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Startup mineira fatura R$ 15 milhões com IA que rastreia doenças

Com um modelo inovador de prevenção e apoio a vítimas de violência doméstica, operadora mineira alcançou mais de 15 mil beneficiários no início deste ano e planeja chegar a 50 mil

Marcela Meneses de Matos e Liliane Freitas, fundadoras da Aurora Saúde.

Marcela Meneses de Matos e Liliane Freitas, fundadoras da Aurora Saúde.

Caroline Marino
Caroline Marino

Jornalista especializada em carreira, RH e negócios

Publicado em 17 de março de 2025 às 17h27.

O mercado global de tecnologias e serviços voltados para a saúde preventiva tem crescido significativamente nos últimos anos, impulsionado pelo aumento da expectativa de vida e pela alta incidência de doenças crônicas. De acordo com a Mordor Intelligence, o setor atingiu um valor estimado de US$ 325,74 bilhões em 2024 e deve chegar a US$ 590,76 bilhões até 2029, com uma taxa de crescimento anual de 12,64%.

É neste cenário que a operadora Aurora Saúde, de Belo Horizonte (MG), tem avançado a passos largos. Fundada em novembro de 2023, usa inteligência artificial para o rastreamento e a prevenção de aproximadamente 24 doenças, como câncer, acidente vascular cerebral, diabetes e as relacionadas a questões mentais, incluindo abuso de substâncias, ansiedade e depressão.

Também conta com um atendimento personalizado e olhar atento à identificação de mulheres que sofrem algum tipo de violência. O negócio, que começou com apenas 188 vidas, alcançou 15.288 beneficiários em fevereiro de 2025 – um crescimento superior a 8.000% –, em mais de 700 companhias. Até o final deste ano, a expectativa é registrar um faturamento de R$ 46 milhões, o triplo dos R$ 15 milhões do ano passado.

À frente da companhia estão as mineiras Marcela Meneses de Matos, formada em Administração, e Liliane Freitas, em Enfermagem. Amigas há mais de 20 anos, elas trabalharam juntas duas vezes, e a decisão de empreender surgiu após a fusão da Hapvida com a NotreDame Intermédica, que alterou significativamente o mercado, especialmente no interior de Minas Gerais. “O modelo de verticalização das grandes operadoras deixou muitas regiões, antes atendidas pelas empresas menores que foram adquiridas, sem cobertura”, explica Marcela. Segundo ela, a Aurora surgiu para preencher essa lacuna e também para oferecer uma assistência voltada ao rastreamento de doenças e medicina preventiva.

Com planos exclusivamente empresariais, está presente atualmente em 32 cidades de Minas Gerais, como BH, Betim, Brumadinho e Montes Claros, além de Ourilândia do Norte, Tucumã e Parauapebas, no Pará. O plano, agora, é consolidar a atuação nos dois Estados e avaliar oportunidades em outras regiões.

Os desafios iniciais e a reinvenção do setor

A principal dificuldade enfrentada pelas fundadoras foi romper com o modelo tradicional de saúde suplementar, focado no tratamento de enfermidades. “A área está estagnada há anos, com pouca inovação e uma gestão assistencial focada no retrovisor. Sempre nos incomodou o fato de que o sistema prioriza a doença”, afirma Marcela. Por isso, o objetivo desde o início foi criar um modelo que realmente cuidasse das pessoas, com uma gestão eficiente para evitar custos com tratamentos de alta complexidade por conta de diagnósticos tardios. 

Para isso, a dupla teve como base os mais de 18 anos de experiência no setor, que possibilitaram uma compreensão profunda das lacunas e necessidades existentes. Mas como faltava, ainda, uma visão mais apurada de inovação, a aposta foi uma imersão no Vale do Silício, região conhecida pela cultura empreendedora e avanços tecnológicos. “Essa experiência nos proporcionou insights valiosos sobre como inovar, com exemplos práticos. Entendemos, por exemplo, que a excelência na área pode ser aperfeiçoada por abordagens de diferentes setores”, diz Liliane. Assim, explica, foi possível desenvolver uma operadora que não apenas atende às necessidades atuais, mas também antecipa e se adapta às demandas futuras.

“A medicina preventiva está no centro da operação, com abordagens disruptivas e escaláveis. Ao integrar tecnologia e práticas responsáveis, garantimos a criação de valor, a sustentabilidade financeira e a expansão contínua dos serviços”, ressalta

Pessoas, inovação e parcerias

Esses foram os principais pilares para a estruturação da Aurora e seu rápido crescimento. A ferramenta que dá base a todo o atendimento é a chamada Jornada de Cuidado, que conta com protocolos de acompanhamento, definição das tratativas médicas, direcionamento para exames e consultas, check-up incentivado, suporte às mulheres e personalização do cuidado para diferentes perfis.

Por meio de inteligência artificial e algoritmos avançados é possível identificar precocemente condições de risco como diabetes, hipertensão, câncer e depressão, personalizando as intervenções e orientações preventivas. Isso não apenas melhora a qualidade do diagnóstico, mas otimiza o cuidado com cada paciente, permitindo um gerenciamento mais eficaz da saúde e redução de custos, que sempre são refletidos no reajuste dos contratos. Com um sistema de incentivos, os clientes que se dedicam a práticas preventivas recebem descontos nas mensalidades, por exemplo.

A metodologia de check-up foi desenvolvida em parceria com a startup Mar Saúde, que conta com uma plataforma automatizada para rastrear doenças graves, e foi responsável pela criação de protocolos médico-científicos usados na triagem de riscos.


“Empreender exige coragem e o medo faz parte, mas cercar-se de pessoas que te apoiam e de um time que compartilha do seu propósito faz toda a diferença para seguir”, diz Liliane.

Compromisso social: acolhimento de mulheres em situação de vulnerabilidade

Como a primeira operadora fundada por mulheres no Brasil, oferece um programa exclusivo de apoio a vítimas de violência doméstica. Além de cobrir atendimentos médicos e psicológicos, criou um protocolo interno para identificar sinais de abuso, com direcionamento a uma rede de apoio. “Ao interagir com o plano, elas têm acesso a ajuda de forma segura e discreta, sem precisar buscar por conta própria – algo que, muitas vezes, é um grande obstáculo para quem vive essa realidade”, explica Marcela. Há, ainda, suporte no pré-natal e pós-parto. “Nossa missão vai além dos planos: buscamos transformar vidas, especialmente de quem sofre violência doméstica. Ao cuidar da saúde física e mental dessas mulheres, ajudamos a construir uma sociedade mais justa e igualitária”, finaliza.

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