Cláudia Rosa no painel Para Além do Capital - A Nova Tese de Valor dos Investidores, no Startup Summit 2025, em Florianópolis: voz para as mulheres investidoras (Marco Cezar/Divulgação)
CEO da Rede Investe e colaboradora da EXAME
Publicado em 15 de setembro de 2025 às 11h25.
Última atualização em 15 de setembro de 2025 às 11h29.
O Startup Summit se transformou num marco para mulheres no empreendedorismo – uma bandeira que carrego desde 2016, quando comecei a investir no ecossistema. Neste ano, mulheres já foram 35% dos participantes do evento (aumento de 5% com relação a 2024) e, no ano que vem, a meta é chegar a 45%, ou seja, chegar perto da proporção de 52% de mulheres para 48% de homens na população brasileira.
O Startup Summit realizado na capital catarinense de 27 a 29 de agosto já é considerado um dos maiores eventos de inovação no país: este ano, nos três dias, teve a circulação de mais de 10 mil pessoas, 22 delegações internacionais, 250 fundos de investimentos e R$350 milhões em intenções de investimentos.
De acordo com a organização do Startup Summit, no Prêmio Sebrae Startups houve 20% de representatividade de mulheres founders & cofounders no TOP1000. E não posso deixar de destacar o Lounge Sebrae Delas, um espaço exclusivo para mulheres empreendedoras, com mentorias e palestras inspiradoras.
É também fruto do trabalho do gerente de Inovação do Sebrae/SC, Alexandre Souza, responsável pelo evento há oito anos, que sempre teve esse olhar por ações inclusivas de mais mulheres. E que, não por acaso, agregou ao seu time a ex-gestora de Projetos do Sebrae, Sabrina da Rocha, que assume a co-organização do Startup Summit.
O ecossistema de startups, conhecido pela inovação e pela quebra de paradigmas, também reflete um dos maiores debates da atualidade: a representatividade feminina. Se por um lado ainda existe uma predominância masculina, por outro, as mulheres vêm conquistando cada vez mais espaço como fundadoras, investidoras e lideranças de destaque.
Segundo levantamentos recentes, apenas cerca de 20% das startups brasileiras são fundadas por mulheres. E na pesquisa da Anjos do Brasil, divulgada no evento, a representatividade de investidoras é 18,5%. Esses números, embora sejam ainda baixos, revelam uma evolução importante em relação a anos anteriores, quando a participação era quase invisível. Além disso, cresce também o número de líderes em hubs de inovação, fundos de investimento e programas de aceleração.
Eventos como o Startup Summit, o Web Summit Rio e programas como o Sebrae Delas têm dado visibilidade à liderança feminina, colocando mulheres no centro das discussões e no palco das principais conferências. Essas iniciativas não apenas aumentam a representatividade, mas também abrem portas para conexões estratégicas, acesso a investidores e maior protagonismo das empreendedoras no ecossistema de inovação.
Das 356 startups cofundadas por mulheres inscritas no prêmio Sebrae Startups, 153 avançaram para as rodadas de investimentos do capital empreendedor - uma taxa de seleção de 43,0%. Entre as 197 startups - incluindo homens e mulheres - que receberam intenções de investimento nas rodadas, 32 empresas têm cofundadoras, representando 16,2% desse universo. Essas 32 concentraram R$ 76,08 milhões, o que equivale a 26,6% do montante total de R$ 286 milhões em intenções; olhando apenas para as 153 mulheres selecionadas, 20,9% receberam intenções.
Apesar dos avanços, ainda existem barreiras estruturais, ambientes de decisão masculinos: muitos conselhos, fundos e comitês ainda são majoritariamente formados por homens. E há estereótipos culturais: a visão de que tecnologia e inovação seriam "territórios masculinos" ainda impacta a confiança de muitas empreendedoras.
A diversidade de gênero não é apenas uma questão de equidade: ela é também um motor de inovação e competitividade. Startups lideradas por mulheres tendem a trazer visões complementares, modelos de negócio mais inclusivos e soluções mais conectadas às necessidades reais da sociedade. No entanto, mesmo diante de avanços, políticas contrárias à promoção da diversidade ainda representam retrocessos.
Um exemplo foi o fim dos programas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) nos Estados Unidos durante o governo Trump, o que gerou debates intensos sobre o impacto dessas iniciativas para o futuro das organizações e da economia.
A trajetória feminina no ecossistema de startups é uma jornada de coragem, superação e liderança. O futuro aponta para um cenário em que as mulheres não estão apenas ocupando espaço, mas liderando a transformação digital, social e econômica do Brasil. A participação feminina nas startups é mais do que uma estatística: é a prova de que quando há diversidade, há mais inovação.
Quando o Startup Summit nasceu, em 2018, sua proposta era ser um dos maiores encontros de inovação e empreendedorismo da América Latina. O que talvez poucos imaginavam é que, em menos de uma década, o evento também se tornaria um marco para a representatividade feminina no ecossistema de startups.
Se no início a participação das mulheres ainda era tímida, os últimos anos mostraram uma evolução consistente e inspiradora. Essa evolução não aconteceu por acaso. Ela é fruto de ações afirmativas, políticas de incentivo e, principalmente, da força das mulheres empreendedoras que vêm transformando o cenário da inovação no Brasil.
O Startup Summit tornou-se um reflexo da mudança que ocorre no ecossistema. O que antes era visto como um espaço majoritariamente masculino, hoje busca ser um ambiente plural, inclusivo e diverso, em que as mulheres não apenas participam, mas lideram discussões, inspiram novas gerações e abrem caminhos.
Mais do que estatísticas, os números revelam uma mudança cultural profunda: as mulheres não estão apenas sendo convidadas a ocupar espaço, mas começam a conquistar protagonismo. Cada vez mais, elas empreendem, investem, lideram equipes e sobem aos palcos das grandes conferências.
E se o passado recente mostrou avanços tão significativos, o que esperar do futuro? A tendência é de que a presença feminina não seja apenas um destaque, mas uma realidade consolidada em todos os níveis do ecossistema — da liderança de startups ao investimento anjo, das aceleradoras às grandes corporações.
O Startup Summit, ao dar visibilidade e voz às mulheres, não apenas promove a equidade de gênero, mas também contribui para um ambiente mais inovador, criativo e competitivo. Afinal, quando mulheres empreendem, toda a sociedade ganha.