homologado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo.

O sinal verde da Justiça, confirmado na última sexta-feira, 10, encerra uma negociação iniciada há menos de seis meses e marca o início de uma nova etapa para a rede paulista de supermercados, conhecida por atuar no segmento premium.

A empresa chegou ao processo com uma dívida de 528 milhões de reais. Desde então, captou 90 milhões de reais por meio de um DIP financing, tipo de financiamento estruturado para empresas em dificuldade financeira.

Parte dos recursos foi usada para normalizar pagamentos e recompor estoques.

“Protocolamos a RE em abril e a homologação veio em pouco tempo, se compararmos com os padrões de mercado. Isso mostra a confiança da cadeia produtiva no plano e na reputação que construímos em 23 anos”, diz Bernardo Ouro Preto, CEO do Grupo St Marche.

Com a operação estabilizada, a meta agora é recuperar margens e reconquistar o cliente, em um ambiente de consumo mais seletivo e de custos ainda elevados. A empresa aposta em novos produtos, reformulação de sortimento e ativações promocionais no último trimestre do ano.

O que causou a crise

A raiz do problema remonta ao período pós-pandemia.

Em 2021, o St Marche tinha 21 lojas e faturava 700 milhões de reais. Com juro baixo e consumo aquecido, o grupo decidiu acelerar o plano de expansão. Três anos depois, chegou a 32 lojas e um faturamento de 1,3 bilhão de reais.

Só que, nesse intervalo, os juros saíram das mínimas históricas de 2% e saltaram para os atuais 15%.

Esse descompasso entre crescimento e custo financeiro acabou pressionando o caixa.

Como o plano foi estruturado

O pedido de recuperação extrajudicial foi protocolado em abril, mas as negociações com credores começaram ainda em fevereiro.

A estrutura do acordo envolveu principalmente a dívida financeira (528 milhões de reais), sendo 275 milhões concentrados num fundo do banco BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME), que se tornou peça-chave no processo.

O plano prevê o alongamento dos pagamentos por até 30 anos, com correção pelo CDI e TR. Em paralelo, o grupo captou 90 milhões de reais por meio de um DIP, liderado pelo BTG e pelo fundo americano L Catterton, que desde 2016 era o controlador do grupo.

A segunda parcela do aporte — que só seria liberada após a homologação — foi antecipada em setembro, antes da aprovação oficial do plano.

Parte dos recursos foi usada para estabilizar a operação e recompor estoques. O índice de ruptura caiu para 10%, abaixo da média do setor, que foi de 13,1% em agosto, segundo dados da Neogrid.

Próximos passos

Com a fase jurídica encerrada, o foco agora está no consumidor.

A rede lançou 200 novos produtos de marca própria, abriu 200 novas vagas nas lojas e colocou no ar uma campanha promocional com o mote “A gente quer te ver sempre”, mirando recorrência e aumento do tíquete médio.

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