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Startup brasileira que evita colisões no espaço recebe primeiro aporte

Startup desenvolveu um sistema de previsão de risco que orienta manobras preventivas para operadores de satélites

Luis Fellipe Alves de Oliveira, da Safe On Orbit: “A chegada do capital de risco marca uma virada de chave para todo o ecossistema" (Safe on Orbit/Divulgação)

Luis Fellipe Alves de Oliveira, da Safe On Orbit: “A chegada do capital de risco marca uma virada de chave para todo o ecossistema" (Safe on Orbit/Divulgação)

Publicado em 11 de novembro de 2025 às 10h30.

O espaço virou território de colisões em potencial.

Em 2025, há mais de 10.000 satélites ativos em órbita — e a expectativa é que esse número triplique até 2030. Com isso, a chance de impacto entre satélites ou com detritos espaciais também cresce, gerando riscos operacionais bilionários.

É nesse cenário que surge a Safe On Orbit, uma deep tech brasileira criada para monitorar o tráfego espacial e evitar colisões em órbita.

A startup desenvolveu um sistema de previsão de risco que orienta manobras preventivas para operadores de satélites.

E agora entra em nova fase: a startup acaba de receber o primeiro investimento de venture capital brasileiro em uma startup do setor aeroespacial.

O aporte foi feito pela Bossa Invest, maior gestora de venture capital da América Latina.

Segundo a empresa, o valor de investimento gira em torno de 1 milhão de reais. "Mais importante que o valor é o simbolismo: mostramos que com pouco capital já é possível girar esse setor e criar soluções reais", afirma Farley Ramos, analista sênior da gestora.

Como a startup foi criada

Por trás dessa startup espacial está o engenheiro aeroespacial Luis Fellipe Alves de Oliveira.

Formado pela Universidade de Brasília, trabalhou em áreas administrativas e financeiras antes de entrar no universo de empresas espaciais. Se interessou pelo assunto sendo estagiário da Agência Espacial Brasileira (AEN).

Foi por ali que entendeu um gargalo técnico cada vez mais urgente: a imprevisibilidade em ambientes orbitais.

A tecnologia principal é o COSMOS, sigla para Collision Safety Management Orbital System, um sistema próprio que calcula risco de impacto com até cinco dias de antecedência.

A startup também é a primeira da América do Sul a se tornar membro da International Astronautical Federation (IAF), a maior entidade global de cooperação espacial.

Como a startup quer transformar o espaço

A Safe On Orbit atua em uma frente chamada Space Situational Awareness, ou consciência situacional espacial — área estratégica para segurança e sustentabilidade orbital.

O sistema COSMOS cruza dados atualizados de milhares de objetos em órbita e emite alertas automáticos para operadores de satélites. A meta é reduzir o risco de colisões como a que destruiu o Iridium 33 e o Cosmos 2251, que geraram milhares de detritos em alta velocidade.

“O espaço não cresce: ele se congestiona”, afirma Luis Fellipe. “A chegada do capital de risco marca uma virada de chave para todo o ecossistema. Isso acelera a inovação, aproxima ciência e mercado e cria condições para o Brasil desenvolver tecnologias com aplicação global”, diz.

Além do Brasil, a startup já iniciou conversas com governos e empresas em países emergentes.

A ambição é posicionar o país como referência internacional em sustentabilidade orbital, com uma tecnologia que pode ser embarcada em missões comerciais e públicas.

O crescimento da Safe On Orbit ocorre em paralelo à expansão do setor espacial no país.

Em 2024, o orçamento público para o setor foi de cerca de 170 milhões de reais — enquanto a demanda privada por serviços espaciais já passa de 800 milhões de reais por ano, puxada por áreas como sensoriamento remoto, defesa e telecomunicações.

Por que a Bossa Invest apostou em uma startup espacial

Para a Bossa Invest, o investimento representa mais do que diversificação. É uma estratégia clara de ocupação de setores de fronteira, com alto grau técnico e poucas chances de replicação.

“A gente procura investir em negócios com propriedade intelectual forte, difíceis de copiar e com alta barreira técnica”, afirma Farley Ramos. “O setor aeroespacial exige conhecimento específico, tem ciclo de vida longo e risco de troca alto. Isso cria um cenário favorável para soluções sólidas, como a da Safe On Orbit”.

A entrada da gestora marca também um movimento fora do padrão do mercado brasileiro.

“A maioria dos fundos do Brasil não quer correr risco de mercado. A gente pode correr esse risco porque temos uma lógica de portfólio mais diversificada”, diz Ramos.

Com mais de 1.700 startups investidas e 5 bilhões de reais em valuation consolidado, a Bossa vê no espaço uma nova vertical de alto valor agregado — e quer apoiar mais iniciativas parecidas.

“Investir nesse segmento é acreditar em tecnologia, autonomia e geração de valor global”, afirma Paulo Tomazela, CEO da gestora.

A aposta acompanha uma tendência internacional: a conexão entre capital privado e soberania tecnológica.

Segundo a Bossa, esse tipo de operação aproxima o Brasil de países que já enxergam o espaço como vetor econômico, e não apenas científico. “O investimento é pequeno, mas o impacto pode ser enorme”, conclui Ramos.

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