As delegações da Equity Group e SME The New Economy no evento Brazil & The World Economy, em Nova York: debates sobre a economia global (Divulgação/Divulgação)
CEO Equity Fund Group e colaborador
Publicado em 20 de maio de 2025 às 17h39.
Última atualização em 20 de maio de 2025 às 17h55.
O segundo mandato de Donald Trump já começou a mostrar um perfil diferente: mais agressivo e direto na execução de sua agenda. Se no primeiro mandato ele ainda buscava apoio técnico para equilibrar suas decisões, agora o filtro é outro — lealdade total.
Seu gabinete é formado por pessoas que endossam publicamente suas políticas, mesmo que, em alguns casos, não concordem integralmente com elas. A prioridade, no entanto, permanece a mesma: segurança nas fronteiras, tarifas e soberania industrial continuam no topo da lista. O que mudou foi a velocidade com que essas pautas vêm sendo implementadas, surpreendendo até mesmo aqueles que já conheciam seu estilo.
As delegações da Equity Group e SME The New Economy participaram esta semana do evento Brazil & The World Economy, promovido pelo BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME), dentro da programação do Brazil Money Week, em Nova York. O chairman do Banco BTG Pactual, André Esteves, e Gary Call, ex-diretor do Conselho Nacional dos Estados Unidos e vice-chairman da IBM, abordaram temas ligados à tecnologia e à nova economia.
Os EUA perceberam o risco de depender excessivamente da China e de cadeias globais para produtos essenciais, como chips e medicamentos. Trump defende que os Estados Unidos devem produzir internamente o que for estratégico — mesmo que isso não inclua itens de baixo valor, como camisetas ou calçados.
A questão, porém, é que o mercado de trabalho americano já está saturado e enfrenta o desafio de preencher milhões de vagas que permanecem abertas. Fechar as portas à imigração, ao mesmo tempo em que se promete recuperar a indústria, parece uma equação de difícil solução.
Outro tema polêmico é o uso de tarifas como ferramenta econômica e política. Apesar das críticas de especialistas, que veem essa estratégia como um retrocesso, Trump insiste que proteger a indústria americana é essencial. O problema é que tarifas podem gerar distorções, elevar preços e afastar aliados comerciais.
A tensão com a China ilustra esse impasse. Apesar de toda a retórica de desacoplamento, os dois países continuam altamente dependentes um do outro. Diversificar a cadeia para países como Vietnã e Indonésia pode parecer estratégico, mas poucos acreditam que a China perderá sua posição dominante tão cedo.
O mercado financeiro também tem respondido de forma distinta. Tradicionalmente, em momentos de incerteza global, o dólar e os títulos do Tesouro americano funcionavam como porto seguro.
Hoje, observa-se um movimento oposto: investidores estão diversificando para ativos europeus e asiáticos, sinalizando uma perda de confiança no ambiente político e fiscal dos Estados Unidos. Ainda assim, o apetite por ações de grandes empresas americanas como Microsoft, Google e Nvidia permanece alto, o que mostra que, apesar das turbulências, os EUA continuam liderando em inovação tecnológica.
A inteligência artificial e o avanço da computação quântica são as próximas fronteiras da disputa entre Estados Unidos e China. Ambos os países investem fortemente para dominar essas tecnologias, que prometem revolucionar setores como saúde e indústria.
O desafio será equilibrar o ganho de produtividade com os impactos sociais, como o desemprego em áreas mais tradicionais. Ainda assim, especialistas acreditam que, assim como em outras revoluções tecnológicas, o saldo final será positivo, com novos mercados, empregos e avanços na qualidade de vida.
Por fim, a transformação do sistema financeiro, com o avanço do crédito privado, foi destacada como uma das grandes mudanças estruturais em curso. A tendência é que cada vez mais investidores tenham acesso a esse mercado, antes restrito aos grandes players.
O crescimento desse setor, impulsionado por uma regulação mais leve fora do sistema bancário tradicional, demonstra como a economia americana continua encontrando formas de se reinventar — mesmo em um ambiente político conturbado.
No fim das contas, o que está em jogo não é apenas a política interna dos Estados Unidos, mas a confiança global em sua capacidade de liderar o crescimento econômico e tecnológico mundial. Os próximos anos revelarão se Trump 2.0 conseguirá equilibrar populismo, proteção econômica e inovação sem comprometer o posto dos EUA como principal destino para o capital internacional.
A pergunta que fica para investidores e países aliados é: ainda vale a pena apostar todas as fichas no modelo americano ou chegou a hora de redistribuir as cartas no jogo global?